A revista "Rock Stars", que circulou nos anos 80, trazia uma seção chamada Precious Memories, que falava de bandas ou artistas do passado. Em seu nº 17 (dez 85/jan 86) foi destacada a banda Yardbirds, que fez história, e é aclamada até hoje como uma das mais importantes bandas da história do rock, e se notabilizou por ter tido em suas formações três guitarristas dos mais representativos de toda história do rock; Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck. Abaixo a transcrição do texto, escrito por Valdir Montanari, e intitulado "Yardbirds, Genitores do Hard Blues":
"Muitos rockeiros não dão importância aos blues. E isso acontece com maior intensidade nas gerações mais novas, em particular com os fanáticos pelo heavy metal. Se Robert Johnson estivesse vivo, provavelmente diria:
'Que cambada de estúpidos! Será que eles não percebem que na minha obra está toda a raiz do rock pauleira...'
E Johnson estaria muito certo se assim se manifestasse. Mas os rockeiros inteligentes sempre souberam tributar os devidos créditos aos blueseiros. Exemplo maior foi dado pelos Yardbirds, pioneiros na busca das raízes do rock. Por volta de 1963 ou 1964, quando o famoso Sonny Boy Williamson andava pela Inglaterra, se juntaram a ele para apresentações no Crawdaddy Club de Richmond, Surrey. Naquela época, o Crawdaddy costumava realizar umas sessões aos domingos à noite, por iniciativa de um sujeito chamado Giorgio Gomelsky. Os primeiros a tocar lá foram os Rolling Stones, ainda novatos.
À medida que foram ficando famosos - em particular depois das primeiras gravações - os Stones começaram a dar umas mancadas com Gomelsky. Foi quando ele recorreu aos Yardbirds. Os Yardbirds haviam-se agrupado no início de 1963, e entre eles estavam Keith Relf (vocal e harmônica) e Paul Samuel-Smith (baixo), egressos do Metropolian Blues Quartet. Os demais eram Jim McCarty (baterista, nada a ver com o Jim McCarty do Cactus, que é guitarrista), Tony Topham (guitarrista-solo) e Chris Dreja (guitarrista-base)
Tophan ficou pouco tempo no conjunto. Fala-se que foram os próprios companheiros que pediram-lhe para sair da banda. Seu substituto foi Eric Clapton, um profundo conhecedor e admirador de blueseiros norte-americanos. Inicialmente, os clientes do Crawdaddy ficaram um tanto apreensivos com respeito aos Yardbirds. Bastaram apenas algumas semanas para que nem se lembrassem mais dos Rolling Stones. Foi nessa mesma época que aconteceram dois fatos notáveis com o Clapton: um deles foi ter ganho o apelido de Slowhand (mão lenta), porque fazia solos chorosos e intermináveis. O outro foi o de ser agraciado com pichações de paredes (grafites), onde se lia a inscrição: Eric is God (Eric é Deus).
Com Eric, os Yardbirds gravaram alguns compactos, inclusive o que continha a música 'For Your Love'. Essa música ficou famosa porque determinou a saída de Clapton do conjunto. Segundo se sabe, ela causou um tremendo sucesso na Inglaterra. Clapton não gostou principalmente porque achou que era pop demais e resolveu cair fora. Foi juntar-se aos Bluebrackers de John Mayall. O substituto de Clapton foi o pedante Jeff Beck (me perdoem os leitores por ter de colocá-lo aqui, mas não se pode mudar a história)(*). Conta-se que o convidado foi Jimmy Page, que não aceitou o 'figurinha' (tenho certeza que a página ficará inundada de escamas).
A discografia dos Yardbirds é um mar de confusão. Os LPs ingleses e norte-americanos são diferentes entre si. Daquela fase com o Clapton , por exemplo, só foram editados na Inglaterra os LPs Five Live Yardbirds e Sony Boy Williamson and The Yardbirds (ambos ao vivo). Na América do Norte, aconteceram LPs que continham coletâneas de compactos ingleses (como é o caso do For Your Love, bem como do lado A de Having A Rave-Up With The Yardbirds). Quanto a esse último, foi o único lançado no Brasil (o lado dois foi copiado de Five Live Yardbirds).
Em 1966, foi a vez de Paul Samuel-Smith deixar o conjunto. Novamente, Jimmy Page foi convidado, e acabou aceitando. Inicialmente, tocava baixo (e pelo visto sofria muito com as humilhações de Jeff Beck). Jeff ficou até 1967, quando se retirou para formar o Jeff Beck Group.
