Cassiano é um dos nomes mais importantes do soul brasileiro. Ao lado de Tim Maia, pode-se dizer que ele revolucionou a música brasileira nos anos 70. Apesar de uma carreira irregular, com longos períodos de afastamento da cena musical, por problemas de saúde e fama de artista difícil, Cassiano vez por outra é lembrado pela sua importância e talento incontestável. A revista Show Bizz em sua edição 156 (julho de 1998) trazia uma boa matéria sobre Cassiano, onde há um texto sobre ele, escrito pelo crítico Nelson Motta, que aponta sua importância ao lado de Tim Maia:
"Quando ouvi pela primeira vez o Tim Maia, fiquei louco - de alegria. Era 'Primavera', do Cassiano. E logo quis saber quem era aquele compositor genial.. Ficamos amigos.
Nesse tempo eu produzia as trilhas das novelas da Globo e, na primeira oportunidade, coloquei uma música do Cassiano que viria a se tornar um de seus clássicos, a lindíssima 'A Lua e Eu' ('Quando olho no espelho/ estou ficando velho e acabado...'). A novela era O Grito, de Jorge Andrade, bem chata, mas a música virou um dos dois únicos 'sucessos populares' do querido amigo (a outra, 'Primavera')(*).
Tim e Cassiano modernizaram a música brasileira no início dos 70 como se fossem João Gilberto e Tom Jobim nos 50. A MPB estava num impasse perigoso. A Tropicália tinha se dissolvido com o exílio de Gil e Caetano, a MPBzona 'de raiz' já tinha passado da sua hora, perdido a parada, mas insistia. O rock era incipiente e desprezado pelas 'elites musicais', apaixonadas por um Tropicalismo que não existia mais. Rita Lee e os Mutantes eram exceção, mas o rock deles era alegre e irreverente demais para aqueles anos de chumbo.
Quando tocava no grupo Os Diagonais |
Tim criou, também para uma novela, um xaxado ge-ni-al, que se chamava 'Padre Cícero' (mas no final ele gritava, com o vibrato tremendo e arrebentando as caixas, 'Father Cicer! Father Cicer!'). De quebra, gravou uma versão sensacional de 'Coroné Antônio Bento', de Luiz Wanderley, misturando a caatinga com Detroit: uma porrada! Com Tim e Cassiano a música brasileira encontrou uma nova via, mais internacional - e mais brasileira.
Assim como Tim, Cassiano também sempre foi muito doidão e com uma personalidade muito especial. Sumia por tempos, esteve doente, se afastava dos amigos. Só o reencontrei nos anos 80, quando ajudei no que pude, mostrando suas músicas para Marisa Monte, falando dele no jornal e na TV, até que finalmente o Líber Gadelha produziu um disco dele para a Sony.Cassiano trouxe para o soul brasileiro a sofisticação harmônica, o fraseado surpreendente, as dissonâncias que eram tão próximas... da bossa nova! Tim trouxe a batida, o beat, as melodias simples e diretas, o vozeirão que estava em falta na MPB (todo mundo cantava baixinho: Chico, Caetano, Nara Leão, ninguém se considerava cantor - e perto do Tim, não eram mesmo...). Veio com sua voz de trovão e os trejeitos, fraseados, gritos, vibratos típicos da negada da Motown, que o Brasil desconhecia. Cassiano trouxe as melodias e harmonias intrincadas, surpreendentes, dissonantes - espantoso para alguém que não teve a formação musical de um Tom Jobim ou um Edu Lobo. Era espantoso ouvir o que criava aquele neguinho da Paraíba, no puro instinto, na espontaneidade.
Tim e Cassiano, eis uma dupla que mudou o rumo, para melhor, da música brasileira num momento decisivo - e chatíssimo - de sua história."
(*) Coleção, também tema de novela (Loco Motivas)é outro fez uma grande sucesso de Cassiano
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