A dupla gaúcha Kleiton e Kledir se destacou no mercado musical brasileiro, realizando um belo trabalho, que trazia um misto de rock e MPB, sempre destacando suas raízes gaúchas, presentes em seu trabalho. O lado rock já vinha sendo trabalhado desde os tempos da banda Almôndegas, que conseguiu um certo destaque fora do eixo sulista ainda nos anos 70. Após formar uma dupla, os irmãos gaúchos alcançaram o sucesso nacional com várias de suas músicas tocando em rádios e novelas de TV, em gravações próprias ou com outros intérpretes. Em 1983 a revista Música nº 69 trazia uma boa matéria com a dupla, assinada por Marina Teixeira de Mello. Numa introdução a matéria dizia: "Há cerca de três anos uma leva de músicos gaúchos deixou o Sul, em busca de um mercado de trabalho mais promissor no Rio e em São Paulo. Alguns lançaram discos, outros tiveram suas composições gravadas por cantores renomados - mas quase todos permaneceram relativamente desconhecidos do grande público. Uma dupla entretanto destacou-se: os irmãos Kleiton e Kledir Ramil, com sua folclórica 'Maria Fumaça'. Apoiados com força total pela gravadora Ariola, conquistaram imediatamente um espaço que vêm desenvolvendo e ampliando através de excelentes trabalhos." Segue abaixo a matéria:
"Kleiton - extrovertido, falante, gestos largos - geralmente faz a música. Kledir - mais reservado, sorriso tranquilo - escreve as letras. Entre os dois uma afinidade que se torna tangível, e que talvez seja a chave de seu sucesso. Amizade de toda uma vida, que Kledir colocou poeticamente numa das faixas do novo disco, que lhes leva o nome. Trata-se de sua versão para a bela canção de Simon & Garfunkel, 'Bridge Over Troubeled Water': "Sei que a vida vai aprontar/ e o que vier, azar. /A dois é fácil segurar/ Se Deus deixar, viu, meu amigo/ vou estar sempre aqui/ junto a ti, feito corpo e alma/ meu irmão, meu par.'
Kleiton toma a palavra para falar do LP que acabam de lançar: o terceiro como dupla e o sétimo contando os que gravaram com o grupo Almôndegas, do qual fizeram parte. 'Já estamos desenvolvendo este trabalho há quase dois anos, e a consistência do repertório vem desse tempo de preparo. Nada é gratuito: cada música foi pensada para ter a mesma importância, e procuramos fazer, em todos os detalhes, um disco de alta qualidade.'
Na realidade, o maior empenho de Kleiton e Kledir tem sido em aprimorar e refinar o seu trabalho musical. Isso fica patente no novo LP, onde se nota um especial cuidado - desde a capa (feita por Naum Alves de Souza) até os excelentes arranjos, com a inclusão de solistas e instrumentistas. Na faixa Saiçú (composta por Kledir em homenagem a Gal) há a participação de Egberto Gismonti e sua sanfona. E eles brincam: 'Em Tão Bonito, temos o coral mais caro do Brasil. Lá estão os artistas que representaram o Brasil no Festival de Cuba: Nara Leão, MPB4, Miúcha, Marieta Severo...'
Dizem-se 'contestadores em alto astral'. E realmente a alegria e o lado positivo estão presentes em todo o disco, onde homenageiam Caetano em Viva e Jobim em Águas de Dezembro. Há ainda a faixa que a censura proibiu nas rádios: O Analista de Bagé, baseada no famoso e divertido personagem de Luís Fernando Veríssimo.
Nos tempos do Almôndegas |
Se os dois irmãos pesquisam em sua música todos os recursos eletrônicos, isso não significa que tenham abandonado o regionalismo. 'Aliamos as duas coisas - explicam. 'Conservamos as raízes e, como dizem por aí, o sotaque se sente até nos dedos... Se fôssemos fazer um rock, ele sairia de bombachas. Mas falamos numa linguagem musical da atualidade, neste disco, a faixa realmente regional é justamente O Analista de Bagé - que retrata todo o linguajar característico do Sul.'
Entre os muitos planos da dupla está a gravação de um disco em espanhol. 'Estamos 'namorando' essa ideia há tempos. A língua espanhola garante um bom mercado internacional e, além disso, nos é muito familiar. Nosso pai nasceu no Uruguai, e crescemos ouvindo Astor Piazolla.'
Falando sobre o show que estão preparando a partir do disco, e com o qual virão a São Paulo em agosto, Kleiton se entusiasma: 'Desta vez estamos pensando em termos de Anhembi. Com um renomado paulista - Naum Alves de Souza - cuidando da cenografia, pretendemos atingir um espaço cada vez maior.' Kledir acrescenta, no seu jeito calmo: 'A viagem que fizemos com o MPB4 nos plantou um bom público por todo o Brasil. Mas o importante agora é lançar o disco, penetrar com ele no mercado - e então partir com tudo para o show.' E com um sorriso, resume tudo numa tirada muito gaúcha: 'Não é bom colocar a carreta antes dos bois...' "
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