Com a saída de Beck, Page assumiu a guitarra-solo, Dreja passou ao contrabaixo e Relf e McCarty continuaram em seus postos. Com essa formação, gravaram as faixas do LP Little Games e realizaram a última turnê pela América do Norte, em maio de 1968.
Ainda em 1968, Page montou aquele grupo que ele próprio batizou de New Yardbirds: Page (guitarra), John Paul Jones (baixo), John Bohan (bateria) e Robert Plant (vocal). Após uma excursão pela Escandinávia, retornaram para a Inglaterra e mudaram o nome do grupo para Led Zeppelin, acatando a sugestão do baterista Keith Moon (do Who). Bem, o restante você já sabe.
Quanto aos demais Yardbirds, sabe-se que Chris Dreja deixou a música para dedicar-se à fotografia (foi ele que fotografou a capa de Led Zeppelin I). Keit Relf e Jim McCarty montaram o Renaissance, contando com Jane Relf (irmã de Keith) no vocal, isso após terem após terem tentado como dupla folk. Paul Samuel Smith se tornou produtor de discos e Eric Clapton seguiu sua majestosa carreira (Bluebrackers, Cream, Blind Faith, Derek & The Dominos). Sabe-se ainda, que Keith Relf faleceu em 1976, eletrocutado em casa pela própria guitarra.
Antes de encerrar, devo mencionar que, em março de 1977, tive a oportunidade de estrear como colaborador do Wop-Bop Fanzine (com um artigo sobre o Van Der Graaf Generator). No mesmo número inicial, havia um artigo sobre os Yardbirds, realizado pelo colega Sergio de Morais. Umas boas leituras (e releituras) naquele artigo foram úteis para a realização desta matéria. Nem sei por onde anda o Sergio, mas toda vez que penso em Yardbirds, o seu nome logo me vem à mente."
A discografia dos Yardbirds é um mar de confusão. Os LPs ingleses e norte-americanos são diferentes entre si. Daquela fase com o Clapton , por exemplo, só foram editados na Inglaterra os LPs Five Live Yardbirds e Sony Boy Williamson and The Yardbirds (ambos ao vivo). Na América do Norte, aconteceram LPs que continham coletâneas de compactos ingleses (como é o caso do For Your Love, bem como do lado A de Having A Rave-Up With The Yardbirds). Quanto a esse último, foi o único lançado no Brasil (o lado dois foi copiado de Five Live Yardbirds).
Em 1966, foi a vez de Paul Samuel-Smith deixar o conjunto. Novamente, Jimmy Page foi convidado, e acabou aceitando. Inicialmente, tocava baixo (e pelo visto sofria muito com as humilhações de Jeff Beck). Jeff ficou até 1967, quando se retirou para formar o Jeff Beck Group.
Com a saída de Beck, Page assumiu a guitarra-solo, Dreja passou ao contrabaixo e Relf e McCarty continuaram em seus postos. Com essa formação, gravaram as faixas do LP Little Games e realizaram a última turnê pela América do Norte, em maio de 1968.
Ainda em 1968, Page montou aquele grupo que ele próprio batizou de New Yardbirds: Page (guitarra), John Paul Jones (baixo), John Bohan (bateria) e Robert Plant (vocal). Após uma excursão pela Escandinávia, retornaram para a Inglaterra e mudaram o nome do grupo para Led Zeppelin, acatando a sugestão do baterista Keith Moon (do Who). Bem, o restante você já sabe.
Quanto aos demais Yardbirds, sabe-se que Chris Dreja deixou a música para dedicar-se à fotografia (foi ele que fotografou a capa de Led Zeppelin I). Keit Relf e Jim McCarty montaram o Renaissance, contando com Jane Relf (irmã de Keith) no vocal, isso após terem após terem tentado como dupla folk. Paul Samuel Smith se tornou produtor de discos e Eric Clapton seguiu sua majestosa carreira (Bluebrackers, Cream, Blind Faith, Derek & The Dominos). Sabe-se ainda, que Keith Relf faleceu em 1976, eletrocutado em casa pela própria guitarra.
Antes de encerrar, devo mencionar que, em março de 1977, tive a oportunidade de estrear como colaborador do Wop-Bop Fanzine (com um artigo sobre o Van Der Graaf Generator). No mesmo número inicial, havia um artigo sobre os Yardbirds, realizado pelo colega Sergio de Morais. Umas boas leituras (e releituras) naquele artigo foram úteis para a realização desta matéria. Nem sei por onde anda o Sergio, mas toda vez que penso em Yardbirds, o seu nome logo me vem à mente."
(*) Comentário infeliz do autor do texto, ao se referir a Jeff Beck, um dos maiores guitarristas da história do rock
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