Em 1976 a revista Música trazia uma matéria com Frank Zappa, um dos mais polêmicos e criativos músicos que o rock já produziu. Abaixo, a matéria:
"Frank Zappa e sua série de grupos de rock de avant-garde, The Mothers of Invention, não existem mais. Mas Zappa está mais vivo do que nunca, continuando a romper estruturas, atraindo milhares de pessoas aos palcos do rock - Felt Forum do Madison Square Garden e Palladium, em Nova York. Enquanto isso, avança nas paradas pop de sucesso com seu novo álbum pela WEA, Zoot Allures. E dividindo com Zappa esse renascimento de sua popularidade, seu novo grupo, chamado, simplesmente, Zappa.
Muitos fãs do Mothers, aborrecidos com o fim do grupo acusam Zappa de vendido, por tirar proveito de um som abertamente comercial. Zappa nega essa rotulação. 'Parece que ninguém pensa que os Mothers estavam com uma dívida de $10.000 quando se desfez', afirma durante uma entrevista em sua suíte no Mayfair House, em Manhattan. 'O que eu quero dizer é que eu continuava pagando aqueles salários não me importando com o que acontecesse e eu não podia continuar a pagá-los e fazer o tipo de música que eu queria.'
Esse tipo de música, a música do Zappa, é sério, música de influência classificadamente atonal, dissimulada em um rock repleto de ruídos das ruas e de dissonantes capazes de estourar os ouvidos. É o tipo de música que faz de Frank Zappa um compositor, produtor de filmes, vocalista, guitarrista líder e um músico inovador, com uma incrível aptidão para construir palavras e imagens visuais/musicais, atingindo a psyché dos adolescentes.
Nascido em Baltimore, Maryland, aos 21 de dezembro de 1940, criado na Califórnia, auto-didata musical e prestes a tornar-se um milionário às suas próprias custas, Zappa fez várias trilhas sonoras para cinema, mais de 20 elepês, e também adaptações para o rock, indo desde a Sinfonia nº 40 de Mozart a The Planets, de Holst, e numerosos trabalhos do classicista moderno Edgard Varese. E também marca presença no mercado pop com hits de protesto, como Help I'm a Rock (Socorro, sou um rock) e The Return of the Son of Monster Magnet (A volta do filho do Monstro Magneto).
Mas Zappa, tendo resistido à ruptura de um casamento como à do Mothers of Invention, está mais sombrio, mais vivido e experiente do que quando começou em Los Angeles, há 12 anos. Mais tarde, seu sucesso Don't Eat the Yellow Snow (Não coma a neve amarela) torna-o popular.
Seu novo grupo está de malas prontas para uma turnê pelo mundo todo e já comprova sua popularidade através do comparecimento maciço às suas apresentações nos Eua.
Ele inspira confiança quando fala do novo Zappa, ele próprio e o grupo. 'Simplifiquei minha música em alguns pontos e a compliquei em outros. Mas nunca por motivos comerciais.' Insistindo, afirma que a música tem de ser simplificada devido ao tamanho dos locais onde está sendo apresentada. Ao mesmo tempo, o nível de seus músicos melhora cada vez mais, sendo que, dessa forma, eles podem trabalhar com arranjos mais elaborados. 'Mesmo tocando algumas músicas do repertório do antigo Mothers, qualquer semelhança entre meu novo grupo e o original Mothers é puramente conceitual. O novo Zappa pode fazer muito mais coisas que o antigo simplesmente não podia. Então, o destaque em nossas atuais apresentações deve ser dado mais ao futuro do que ao passado. Logo, com o devido respeito aos seus integrantes de agora - 50 ou 60 ao todo - penso que chegou a hora de colocá-los na sua perspectiva histórica, e dar mais atenção aos eventos apresentados a cada ano pelos grupos sucessivos.'
Suas performances ainda oscilam entre o surrealismo e a palhaçada, mas há uma emergente maturidade em Zappa, um músico sério que acha engraçado que seu maior sucesso popular, 'Don't Eat the Yellow Snow', aconteça apenas porque um disc-jóquei estava à procura de uma novidade.
