Palavras Domesticadas

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sábado, 27 de junho de 2015

Duane Allman - An Anthology

Duane Allman foi um dos melhores guitarristas de sua geração. Sua técnica e precisão o levaram a participar como convidado de vários álbuns de renomados artistas, além de atuar em sua banda, a Allman Brothers Band. Infelizmente, um acidente fatal de moto em 1971 o levou prematuramente. O álbum póstumo "Duane Allman An Anthology" foi lançado com várias gravações em que ele participou. A Revista do CD nº 11, de fevereiro de 1992 fala do lançamento do disco em CD, em texto escrito por Airton Seligman:
"É comum elogiar o trabalho do guitarrista norte-americano Duane Allman citando The Allman Brothers Band, o brilhante grupo que formou com o irmão-tecladista Gregg no final dos anos 60. Também são frequentes as reverências a Duane lembrando sua colaboração com Eric Clapton, no álbum Layla and Other Assorted Love Songs, de dezembro de 70.  Raro é recordar Duane Allman como um dos mais inventivos, viscerais e atuantes músicos de estúdio da história do blues e do rock. Duane trabalhou em discos de mais de duas dezenas de artistas, incluindo alguns de soul e country. Tudo isso somente até os 24 anos, quando morreu num acidente de moto, em 29 de outubro de 71. Antes tarde do que nunca, chega ao Brasil uma síntese, equilibrada e ao mesmo tempo vibrante, da rica e fugaz trajetória deste mestre. Trata-se do CD duplo Duane Allman - An Anthology, que a Polygram acaba de lançar, com - é bom lembrar - quase todas as 19 faixas extremamente degustáveis, o que é raro em coletâneas.
Duane teve uma vida barra-pesada. Nasceu em Nashville, Tennessee, em 1946. Três anos depois, seu pai foi assassinado. Em 1958, a mãe levou os filhos (Greg tinha nascido um ano depois de Duane) para a Flórida para evitar de pô-lo num orfanato. Curiosamente, foi uma motocicleta que deu início à carreira: a primeira guitarra foi comprada em 1960, com  a venda da sucata de sua Herley Davidson, demolida num acidente. Aí aconteceu: Duane desistiu da escola e passou a ouvir tudo que podia: blues, rhythm and blues, country, jazz e rock.
Mais venerado por seu genial trabalho com o slide, um tubinho que desliza sobre as cordas enfiado na mão esquerda do guitarrista, característico do blues e do country, Duane era mestre também na guitarra tradicional. Optava por um outro método, indiferente de gêneros musicais, e ainda misturava ou mais destes gêneros numa mesma música. Dois temas são exemplares. Hey Jude, dos Beatles, transformada em soul por Wilson Picket por sugestão de Duane, traz um arranjo de teclados e metais típicos do gênero mas é pontuado por frases country da guitarra de Duane. Também surpreendente é o uso de slide em soul music, como fez em The Weight, gravado por Aretha Franklin.
Há bons rocks na antologia. Não poderia faltar, claro, a desesperada gravação de Layla que Clapton compôs para a mulher de George Harrison, por quem estava apaixonado. Metade da tensão do arranjo seria perdida sem o slide de Duane. Aliás, foi com ele que Clapton desenvolveu interesse pelo tubinho. Os dois dividem rifs de slide nos violões de Mean Old World, um blues sincopado da época do álbum Layla, mas editado pela primeira vez nesta antologia (nos EUA em 1972).
Era justamente no blues que Duane  se fazia mais pungente. Em B.B. King Medley, compilação de três clássicos do famoso bluesman, Duane mostrava, em 68, ainda no grupo The Hourglass, o que faria mais tarde no Allman Brothers: um som elétrico, pesado e com forte tendência bluesy. Cinco faixas são dedicadas a sua última banda, entre elas o carro-chefe Statesboro Blues e o rhythm'n blues Don't Keep me Wodering.
Dois temas destacam a precisão e a emotividade no uso do slide. No boogie Shake For Me, Duane faz contraponto ao vocal gutural de John Hammond com um riff histericamente suingado. E no blues acústico Rollin' Stone, com Johnny Jenkins, ele parece um xamã evocando seus heróis do Delta."

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