Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 8 de março de 2021

A Benção, Baden Powell


 Baden Powell é figura fundamental na música brasileira. Violonista de primeira linha, criador de uma batida inigualável, e compositor brilhante, com vários parceiros dos mais aclamados da MPB, Baden deixou uma obra discográfica riquíssima, como intérprete de suas próprias obras, e de autores diversos, sempre com uma batida bem pessoal. Em 1980 foi publicada uma revista especial sobre Vinícius de Moraes, e seus vários parceiros também ganharam destaque, e Baden não podia ficar de fora. Abaixo, o texto sobre esse grande músico:

"Baden Powell de Aquino, fluminense de Varre-Sai, passou sua meninice no bairro carioca de São Cristóvão 'soltando pipa, quebrando vidraça, fazendo baile, tocando em circo' e ouvindo os chorões que se reuniam em casa de seu pai, o violonista Lino, ou  na casa de Pixinguinha, onde sempre estavam Donga e Jacob do Bandolim.

Por volta dos 7 ou 8 anos começou a estudar violão com Meira, do regional de Benedito Lacerda, e que seria seu professor durante os próximos cinco anos. Apesar dos estudos eruditos, nunca se afastou do samba e às vezes fugia com os amigos para tocar violão no morro da Mangueira.

Aos 10 anos tocava também guitarra e, com ela já faturava uma graninha animando bailes no subúrbio.

Em 1954, apresentou-se ao lado de compositores e cantores consagrados, nas comemorações do IV Centenário de São Paulo. Ele era o 'garoto da Velha Guarda' que, ao terminar o ginásio, iria trabalhar na Rádio Nacional, acompanhando os intérpretes em suas excursões. 

Em 1955, entrou para o trio que tocava na boate Plaza, em Copacabana, ao lado de Ed Lincoln e Luís Eça: 'A gente tocava jazz e um samba já mais sofisticado, mais moderno, sem pandeiro, estilo Dick Farney'.

Em 1956, compôs com Billy Blanco, o seu primeiro sucesso 'Samba Triste', que Lúcio Alves gravaria em 1960.

Em 1962, acompanhou Silvinha Telles na boate Jirau, e fez um show na boate Arpèje, ao lado de Ary Barroso e Antônio Carlos Jobim, ocasião em que conheceu o poeta Vinícius de Moraes. Bateram um papinho, Baden tocou alguns temas seus e marcaram um encontro. Era o início de uma desenfreada parceria.

Baden mudou-se para o apartamento de Vinícius, no Parque Guinle, e, durante três ou quatro meses, segundo o próprio poeta: 'Compúnhamos dia e noite, com muito uísque na cuca - mesmo porque, quem é que ia pensar em comer?'

Um disco que Vinícius recebeu da Bahia, com sambas de roda, pontos de candomblé e toques de berimbau, seria a pedra fundamental dos, posteriormente, denominados 'afro-sambas'.

Em 1963, Baden viajou para a França, apresentando, no Olimpia de Paris, composições eruditas e sambas seus. Contratado pela boate Bilboquet, foi ficando por lá, e compôs a trilha sonora do filme Le Grabuje. A parceria com Vinícius prosseguia pois o diplomata estava servindo à UNESCO, em Paris.

Retornaram em 1964, e Baden passou seis meses na Bahia pesquisando música de candomblé e terreiros. Seu 'Canto de Ossanha' fez grande sucesso na voz de Elis Regina, em 1966.

Em 1965, a 'Valsa do Amor que Não Vem' classificava-se em 2º lugar no I FMPB, da TV Excelsior de São Paulo, na voz de Elizeth Cardoso. No ano seguinte, o estreante Milton Nascimento defendia 'Cidade Vazia', de Baden e Lula Freire, conseguindo o 4º lugar.

Em 1966, ao lado de Elis Regina, Baden Powell apresentou-se na boate carioca Zum-Zum, em um show (Berimbau) de muito sucesso.

Em 1967, foi para Berlim, apresentando-se ao lado dos guitarristas Jim Hall e Barney Kessel, no Festival de Jazz. Em Paris, recebe o Disco de Ouro pelo seu elepê O Mundo Musical de Baden Powell. Com a Orquestra Sinfônica de Paris, grava o elepê Mundo Musical Nº 2.

Em 1968, de volta ao Brasil, inicia parceria com Paulo César Pinheiro, ganhando, com ele, a I Bienal do Samba, da TV Record, com 'Lapinha', defendida por Elis Regina. Com Paulinho comporia ainda: 'Cancioneiro', 'Meu Réquiem', 'É de Lei', 'Refém da Solidão', 'Aviso aos Navegantes', 'Carta de Poeta', 'Sermão' e 'Violão Vagabundo'.

Em 1970, retornou a Paris, onde gravou mais três elepês.

Em 1973 gravou, na Alemanha, o elepê Solitude on Guitar.

Em 1974, estava de volta à França, onde faria morada nos próximos cinco anos.

De volta ao Brasil, em 1979, apresentou-se em São Paulo, no mês de agosto, no Teatro Procópio Ferreira.

Sem dúvida, grande parte da obra de Baden Powell tem a parceria de Vinícius de Moraes. Parceria desenvolvida nos meses em que moraram juntos; nos apartamentos Excelsior - onde se hospedavam em suas vindas a São Paulo -, em suas estadas periódicas em clínicas de repouso, onde vão para aquela recauchutagem que as noites mal dormidas acabam pedindo de vez em quando; e em suas estadas em Paris.

Taí alguma coisa do que Baden e Vinícius fizeram juntos;

'Além do Amor', 'Amei Tanto', 'Apelo', 'O Astronauta', 'Bachiana', 'Berimbau', 'Bocochê', 'Bom Dia, Amigo', 'Canção de Amor e Paz', 'Canção de Enganar Tristeza', Canção de Ninar Meu Bem', "Canção do Amor Amigo', 'Canção do Amor Ausente', 'Canto de Iemanjá', 'Canto de Ossanha', 'Canto de Xangô', 'Canto do Caboclo Pedra Preta', 'Cavalo-Marinho', 'Chanson D'Hiver', 'Consolação', 'Deixa', 'Deve Ser Amor', 'É Hoje Só', 'Formosa', 'Garota Prerongondon', 'História Antiga', 'Insônia', 'Labareda', 'Lamento de Exu', 'Linda Baiana', 'Melhor Era Tudo Acabar', 'Mulher Carioca', 'Pra Fazer um Bom Café', 'Paris Tout Grise', 'Pour Toi, Marie', 'Pra que Chorar', 'Precedented', 'Prelúdio ao Coração', 'Samba da Bênção (Samba Saravá)', 'Samba de Oxóssi', 'Samba do Veloso', 'Samba em Prelúdio', 'Só Por Amor', 'Tem Dó', 'Tempo de Amor', 'Tempo Feliz'(Té o Sol Raiar)', 'Toi, ma Blonde' (com Eduardo Bacri), 'Toma Meu Coração' (com Eduardo Bacri), 'Tristeza e Solidão', 'Valsa do Amor que Não Vem', 'Valsa sem Nome' e 'Velho Amigo'.

Outras composições de Baden: 'Encontro com a Saudade', 'Não É Bem Assim', 'Choro para Metrônomo', 'Candomblé', 'Vou Por Aí' (com Oliveira), 'Aurora do Amor' (com Mário Telles), 'Tristeza, Vá Embora' (com Mário Telles), 'Rosa Flor' e 'Se a Tristeza Chegar' (ambas com Geraldo Vandré)."




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