O Emerson, Lake & Palmer foi um dos principais grupos do rock progressivo. Formado por três grandes músicos, virtuoses em seus instrumentos, o trio lançou discos antológicos na década de 70. Em 1976 o Jornal de Música nº 22 publicou uma matéria traduzida do jornal musical americano Melody Maker, assinada por Chris Welch. Na ocasião o ELP andava meio sumido de cena, se reciclando e desenvolvendo seu som, como a matéria revela:
"E o que houve com Emerson, Lake & Palmer? Há dois anos que se escondem atrás de uma barreira de silêncio tão impenetrável como a Grande Muralha da China. Seu último álbum (Welcome Back My Friends to the Show that Never Ends) foi lançado em 74, e de lá para cá não houve mais discos, nem turnês, nem mesmo uma palavra sequer de Keith Emerson, Carl Palmer ou Greg Lake.
No Natal passado Greg Lake lançou uma versão-surpresa de Jerusalem, em compacto, e Keith colocou na praça sua gravação de Honky Tonk Train Blues, feita em 1972 com a New Jazz Orchestra como parte de um projeto individual.
A Manticore Records recusa-se a comentar sobre qualquer boato, e seus porta-vozes apenas repetem: 'Existem muitas coisas no ar... quando tudo estiver certo entraremos em contato.' É óbvio que o ELP instrui sua equipe para que nada revele, provavelmente com o objetivo de criar maior impacto para seu próximo lançamento.
Parece que estão ensaiando e gravando um álbum triplo na Suíça: cada membro do grupo comparece com um disco.
O ELP é uma banda muito criticada por suas tendências exibicionistas e por um certo exagero, que incomoda os apreciadores do rock primitivo. Mas seu público adora o clima excitante que o trio cria no palco, e suas qualidades musicais são indiscutíveis. Comparado com as bandas que surgiriam depois, o ELP, na sua série de turnês de 70 a 74, foi até discreto. Seu equipamento mais espetacular era o tanque Tarkus, que soltava nuvens inofensivas de fumaça. Foram os primeiros a usar um sistema de arcos de luz na iluminação do palco, mas muitas bandas passaram a imitá-los. Fora isso, o ELP ficava tão parado no palco quanto o Modern Jazz Quartet.
Havia muita publicidade em torno das toneladas de equipamento e do excesso de efeitos, mas o ELP buscava apenas extrair o máximo de seus instrumentos. Keith fez experiências com moogs polifônicos e Carl mandou fazer uma bateria de acordo com suas próprias especificações. Mas não acho que estivessem querendo aparecer mais do que certos artistas que usavam maquiagem de palhaço ou voavam sobre o palco pendurados por um fio. As bandas agora usam mais teclados no palco do que Emerson jamais sonhou.
Minha opinião pessoal sobre o sumiço do ELP é que eles simplesmente estavam pregados. Exaustos, precisando repensar e recarregar as baterias.
Keith aguentou a barra de vários anos de trabalho musical, começando com o T. Bones, depois com P.P. Arnold e, finalmente, com o Nice. Quando tinha vinte e poucos anos, sua vida consistia em tocar órgãos e pianos em clubes e bares, estúdios e auditórios. Foi um dos homens mais dedicados à música, uma dedicação até perigosa, chegando ao ponto de tomar uma garrafa de brandy por dia para conseguir manter o mesmo nível de intensidade musical. Já devia estar cansado de ter que falar sobre rock clássico ou explicar para o milésimo jornalista porque o ELP faz tanto sucesso.
Greg passou vários anos tocando em grupos pequenos e depois fez parte do King Crimson. Agora tem tempo para dedicar-se a afazeres humanos, como a pesca. Carl pode canalizar a energia inesgotável que despendeu em Chris Farlowe and the Thunderbirds, The Crazy World of Arthur Brown e Atomic Rooster para algo menos estafante assim como jogar golfe. Esse descanso deve ter sido um período de sanidade em meio à loucura.
O grupo começou com Keith e Greg, e não havia baterista. Carl havia sido convidado mas sentia certa lealdade para com o Atomis Rooster. Pensaram em Jon Wiseman ou Mitch Mitchell. Quando Carl aceitou, reuniram-se nos estúdios da Island e ensaiaram todo o seu repertório: três músicas. Eram Rondo (do Nice), 21st Century Schizoid Man ( do King Crimson) e uma composição de Bela Bartok.
O nome sugerido para o conjunto foi Triton, depois viram que usar apenas seus sobrenomes seria menos pretensioso. A grande ironia é que seriam duramente criticados, entre outras coisas, por causa da pomposidade do nome do grupo.
Esse primeiro ensaio foi em março de 1970, e Carl dizia: 'Neste momento estamos sendo supercríticos a respeito da nossa música. Queremos estar à altura das expectativas.' Essa determinação quase acabou com o grupo. A comparação inevitável com o Blind Faith(*). Preocuparam-se tanto em corresponder às expectativas que chegaram a enlouquecer alguns críticos que há anos vinham perguntando: 'Por que o público não ouve os grupos mais técnicos ao invés dos incapazes e incompetentes da música comercial?' Hoje esses mesmos críticos reclamam: 'Chega desses músicos técnicos e monótonos! Tragam de volta as bandas analfabetas e incompetentes de punk rock!'.
O ELP estreou no extraordinário Festival da Ilha de Whigt, em 1970. Jimi Hendrix fazia sua última apresentação e o ELP lançava a nova era dos supergrupos. Seu primeiro disco, Emerson, Lake & Palmer, foi um grande sucesso de vendas. Duas músicas de Greg Lake se tornaram os maiores sucessos do grupo na época: Take a Peble e Lucky Man.
Em seguida gravaram Pictures at an Exibition ao vivo, no Newcasatle City Hall (março de 71), uma boa adaptação da peça de Moussorgsky. Em 71 ainda fizeram Tarkus, um álbum de estúdio incluindo, entre outras, The Sheriff e Hoedown (mais uma adaptação de compositores contemporâneos: dessa vez foi Aaron Copland).
Em 1973 gravaram Brain Salad Surgery, um disco com interpretações dramáticas e neuróticas, como Kara Evil, contrastando com a solenidade de Jerusalem e o humor de Banny the Bouncer. Seus admiradores sempre concordaram que o melhor do grupo eram seus shows, quando um incentivava o outro e todos tocavam com energia e vontade. Por isso mesmo eles lançaram Welcome Back My Friends to the Show That Never Ends com material gravado ao vivo durante uma excursão mundial em 73 e 74, incluindo músicas de todos seus discos anteriores.
O centro do ELP sempre foi Keith Emerson, e as ideias do grupo talvez possam ser analisadas por um papo que levei com ele em 1972, numa discothéque de Tóquio.
- Sou extremamente autocrítico. Analiso tudo que toco, talvez até demais. Não me entusiasmo com o sucesso, porque só quero me comunicar com as pessoas num nível musical. Às vezes subo no palco e penso: 'é só mais uma apresentação'. Tenho que parar de pensar assim. Um músico, além de ser musical, tem que divertir as pessoas. Quando toco, ponho a música em primeiro lugar, mas - como no jazz e na música clássica - a parte visual também é importante. Buddy Rich sabia disso. Paganini, quando punha velas pretas em cena, também sabia."
(*) Outro supergrupo formado pela reunião de grandes astros: Ginger Baker, Rick Grech, Eric Clapton e Stever Winwood. Não deu muito certo.
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