Em sua edição nº5 (agosto de 1991), a Revista do CD trazia uma matéria com a banda The Clash, que começava a ter seus discos lançados em CD no Brasil, numa época em que esse formato começava a ganhar força, mas ainda carecia de um número significativo de lançamentos. A matéria é assinada por Jeferson de Sousa:
"A polêmica sobre qual seria a melhor banda de rock de todos os tempos é tão insolúvel, infrutífera e infindável quanto discussões sobre futebol e religião. Sendo um pouco racional, descobre-se que a importância de um grupo musical pouco tem a ver com o gosto pessoal. Ninguém precisa gostar dos Beatles, dos Rolling Stones ou do Led Zeppelin para reconhecer seu valor. Tampouco é necessário ser um admirador fanático do punk para gostar do Clash e reconhecer seus méritos. Basta analisar sua obra (e, passados tantos anos, há uma real possibilidade de distanciamento crítico) para perceber as inúmeras influências e direcionamentos deixados por esse inesquecível quarteto inglês.
A história do Clash começa no verão de 1976, quando o guitarrista Joe Strummer abandona o projeto de criar sua própria banda para se unir ao também guitarrista Mick Jones (a quem Strummer teria dito 'Cara, você toca demais, mas a sua banda é uma porcaria') e ao baixista Paul Simonon, ambos do SS. Os três eram admiradores confessos do grupo Sex Pistols e, não por acaso, pouco tempo depois eles, mais o baterista Terry Chimes, estavam fazendo as aberturas para os shows de seus ídolos.
Embora o Clash tivesse grande admiração pelo Pistols - a ponto de imitá-lo no começo -, em pouco tempo o grupo começou a chamar a atenção na cena punk londrina por sua postura e ideologia. O Clash não queria apenas ser mais uma banda punk, de trajes rasgados e atitudes niilistas. Seus jovens integrantes faziam questão de apregoar aos quatro ventos que eram 'proletários e socialistas'. Quem mais assumia essa postura era Joe Strummer, um dos líderes incontestáveis da banda. O outro mentor musical do grupo, Mick Jones, sempre marcou presença por sua postura de rocker (nos shows e mesmo em disco se portava como um guitar hero e, muitas vezes, foi ironizado por Joe).
Naqueles anos (1976/1977) as coisas realmente ferviam no mundo da música pop, sobretudo em Londres. Uma verdadeira revolução estava ocorrendo, fomentada por jovens entre 16 e 20 anos. Eles esbravejavam contra ídolos decadentes que ostentavam seus discos de ouro, mansões e limusines; e protestavam contra a decadência do rock, perdido entre a melosidade e o virtuosismo vazio.
Em março de 1977 o Clash lança seu primeiro compacto, White Riot/197, e ainda no mesmo ano apresenta o primeiro álbum, The Clash, provando que seu trabalho era mais do que um simples fruto da empolgação. Tratava-se de uma obra de auto nível e, ao mesmo tempo, de um violento manifesto contra a corrida armamentista, o desemprego e o racismo. Ou seja, uma antítese do movimento punk.
A história do Clash, como aliás a de todas as grandes bandas, não é uma história tranquila.. Em 1978 o grupo é tachado de traidor do movimento quando lança Give 'Em Enough Rope, produzido por Sandy Perlman, já famoso por seu trabalho com o grupo Blue Oyster Cult, banda violentamente repudiada pelos punks. O que mais incomodava nesse segundo álbum do Clash era sua opção pelo rock-and-roll, o que representava um inequívoco sinal de diluição para a geração punk. Analisando hoje, Give 'Em Enough Rope soa como um álbum cru e sincero. Mas na época ninguém tinha muita paciência para perceber tais sutilezas. Depois de acusar o Clash de traição, adesão ao sistema e ambição (acusações que, aliás, nunca tiraram o sono dos membros do grupo), os fãs da primeira hora ficaram perplexos com o terceiro álbum, London Calling. O rompimento final com o radicalismo punk se daria com o álbum triplo Sandinista!.
Em 1982 o grupo lança Combat Rock e, a partir do sucesso desse álbum, conquista os Estados Unidos e se consagra como uma megabanda. A essa altura, os atritos entre Strummer e Jones já tinham arrefecido, mas pouco depois Jones deixaria o Clash para fundar o Big Audio Dynamite. Strummer e Simonon tentaram manter o Clash com novos integrantes, e em 85 lançaram o álbum Cut the Grap - um grande fracasso, que não merece constar da discografia da banda.
O Clash não teve, então, condições de sobreviver, e naquele mesmo ano o grupo se desfez. Mas continua vivo nos acordes das bandas que ainda hoje se inspiram nos ousados modelos criados por esses músicos visionários, que anteciparam os rumos do rock moderno. "
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