A revista Violão & Guitarra lançou em 1978 dois volumes de uma revista contando a historia do rock. O segundo volume trazia um texto falando do rock brasileiro, desde seus primórdios até aquele momento. Abaixo, a transcrição da matéria:
" Desde 1955, época de Bill Halley e seus Cometas e Little Richard, a música popular no Brasil começou a sofrer transformações. Primeiro, aconteceu na classe média rica, que podia vir a importar esses discos ainda não consumidos em larga escala. Com isso, vieram os primeiros bailes, regados a cuba-libre, muito papo e a tradicional luz negra. Nada de muito original, nada de muito complicado, nada de comprometedor. Apenas algumas parcerias, alguns vocais mais ousados ou algum maneirismo tipicamente importado. Mas nada de significativo.
Tudo viria a estourar mesmo em setembro de 1965. Uma música chamada 'O Calhambeque' modificaria todo o cenário da música popular brasileira pois trouxe consigo um líder. Era Roberto Carlos e seu programa Jovem Guarda, certamente um marco e um acontecimento para os jovens brasileiros, que ainda estavam se preparando para receber os Beatles e os Rolling Stones. Junto com Roberto vieram Erasmo Carlos e Wanderléa, o trio mais famoso, além de conjuntos como Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, os Beatnicks, Trio Esperança, Golden Boys, Dino & Deni e os Vips.
Roberto Carlos |
Quem pode se esquecer daquele programa da TV Record aos domingos? Roberto com maneirismos típicos - abaixando-se e lançando uma nova granada imaginária, tapando os ouvidos, levantando o polegar, tapas nas coxas para acompanhar o ritmo, passos curtos e rápidos, balançando sensualmente o corpo, fazendo caretas e frases de efeito: 'É uma brasa', 'tudo legal', 'papo firme, mora', 'barra pesada', 'tudo legal', 'bidu', 'bolha', 'estar por fora', 'lenha' - conseguiu angariar um público semanal de aproximadamente dois milhões e meio de espectadores.
E também havia a marca Calhambeque, que produzia calças, botas, saias e roupas jovens, o primeiro uniforme da juventude brasileira. A partir daí vieram os movimentos mais de vanguarda, principalmente com os festivais de música da TV Record.
E num destes festivais apresentaram-se Os Mutantes e Gilberto Gil cantando 'Domingo no Parque', já no movimento chamado Tropicalismo, que teve como líder Caetano Veloso, com a música 'Alegria, Alegria'. Foi outro fenômeno que chegou a se equiparar com a Jovem Guarda: a invasão dos baianos na música brasileira. Chegaram a São Paulo e ao Rio de Janeiro, além de Gil e Caetano, Gal Costa, Maria Bethânia (irmã de Caetano), Macalé (*), Tom Zé, Novos Baianos, Raul Seixas e todo um pessoal disposto a ganhar a vida a chacoalhar um pouco o marasmo que então tomava conta do palco nacional.
Caetano acompanhado pelos Beat Boys |
Neste ponto, quem muito colaborou com o movimento tropicalista foi o apresentador Chacrinha que, de um modo mais popular e escrachado, mostrava que nem tudo era o falso requinte de Silvio Santos e Flávio Cavalcanti nos programas de auditório. Chacrinha praticamente apadrinhou todos os baianos e seu movimento.
A respeito disto, falam os Mutantes: 'O tropicalismo surgiu num disco chamado Tropicália, onde a gente resolveu fazer ver aos brasileiros que o barato legal era tentar imitar um programa americano, mas era fazer uma coisa brasileira. Então, a gente ficava revoltado e fez a Tropicália: papagaios verdes, árvores, bananas, todas aquelas coisas'.
Outro programa que marcou a música pop brasileira foi 'Som Livre Exportação', uma tentativa de reviver o sucesso da Jovem Guarda, liderado desta vez por Ivan Lins, mas que fracassou estrondosamente, pois já não havia o elan de Roberto Carlos. Mas, por seu lado, deu um ar mais underground a alguns grupos pop, como A Bolha, O Terço, etc.
Joelho de Porco |
Mas, já a partir de 1973/74, os grupos de rock começaram a proliferar pelo Brasil. Em São Paulo havia os Mutantes, na liderança; o Joelho de Porco, que estava começando e já tinha uma faixa de sucesso, chamada 'Se Você Vai de Xaxado, Eu Vou de Rock'n Roll'. Próspero, cantor e então baterista deste grupo, lembra a situação: "Naquele tempo era tudo uma curtição, a gente tentava há muito fazer shows em teatros, mas não conseguia, por falta de aparelhagem, de oportunidade, de público, etc. Mas o Joelho tinha uma meta a alcançar e era, principalmente, uma alegria para nós apresentar aquele repertório pequeno, mas incrível, ao público.' "
(*) Macalé está relacionado entre os baianos, mas ele na verdade é carioca
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