'Amo o que faço e detesto o que eu tenho de fazer pelo simples motivo de ter de fazer alguma coisa.'
O que Zappa ama é fazer música que combine luzes e filmes, teatro e humor com uma mensagem mordaz. E o que detesta é tudo o que possa estar ligado ao mecanismo de levar sua música a uma audiência monumental, o que inclui as transações com fábricas de discos e entrevistas.
Isso porque ele não quer atender o gosto do público e não espera que seus músicos fiquem no seu grupo por muito tempo. 'Eles não entram a não ser que eu sinta algum desejo da parte deles em ajudar-me nas numerosas explorações musicais que faço, mas, mesmo assim, o nível de habilidade requerido para esse tipo de trabalho é tal, que a maioria dos músicos participantes do grupo estaria totalmente qualificada para um trabalho individual em qualquer parte e teriam muito sucesso. Eu sempre percebo, no momento em que um deles se junta a mim, que certo dia ele partirá e continuará fazendo outras coisas. Como um líder, há rumores que eu sou uma espécie de tirano. Tudo mentira. Eu sou um benevolente ditador, da mesma forma que um maestro é qualificado pra reger uma orquestra.
'O que venho fazendo pode ser rotulado de funk biônico. Há também um sem-número de seleções de excessiva beleza, de uma sensibilidade intoxicadora, de uma misteriosa divisão em zonas espaciais. E, ainda, há as palavras.
O senso de humor de Zappa sobrevém, entremeado por sua queda pelo absurdo e seu respeito pela música que faz. 'Eu gosto de minha música. Da mais simples à mais estranha. E sei que existem pessoas por aí que compartilham de minha esperança por tempos melhores. E pretendo continuar a dar-lhes a melhor música que eu sei que posso oferecer.' "
Suas performances ainda oscilam entre o surrealismo e a palhaçada, mas há uma emergente maturidade em Zappa, um músico sério que acha engraçado que seu maior sucesso popular, 'Don't Eat the Yellow Snow', aconteça apenas porque um disc-jóquei estava à procura de uma novidade.
'Amo o que faço e detesto o que eu tenho de fazer pelo simples motivo de ter de fazer alguma coisa.'
O que Zappa ama é fazer música que combine luzes e filmes, teatro e humor com uma mensagem mordaz. E o que detesta é tudo o que possa estar ligado ao mecanismo de levar sua música a uma audiência monumental, o que inclui as transações com fábricas de discos e entrevistas.
Isso porque ele não quer atender o gosto do público e não espera que seus músicos fiquem no seu grupo por muito tempo. 'Eles não entram a não ser que eu sinta algum desejo da parte deles em ajudar-me nas numerosas explorações musicais que faço, mas, mesmo assim, o nível de habilidade requerido para esse tipo de trabalho é tal, que a maioria dos músicos participantes do grupo estaria totalmente qualificada para um trabalho individual em qualquer parte e teriam muito sucesso. Eu sempre percebo, no momento em que um deles se junta a mim, que certo dia ele partirá e continuará fazendo outras coisas. Como um líder, há rumores que eu sou uma espécie de tirano. Tudo mentira. Eu sou um benevolente ditador, da mesma forma que um maestro é qualificado pra reger uma orquestra.
'O que venho fazendo pode ser rotulado de funk biônico. Há também um sem-número de seleções de excessiva beleza, de uma sensibilidade intoxicadora, de uma misteriosa divisão em zonas espaciais. E, ainda, há as palavras.
O senso de humor de Zappa sobrevém, entremeado por sua queda pelo absurdo e seu respeito pela música que faz. 'Eu gosto de minha música. Da mais simples à mais estranha. E sei que existem pessoas por aí que compartilham de minha esperança por tempos melhores. E pretendo continuar a dar-lhes a melhor música que eu sei que posso oferecer.' "
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