Muita gente considera o disco Feito em Casa (1977), de Antonio Adolfo, o primeiro disco independente produzido no Brasil. Porém, já li outros comentários que apontam outros discos lançados de forma independente, sem a interferência de gravadoras, lançados no Brasil antes do Feito em Casa. Embora haja controvérsias em relação ao pioneirismo de Antonio Adolfo, a verdade é que após o lançamento do Feito em Casa, a expressão 'disco independente' ganhou força no meio musical, e estimulou muito outros músicos que encontravam dificuldades em lançar seus discos pelos meios convencionais. Daí vem a importância da iniciativa de Antonio Adolfo ao resolver seguir na contramão do mercado fonográfico. Numa matéria publicada em um órgão de divulgação de um projeto chamado Trindade, que trabalhava com música instrumental, que produziu um documentário, um disco e vários shows, e que veio encartado na edição de dezembro de 1977 no Jornal de Música/Rock, a História e a Glória, o músico fala sobre a criação de seu primeiro álbum independente.
" Sá Marina, Teletema, Juliana, BR 3. Todo mundo ainda hoje se lembra desses sucessos de 68-71, o pique final da era dos festivais da canção. Por isso mesmo todo mundo também se espantou muito quando Antonio Adolfo - autor dessas canções, em parceria com Tibério Gaspar - reapareceu no início deste ano, muito mais magro e tranquilo. E falando e pondo em prática um projeto que não tinha nada a ver com o sucesso, as paradas ou coisa parecida: um disco de música instrumental produzido, gravado e distribuído independentemente, por seu próprio selo, o Artesanal. O disco tomou forma, foi lançado e se chamou Feito em Casa. Com a ajuda de alguns amigos, Antonio Adolfo confeccionou a capa, distribuiu releases à imprensa e colocou o produto nas lojas. 'Era sempre mais fácil nas lojas pequenas, onde você conversa com o dono, explica a transação. É a diferença mesma que tem entre uma quitanda e um supermercado. A quitanda é mais humana, mais real, não impõe nada, não massifica...
E, complementando o trabalho, Antonio armou um grupo e saiu tocando pelo Brasil todo, onde fosse possível: teatros, praças, escolas. Principalmente no interior. 'Eu, às vezes, recorria ao antigo expediente de passar o chapéu para recolher o cachê - o que nem sempre era bem compreendido pela plateia sempre surpresa. Esse trabalho ao vivo foi ótimo. Não só como trabalho, mesmo, mas como exercício quase espiritual, de retomar contato com as pessoas de uma forma mais simples, mais direta, mais relaxada, também sem imposições. Acho que contribuiu muito para a minha própria evolução como músico, como compositor, refletiu-se nesse trabalho. E também ajudou bastante na venda do disco: quando dava, depois de cada show, a gente vendia o disco, e a receptividade em geral era ótima'.
Esse processo que Antonio chama de 'purificação, despojamento interior', foi deflagrado pelo próprio sucesso avassalante que conheceu no final dos anos 60. Vindo de uma carreira estável e mais ou menos obscura, como músico, nascida no Beco das Garrafas do Rio com o grupo 3D, Antonio Adolfo passou bruscamente à condição de quase ídolo, com o sucesso de Sá Marina e, depois, de várias outras músicas - tudo culminando no apoplético FIC da BR3. Sempre em parceria com Tibério Gaspar e apoiado por seu grupo, A Brazuca - onde Luís Keller, de Trindade, era vocalista - Antonio Adolfo podia ter estabilizado de vez sua carreira como fabricante de sucessos, ou submergido no esquecimento que costuma afligir tais estrelas (vide Wilson Simonal, seu contemporâneo). Mas preferiu dar uma parada por conta própria, em 71, e ir para os Estados Unidos estudar música, ver concertos. 'Eu simplesmente senti que tinha que parar. A cabeça não estava aguentando tanta pressão. E aí, pouco a pouco, eu fui redescobrindo como era bom fazer, pelo prazer da música, sem ser para isso ou para aquilo - para a novela, para a parada, só por fazer'.
