Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Primeira Vez que Eu Li Sobre Itamar Assumpção - Jornal Canja (1980) - 1ª Parte

Em 1980 o movimento que ficaria conhecido como "Vanguarda Paulista" começava a se esboçar, e alguns nomes já ganhavam um certo destaque. Arrigo Barnabé já chamava a atenção pra seu trabalho, e outro grande nome do movimento, Itamar Assumpção, ainda era um desconhecido que já chamava a atenção para seu trabalho, ainda sem um disco lançado. Lembro que a primeira vez que li algo sobre ele, foi no jornal quinzenal Canja, em outubro de 1980. Na matéria, assinada por José Américo Dias, ele é chamado de "O Hendrix da Vila Madalena". Inclusive na foto que ilustra a matéria, reproduzida acima, Itamar aparece em uma pose lembrando o guitarrista americano. Creio que foi a única vez que Itamar é associado a Hendrix, talvez por uma certa semelhança entre os dois na citada foto. Pouco tempo depois o nome de Itamar já começava a ganhar a mídia, principalmente após o lançamento de seu primeiro disco, "Beleléu, Isca de Polícia". O resto é história. Abaixo, a matéria:
"Para Tetê e o Arrigo Barnabé, ele é o máximo. Para o maestro Rogério Duprat, um dos melhores da nova geração. Para os gatinhos e as gatinhas que curtem música na Vila Madalena, 'um cara tão incrível, que lembra Jimi Hendrix'. Para ele próprio, um músico de talento que mais cedo ou mais tarde vai conseguir 'abrir uma brecha no esquema musical das gravadoras e fazer sucesso'.
Não. Não. Não estou falando de nenhum garoto que acaba de pintar. Falo de Itamar Assumpção, um cara de 30 anos, casado, pai de duas filhas e já com mais de sete anos de batalha só em São Paulo. Nestes anos todos nunca conseguiu gravar um disco e, muito menos, realizar o sonho que jamais abandona: conquistar um espaço nas rádios, de preferência na faixa AM, mais ouvida pelo povão.
Acredito que poucos teriam aguentado uma barra dessa. Ou, pelo menos, não tivessem mudado a linha de trabalho. Mas este negro de 30 anos, magro, cara de intelectual, fala mansa, cantor, letrista e contra-baixista, é osso duro de roer. Ainda bem. Pois quem teve a chance de vê-lo tocando em uma das quatro apresentações que fez no Teatro Lira Paulistana, em São Paulo, deve ter chegado perto do desbunde.
 É difícil enquadrá-lo num gênero musical determinado. Sua música traz elementos do rock, do reggae (a percussão, principalmente), mas de repente fica até com jeito de samba. Com balanço a tudo. Às vezes até com breques gênero Moreira da Silva. Coisa de louco.
Antes das apresentações no Lira Paulistana, Itamar havia dado o ar da sua graça raras vezes. Falta de chance, segundo ele. Porque ligadão na música ele sempre esteve. Aliás, há três anos que não faz outra coisa. Em 77, abandonou o seu último emprego fora da música, emprego temporário de entregador de impostos. A mulher, funcionária dos Correios, aguentou as pontas daí pra frente, pois a música na vida de Itamar ainda não serviu para faturar os cobres tão necessários à sobrevivência.
Em maio deste ano, ele venceu o Festival de Música Popular da Vila Madalena, com Nego Dito, música e letra dele. Participou de um disco com as melhores músicas do Festival, lançado pela Continental, e a partir disso conseguiu melhorar um pouco as coisas para o seu lado. Vieram alguns convites para shows, algumas participações ao lado de Arrigo Barnabé e Banda Sabor de Veneno, e a possibilidade de gravar um disco, com apoio do Gordo, dono do Lira Paulistana. Os quatro shows do mês passado no Lira foram gravados  em fita, mas a sua transformação em disco é coisa para o futuro. Itamar não tem certeza por enquanto."
(continua)

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