Em 1976 Jards Macalé estava envolvido nas finalizações da gravação de seu disco, Constrastes, pela Som Livre. O disco tinha previsão de ser lançado ainda naquele ano, mas seu lançamento só se daria em 1977. No dia 13/09/76 o jornal O Globo trazia uma boa matéria sobre Macalé e a gravação desse disco, na verdade, uma antecipação do que seria o aguardado terceiro disco de um músico que já tinha 11 anos de carreira. Seu trabalho anterior, o excelente Aprender a Nadar, havia sido lançado em 1974, e já era hora de Macalé lançar um novo álbum, trazendo sua musicalidade, ousadia e criatividade, algumas de suas marcas. A matéria, transcrita abaixo, é assinada por Ana Maria Bahiana, e trazia no título: "A alegria total de Macalé: do samba ao reggae, seu novo disco terá de tudo":
"A primeira notícia que circulou foi que Macalé tinha pirado. Não estava se entendendo, diziam. Gravara horas e horas de música e depois mandara apagar tudo. Estava deprimido, sorumbático. Como essa explicação costuma ser muito frequente e muito simples no meio musical, resolvi verificar. 'Que tal uma entrevista, Macau?' 'Ah... agora não. Agora eu nem consigo falar. Estou muito triste'.
Isso foi há uns três meses. Agora Macalé está rindo de orelha a orelha dentro do estúdio (o Zevel, em Botafogo), ansioso para falar, cheio de gestos e ideias. E a tristeza, o que aconteceu?
- Eu estava mesmo muito triste. Foi um problema básico de diferença de ritmos. Você sabe que a Som Livre (sua atual gravadora) vive num esquema industrial. É ritmo de televisão, de superindústria, tudo rapidinho. E meu ritmo é outro. Eu fiz um projeto enorme, cuidadoso, pra um disco. Era um disco cinematográfico, um disco de muitos climas, fundindo mesmo essas duas vivências que são muito fortes em mim, a música e o cinema. Então você imagina realizar isso dentro do ritmo da Som Livre! Eu tentei, mas não dava. Ia tudo de qualquer jeito, eu tive milhares de conversas, de discussões, de explicações... Finalmente, um dia, instalaram uma mesa nova de gravação aqui no estúdio e puseram para funcionar sem teste nem nada. O teste ficou sendo o meu disco. Saiu tudo ruim, aí a mesa quebrou e foi o que faltava. Eu disse não, chega, vamos desgravar tudo. Ou se faz direito, ou não se faz.
Pelo sorriso de Macalé e pela atividade dentro do estúdio - onde o arranjador Wagner Tiso conduz, com gestos dramáticos, uma orquestra de porte considerável - está tudo sendo feito muito direitinho. O álbum se chamará 'Contrastes', e sairá em outubro. É o terceiro disco da longa carreira de Macalé: amplo, forte, alimentício, cinematográfico, bonito e popular, tem tudo para, finalmente, projetar Macau além da sombra onde tem se movimentado sempre.
Macalé - Jards Anet da Silva, carioca da Tijuca, ali perto do Morro da Formiga - é uma figura peculiar dentro da vida musical brasileira. Chamá-lo de 'maldito' já virou lugar comum: digamos que seja periférico. Em 11 anos de carreira, sempre produtiva deflagrada em 1965 com uma participação na montagem paulista de 'Opinião', ele já foi músico, compositor (sempre), autor e/ou arranjador de várias trilhas de filmes ('Macunaíma', 'O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro', 'Amuleto de Ogum', 'Tenda dos milagres' - nos dois últimos, de quebra, também é ator), diretor musical de vários espetáculos de Gal Costa, colaborador de Gil e de Caetano. Já assustou a plateia do FIC de 69, berrando em seu camisolão roxo que havia 'um morcego na porta principal de Gothan City'. Já mastigou rosas diante das câmeras de televisão no Festival Abertura. Já lançou a Morbeza Romântica - tendência poético-musical - em parceria com Waly Sailormoon, já enterrou a dita Morbeza, já ajudou a fundar a Sombras, Sociedade Musical Brasileira. E, com tudo isso, permanece ainda meio oculto da maior parte do público, só provando um leve sabor do sucesso popular no ano passado com sua série de shows 'Sorriso de Verão'. 'Contrastes' pode ser o cimentador dessa popularidade recém-conquistada. Tem choro, tem samba de breque, tem reggae, tem Orquestra Tabajara, tem blues, tem sonoplastia da Patrulha da Cidade. Tudo amarrado pela glória cristalina de Macalé. "
(continua)
Pelo sorriso de Macalé e pela atividade dentro do estúdio - onde o arranjador Wagner Tiso conduz, com gestos dramáticos, uma orquestra de porte considerável - está tudo sendo feito muito direitinho. O álbum se chamará 'Contrastes', e sairá em outubro. É o terceiro disco da longa carreira de Macalé: amplo, forte, alimentício, cinematográfico, bonito e popular, tem tudo para, finalmente, projetar Macau além da sombra onde tem se movimentado sempre.
Macalé - Jards Anet da Silva, carioca da Tijuca, ali perto do Morro da Formiga - é uma figura peculiar dentro da vida musical brasileira. Chamá-lo de 'maldito' já virou lugar comum: digamos que seja periférico. Em 11 anos de carreira, sempre produtiva deflagrada em 1965 com uma participação na montagem paulista de 'Opinião', ele já foi músico, compositor (sempre), autor e/ou arranjador de várias trilhas de filmes ('Macunaíma', 'O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro', 'Amuleto de Ogum', 'Tenda dos milagres' - nos dois últimos, de quebra, também é ator), diretor musical de vários espetáculos de Gal Costa, colaborador de Gil e de Caetano. Já assustou a plateia do FIC de 69, berrando em seu camisolão roxo que havia 'um morcego na porta principal de Gothan City'. Já mastigou rosas diante das câmeras de televisão no Festival Abertura. Já lançou a Morbeza Romântica - tendência poético-musical - em parceria com Waly Sailormoon, já enterrou a dita Morbeza, já ajudou a fundar a Sombras, Sociedade Musical Brasileira. E, com tudo isso, permanece ainda meio oculto da maior parte do público, só provando um leve sabor do sucesso popular no ano passado com sua série de shows 'Sorriso de Verão'. 'Contrastes' pode ser o cimentador dessa popularidade recém-conquistada. Tem choro, tem samba de breque, tem reggae, tem Orquestra Tabajara, tem blues, tem sonoplastia da Patrulha da Cidade. Tudo amarrado pela glória cristalina de Macalé. "
(continua)
Eu sempre quis ler Ana Maria Bahiana,só aqui eu consegui.
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