Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 11 de maio de 2016

Beto Guedes Lança A Página do Relâmpago Elétrico (1977)

Em 1977, ao lançar seu primeiro disco, "A Página do Relâmpago Elétrico", Beto Guedes ainda era um nome pouco conhecido do grande público. Sua participação em dueto com Milton Nascimento na gravação de "Fé Cega, Faca Amolada", do álbum Minas, chamou a atenção para sua voz fora dos padrões, mas Beto ainda era uma surpresa e uma promessa, quando seu excelente álbum de estreia estava sendo lançado. E foi assim, que o Jornal de Música noticiou o lançamento desse disco que se tornaria um clássico, em texto assinado por Antonio Carlos Miguel:
"Com 'A Página do Relâmpago Elétrico' vem à tona um trabalho que ainda não tinha tido condições de aparecer plenamente. O que se conhece de Beto Guedes é como um 'iceberg', seus trabalhos com Milton Nascimento (no disco 'Clube da Esquina' ele toca em quase todas as faixas e em 'Minas' principalmente por seu vocal em 'Fé Cega, Faca Amolada') e algumas gravações, raríssimas hoje em dia, apesar de terem sido lançadas há relativo pouco tempo.
Em 1973 a Odeon editou a disco 'Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta', onde cada compositor participava com seu (parte de) trabalho. A ideia inicial era um disco individual para cada, mas, por razões obscuras optou-se por essa solução mais econômica, como disse Ronaldo Bastos 'colocaram quatro gatos num saco'.
Outro trabalho importante em disco foi o compacto simples feito durante a gravação de 'Minas' (julho/agosto de 75). Este disco que praticamente não foi distribuído é outra raridade. Ave rara. Nele, Milton e Beto, acompanhados do Som Imaginário, continuam seus duos vocais iniciados em (com) 'Fé Cega...'. Há uma recriação antológica de 'Norwegian Wood' de (para) Lennon e McCartney e no outro lado regravam 'Caso Você Queira Saber' (Beto Guedes e Márcio Borges) que anteriormente tinha sido incluída no disco dos quatro no saco.
Segundo Ronaldo Bastos, ele foi um beatlemaníaco como qualquer cara de sua geração, um beatle do sertão. Se criou ouvindo seu pai, que toca clarineta, sax, e a música da região de Montes Claros (ao norte de Minas, perto da Bahia) Aos dez anos foi pra Belo Horizonte, lá ocorre o corte radical e passa a ouvir, ver, viver, tocar Beatles e companhias ilimitadas. Em 1970 com a música 'Feira Moderna' (Beto e Fernando Brant) classificada no Festival da Canção (interpretada pelo Som Imaginário) Beto vem para o Rio e intensifica seu trabalho na música popular. Popular, solta, sem raízes únicas e fixas, de uma época que os rótulos começam a perder o sentido, a desbotar.
'A Página do Relâmpago Elétrico' chega mostrando isso, todo processo vai desembocar no trabalho.
No disco Beto toca com muitos músicos que já há algum tempo vem trabalhando junto. Nos teclados Flávio Venturini do grupo 'O Terço' e Vermelho do 'Bendegó', eles dois tocaram no disco dos 'quatro' (só que na época os dois constam no crédito do disco como Flávio Hugo e José Geraldo), Robertinho (bateria) e Toninho Horta (guitarra e arranjos para orquestra) já estão ligados desde os tempos de Milton, Zé Eduardo (violão e guitarra) vem de Minas e toca com Beto desde o início, completam o disco Hely (também do Bendegó) na bateria e percussão; como convidados especiais o veterano Abel Ferreira (sax e clarinete) na faixa 'Belo Horizonte' (de Godofredo, pai de Beto) e Novelli e Nelson Angelo em 'Nascente' (Flávio Venturini e Murilo Antunes).
A página é eclética, elétrica-sertaneja, numa aproximação natural, sons eletrônicos e rústicos sem que seja possível desmembrá-los. Um detalhe é a voz, estranha e agreste, límpida e cortante como uma faca amolada com fé cega."

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