Oito meses depois voltou ao Brasil e chegou a gravar um disco para a Phonogram que não o satisfez totalmente. Ainda estava inquieto, dividido. Voltou a viajar, em 73, dessa vez para Paris, para estudar música com Nadia Boulanger. De volta, já sabia o que queria: 'Eu sabia que era um bom músico, um bom arranjador, tinha meu valor. Também tinha muita coisa minha feita, coisas que eu achava boas, que não adiantava guardar, tinha que passar adiante, mostrar. Pensei que só isso fosse suficiente para fazer um disco, mas não era. As gravadoras queriam a Brazuca, de novo, e isso realmente eu não estava mais a fim de fazer. Fiquei assim trabalhando como músico, como arranjador, dava umas aulas de música, também... Até que chegou num ponto em que eu tinha que mostrar meu trabalho. Foi aí que que eu parti para o disco produzido por mim mesmo. Contava vender a fita, depois, para alguma gravadora. Mas começou aquele papo que não era comercial e tal... aí eu vi que tinha que ir até o fim, sozinho'.
Hoje, quase um ano depois, Antonio Adolfo se diz contente com os resultados dessa nova fase de sua carreira. É um homem sereno, seguro, satisfeito com sua música, com seu trabalho. Participa de Trindade - um projeto afinal semelhante ao seu - em show (o terceiro da série, no último dia 12 de novembro) e em disco (já gravou diversos temas seus, inéditos, em junho do ano passado, especialmente para o projeto)."
Esse processo que Antonio chama de 'purificação, despojamento interior', foi deflagrado pelo próprio sucesso avassalante que conheceu no final dos anos 60. Vindo de uma carreira estável e mais ou menos obscura, como músico, nascida no Beco das Garrafas do Rio com o grupo 3D, Antonio Adolfo passou bruscamente à condição de quase ídolo, com o sucesso de Sá Marina e, depois, de várias outras músicas - tudo culminando no apoplético FIC da BR3. Sempre em parceria com Tibério Gaspar e apoiado por seu grupo, A Brazuca - onde Luís Keller, de Trindade, era vocalista - Antonio Adolfo podia ter estabilizado de vez sua carreira como fabricante de sucessos, ou submergido no esquecimento que costuma afligir tais estrelas (vide Wilson Simonal, seu contemporâneo). Mas preferiu dar uma parada por conta própria, em 71, e ir para os Estados Unidos estudar música, ver concertos. 'Eu simplesmente senti que tinha que parar. A cabeça não estava aguentando tanta pressão. E aí, pouco a pouco, eu fui redescobrindo como era bom fazer, pelo prazer da música, sem ser para isso ou para aquilo - para a novela, para a parada, só por fazer'.
Oito meses depois voltou ao Brasil e chegou a gravar um disco para a Phonogram que não o satisfez totalmente. Ainda estava inquieto, dividido. Voltou a viajar, em 73, dessa vez para Paris, para estudar música com Nadia Boulanger. De volta, já sabia o que queria: 'Eu sabia que era um bom músico, um bom arranjador, tinha meu valor. Também tinha muita coisa minha feita, coisas que eu achava boas, que não adiantava guardar, tinha que passar adiante, mostrar. Pensei que só isso fosse suficiente para fazer um disco, mas não era. As gravadoras queriam a Brazuca, de novo, e isso realmente eu não estava mais a fim de fazer. Fiquei assim trabalhando como músico, como arranjador, dava umas aulas de música, também... Até que chegou num ponto em que eu tinha que mostrar meu trabalho. Foi aí que que eu parti para o disco produzido por mim mesmo. Contava vender a fita, depois, para alguma gravadora. Mas começou aquele papo que não era comercial e tal... aí eu vi que tinha que ir até o fim, sozinho'.
Hoje, quase um ano depois, Antonio Adolfo se diz contente com os resultados dessa nova fase de sua carreira. É um homem sereno, seguro, satisfeito com sua música, com seu trabalho. Participa de Trindade - um projeto afinal semelhante ao seu - em show (o terceiro da série, no último dia 12 de novembro) e em disco (já gravou diversos temas seus, inéditos, em junho do ano passado, especialmente para o projeto)."
Nenhum comentário:
Postar um comentário