Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Falando de Rock, Jazz e Drogas - Revista Ele Ela (1ª Parte)

Uma das primeiras matérias que eu destaquei e guardei foi uma publicada na revista Ele Ela, escrita por Roberto Muggiati, falando de astros do rock e do jazz que morreram ou estiveram próximos à morte pelo uso de drogas. Não encontrei nenhuma referência quanto à data de publicação, mas creio que seja início dos anos 70. A ilustração que coloquei acima é a que veio na matéria. Abaixo, a reprodução do texto:
"Em 1967, a grande safra da cultura hippie - muitos acreditavam ainda num 'poder da flor' - os Beatles lançavam o que viria a ser o primeiro militar desligado da tropa por uso de tóxicos, 'explicava com humor John Lennon ao informar que o famoso LP devia sua criação aos poderes mágicos de LSD. O alucinógeno era homenageado no título de uma das canções, Lucy in the Sky With Diamonds, assim como no espírito e na letra de quase todas. A Day in the Life foi cortada da programação da BBC porque fazia alusões claras ao LSD (I'd love to turn on = eu adoraria deixar você ligado). She's Leaving Home era uma convocação aos jovens; abandonem a casa dos pais e saiam pelo mundo. (I get high) With a Little Help from my Friends falava de maconha; ' Eu me ligo, com uma pequena ajuda dos amigos.'
Foi com uma pequena ajuda do amigo Bob Dylan que os Beatles se iniciaram na maconha, alguns anos antes: 'Dylan', conta John Lennon, 'tinha ouvido uma canção nossa que dizia I can't hide (não posso me esconder) e entendera I get high (eu fico ligado). Correu para nós e disse: 'Vamos, pessoal, estou com um fumo genial.' Pensava que fôssemos veteranos da erva. Fumamos e rimos a noite inteira.' John Lennon confessou também em entrevista recente que, momentos antes de receber a Ordem do Império Britânico, os quatro Beatles se trancaram no banheiro do Palácio de Buckingham e fumaram um cigarro de maconha: ' Sorrimos como idiotas diante da rainha porque tínhamos acabado de de queimar um fumo.' Outro templo do poder estabelecido, a Casa Branca, foi também ameaçado de invasão pela droga. A cantora Grace Slick, do grupo Jefferson Airplane, filha de um banqueiro da Califórnia, convidada para um chá de ex-alunas do Finch College, onde foi colega da filha de Nixon, Tricia, dirigiu-se à Casa Branca munida de LSD em pó, que ela planejava colocar sorrateiramente  na taça de chá da filha do presidente dos EUA, ou do próprio presidente, 'se o velhote desse as caras'.
Bob Dylan
Mas o choque de duas mortes - Jimi Hendrix e Janis Joplin - veio finalmente sacudir os jovens da música pop, mostrando que nem tudo eram flores e que as brincadeiras no playground peicodélico não eram tão inocentes como pareciam. A viagem no submarino amarelo (yellow submarine é um tipo de bolinha) podia ser muito colorida, mas também podia ser a última. Desde 1968, ano dramatizado por uma série de conflitos políticos - os acontecimentos de maio, Praga, Chicago, Luther King, Bob Kennedy - alguns dos principais ideólogos do rock começaram a rever o seu pensamento com relação às drogas.
Paul McCartney, sobre a morte do empresário dos Beatles, Brian Epstein: 'Não recomendo o LSD. Pode abrir algumas portas, mas não traz nenhuma resposta. Vocês devem procurar a resposta dentro de vocês mesmos.'
John Lennon, depois do seu casamento com Yoko Ono: 'LSD? É preciso ser prudente. Serviu-nos para fazer o LP Sargent Pepper's. A mim, serviu como espelho. Mas a maioria das pessoas não aguenta encarar-se num espelho.'
E Bob Dylan, depois do acidente de moto que o prendeu à cama durante um ano: 'Tomei drogas e fiz uma porção de coisas, mas não quero mais viver dessa maneira. Agora estou à espera de melhores tempos - estão me entendendo?'
Pete Townshend, do conjunto The Who, compôs uma ópera-rock, Tommy, contando a história de um garoto que nasce cego-surdo-mudo e passa pelas mãos de dezenas de médicos, curandeiros e milagreiros, sem nenhum resultado, até o dia em que toma LSD e começa de repente a ver-ouvir-falar-sentir. Hoje Pete Townshend faz a sua autocrítica: 'A droga interrompeu a minha vida, destruiu minha adolescência. É a pior coisa neste planeta. Músicos como Hendrix, tentando encontrar-se espiritualmente, vivem num mundo de cidades e multidões. Com as drogas a gente pode estar no meio da ação e também a centenas de quilômteros de distância. Mas o verdadeiro afeito da droga é neutralizar a vida. ' "
(continua)



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