quarta-feira, 30 de junho de 2021
Arnaldo Batista Fala Sobre os Mutantes - Revista Bizz (2000)
Dando continuidade à entrevista concedida à revista Bizz em novembro de 2000 (nº 184), trago hoje a segunda parte da postagem, dessa vez com as respostas de Arnaldo Batista. Ontem publiquei as de Rita Lee, e amanhã a terceira parte, com Sérgio Dias:
“O A e o Z refletia uma paixão que nascera em 1971, quando conheceram o Yes Album. Alegando que o álbum não tinha apelo comercial, a Philips optou por não editá-lo e ainda dispensou a banda. O trabalho foi lançado 19 anos depois, já em CD. Arnaldo, já apresentando sinais de que algo não estava em ordem em sua cabeça, sai do grupo.
A partir daí, os Mutantes nunca mais se fixariam numa mesma formação. Dos integrantes originais, apenas Serginho restara para gravar Tudo Foi Feito Pelo Sol, de 1974. Em 1976, lançam Ao Vivo e, em 1978, fazem sua última apresentação, em Ribeirão Preto (SP). No primeiro dia de 1982, o baque: Arnaldo se atira do terceiro andar do Hospital do Servidor Público, em São Paulo. ‘Quando aconteceu, eu estava em Nova York e encontrei Serginho, que morava lá. A gente não teve coragem de tocar no nome de Arnaldo. Eu pensava: ‘Será que ele não sabe?. Saímos junto, conversamos, mas não falamos no assunto. Foi uma coisa estranhíssima’, conta Liminha.
Recuperado, Arnaldo foi morar em Juiz de Fora (MG), onde vive até hoje com sua esposa, Lúcia. Rita Lee seguiu seu destino e se transformou em um dos maiores nomes do rock brasileiro. Liminha tornou-se um produtor de sucesso, trabalhando com Ultraje a Rigor, Titãs e Kid Abelha, entre outros. Serginho radicou-se nos Estados Unidos, gravou discos com jazzistas e voltou ao Brasil recentemente. Prepara um álbum para este ano. Somente Dinho afastou-se da música, abrindo uma assessoria de imprensa ligada ao automobilismo.
- Os Mutantes tinham consciência da profundidade do que estavam fazendo, de seu papel revolucionário?
Arnaldo – O fato de a gente ser mais cosmopolita influenciou bastante. A primeira vez que ouvi Sgt. Peppers foi com Gilberto Gil, na época em que ele namorava Nana Caymmi. Curtíamos muito música estrangeira. E Gil tinha uma coisa romântica, poética no violão. Mas nunca pensamos que estávamos revolucionando totalmente. Eu sempre achava que faltava algo. Foi isso que fez a gente crescer musicalmente.
- O que seriam os Mutantes, não fosse terem cruzado com Rogério Duprat e com os tropicalistas?
Arnaldo – Duprat foi importantíssimo. A gente encontrava com Gil, Caetano, Jorge Ben, aquela coisa de violão e vocal, era bonito. Duprat complementou, abriu nossa cabeça, com ele comecei a tocar piano, a desenvolver meu lado clássico. Entramos com guitarra e contrabaixo na MPB.
- Qual era o papel de Dinho e Liminha?
Arnaldo – A gente era bem Peter, Paul & Mary: eu, Serginho e Rita. Ensaiávamos com um violão e três vozes. Com Dinho e Liminha, até os ensaios mudaram, ficou aquela coisa poderosa.
- Quando as drogas entraram no grupo? Como elas expandiram o som?
Arnaldo – Acho que comecei com maconha ainda nos tempos do (colégio) Mackenzie... Mas a expansão de verdade se deu em Paris, quando tomamos LSD pela primeira vez. Não uso o termo ‘drogas’, chamo de ‘expansores da musculatura mental’. Isso pode ir do cafezinho ao LSD. A gente passou a ter uma visão mais ampla da música. Por exemplo: eu tinha um órgão, passei a usar pedal. Era uma coisa meio assim: ‘Está tudo muito bom, vamos adiante’.
- O que os Mutantes perderam com a saída de Rita?
Arnaldo – Perdemos o lado circense, pop. Mas a gente podia buscar um lado mais circense no estilo ‘globo da morte’, mais pesado. Tentei e não consegui. Não foi nem bom nem ruim para os Mutantes: foi evolutivo.
- Por que os Mutantes adotaram o som progressivo?
Arnaldo – O marco foi o Yes Album. Nos Beatles, havia a hora em que George improvisava, que Ringo improvisava. Ali, não: parecia que os caras estavam improvisando direto. Tudo o que a gente quis fazer, fez: rock, sertanejo, psicodélico, tropicalismo. Aí quiseram ser progressivos. Foi a última viagem dos Mutantes.
- O que você pretendia ao deixar o grupo?
Arnaldo – Queria fazer a música que eu tinha em mente, que eu sonhava: com continuidade, sem final. Fiquei meio perdido, mas a música continuou meu sonho. E Rita estava fora dele.”
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A banda fez história.
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