Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 11 de junho de 2021

Secos & Molhados - Revista Bizz (1993)


 O fenômeno Secos & Molhados nunca foi esquecido. Volta e meia o grupo é lembrado, não só em matérias de jornais e revistas como em livros, que até hoje são publicados, e tentam explicar o que eles significaram não só em termos musicais, como em análises sobre o fenômeno de massas que o grupo significou. Muito se fala ainda sobre a possível cópia de seu visual de rostos pintados, por parte da banda Kiss, levantando diversas teorias, embora nada tenha sido comprovado. Enfim, os Secos & Molhados sempre será referência musical dos anos 70 no Brasil, embora só tenha lançado dois discos em sua curta, mas altamente significativa carreira. Em 1993, vinte anos após o seu surgimento, a revista Bizz, em sua edição nº 94 trazia uma análise sobre os S&M, em matéria assinada por Rogério de Campos:

"Era 73 e a imprensa anunciava: o rei foi deposto. Roberto Carlos tinha sido superado em vendas pelos Secos & Molhados.

Bastava ligar o rádio para confirmar. O público, principalmente as crianças, adorou aqueles esquisitões vestidos de vespas marcianas rebolando feito uns alucinados e cantando músicas estranhas a respeito de sacis e fadas.

A febre Secos & Molhados durou pouco mais de um ano. Durante esse período eles lançaram seu primeiro disco, causaram escândalo, lotaram todos os lugares onde tocaram, gravaram o segundo álbum e acabaram com o grupo.

Foi a trajetória mais surpreendente da história do rock no Brasil. RPM perde de longe.

A banda surgiu do nada, lançou seu disco com uma tiragem inicial de mil e quinhentas cópias e depois de seis meses chegaram à marca das quinhentas mil. Falava-se até em venda de oitocentos mil discos. Segundo a gravadora Continental, quando o segundo disco foi lançado, trezentas mil cópias foram vendidas antecipadamente. A banda era responsável por  90% das vendas da Continental, que colocou 21 das 24 prensas de sua fábrica trabalhando exclusivamente para eles.

E a banda sonhava com o sucesso internacional. 'Eu visualizei que eles poderiam ser tão famosos, ou mais, do que os Beatles', viajava o empresário da banda Moracy do Val na revista Veja. Pelas suas contas, os Secos & Molhados seriam 'um dos dez grupos de música pop mais importantes do mundo em 74'.

O líder da banda, João Ricardo, tinha sua teoria: 'Houve um grande estouro nos EUA, com Elvis Presley. Depois, outro na Europa, com os Beatles. O próximo teria que vir daqui, porque lá fora ninguém tem mais nada a dar'. Ainda que uma legião de imitadores tenha aparecido na sequência, a banda tinha pouca ligação com o que se fazia no Brasil na época.

Estavam sincronizados com o glitter rock do Roxy Music, do T. Rex e outros. Mas nem eles próprios pareciam se dar conta disso (também ignoravam que ao mesmo tempo estava surgindo nos EUA uma banda com o mesmo conceito de maquiagem: o Kiss). Aparentemente ninguém do grupo conhecia muito mais coisas, além dos Beatles.
Para o baixista Willie Verdaguer (autor do arranjo de 'Alegria, Alegria'), da banda de apoio, o que eles faziam era 'rock progressivo'. Mesmo assim, Willie acha que o som não era o mais importante: 'O lance era o Ney Matogrosso'. Perto dele, os outros integrantes da banda eram apenas parte do cenário. João Ricardo e Gerson Conrad podiam parecer andróginos, Ney Matogrosso era outra coisa, um bicho esquisito sem sexo ou origem definida. Seus gestos exagerados - herança talvez de sua experiência como ator de teatro infantil - lembravam feiticeiros africanos de filmes holywoodianos, ou um pássaro assustado defendendo seu território.
A banda acabou quando o segundo disco chegou nas lojas, em agosto de 74. Brigas por causa de dinheiro e  ciúmes. Ney Matogrosso se lançou como cantor de MPB.
Gerson Conrad tentou uma carreira ao lado de Zezé Motta e depois abandonou a música. As últimas notícias são que teria se tornado industrial e estaria fabricando latas decorativas. João Ricardo, dono da 'marca' Secos & Molhados, tentou três vezes (em 78, 87 e 91) a volta da banda com outras formações, mas sempre quebrou a cara. Tem um disco inédito pronto para ser lançado. E vinte anos depois, o Brasil ainda continua esperando alguém tentar ultrapassar o fenômeno Secos & Molhados."
 




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