A banda Veludo era uma das mais importantes do rock brasileiro dos anos 70. Ao lado de bandas mais fam é sempre lembrado quando se fala de rock brasileiro daquele período. Tive a oportunidade de assistir a um show da banda em um festival que aconteceu em minha cidade, Campos dos Goytacazes/RJ, em 1975, abrindo para os Mutantes e o percussionista Dom Um Romão, e pude testemunhar a energia da banda no palco.
Em sua edição nº 24, de outubro de 1976, o Jornal de Música, em sua seção "Ao Vivo", é feita uma resenha de um show da banda no Teatro Teresa Raquel, no Rio, um espaço onde sempre rolava grande shows de MPB e rock. A matéria é assinada por Ezequiel Neves, e é intitulada "Veludo, Agora Um Som Latino". A formação da banda já estava bem modificada em relação à mais conhecida, mas pela crítica, a banda estava tomando um bom rumo, com a entrada de novos integrantes. Abaixo a reprodução do texto:
"O Veludo tem uma longa história. Primeiro era conhecido como Veludo Elétrico (idos de 72), e depois disso, a maioria de seus participantes se dispersou por outras bandas. Paul de Castro (guitarra) segurou a barra com seus blues elétricos e o Veludo prosseguiu sua eufórica caminhada em 73/74. Me lembro de um show no João Caetano onde o grupo apareceu com uma formação de deixar todo mundo de quatro. O show era dividido com o Vímana, Mutantes e Terço. Mas me lembro mais do assalto sonoro detonado por Paul e Cia: a banda estava de lascar, com metais explodindo e um balanço de fazer dançar múmia de faraó.
Depois disso houve uma fase meio desiquilibrada. Entre a fidelidade ao blues e os voos progressivos eruditosos, Paul de Castro optou pelo segundo lance. E veio o dilúvio afogando Paul, Nelson Laranjeiras (baixo), Elias Mizhari (teclados) e Aristides Marques Mendes (bateria). O requiescat in pace aconteceu no Maracanãzinho, quando o quarteto abriu o show de Bill Halley. As vaias foram maiores que as que Nana Caymmi ganhou em todos os Festivais da Canção.
Quando Paul resolveu deixar o quarteto para entrar nos Mutantes pensei que o Veludo fosse, definitivamente, bater as botas. Fiquei no pensamento, pois uma tarde topei com Aristides, que me contou coisas amazings. Além de dizer que o Veludo já estava ensaiando com muita gente nova, me contou também que o seu negócio não era martelar a bateria, e sim atacar de guitarrista.
Dito e feito. Fui ver o novo Veludo numa segunda-feira, no Teresão, e saí de lá ouriçadíssimo. Não que a nova banda esteja tinindo, mas o que vi e ouvi dá pra sacar que lances melhores ainda vão pintar. Em primeiro lugar, o Veludo agora é um septeto (Aristides, guitarra e bandolim; Nélson, baixo; Elias, teclados; Afonso Correa, percussão; Paulo Norte, flauta e guitarra; Flávio Cavaca, vocal, percussão, violão; e Pedro Pedra, vocais), o que abre novas possiblidades sonoras e um largo campo para improvisações. E o melhor: a banda está mesclando muito bem o balanço da percussão, um som latino ao extremo, com investidas bem próximas ao som progressivo muito elitista. E o rock come solto, deixando a garotada na maior euforia.
Ainda acho que as novas composições (não guardei o nome de nenhuma delas) precisam ser mais elaboradas e definidas, mas isso são grilos que o tempo apagará. O que precisa ser dito é que as grandes forças do grupo são mesmo Nélson e Aristides. O primeiro está simplesmente esporrante, louco, diabólico - arrojando uma técnica fantástica. O segundo, além de de ser bastante desinibido no palco, faz misérias e cospe fogo à guitarra. E faz tudo sem nenhum show de exibicionismo, apenas se esbaldando com o que adora fazer, e faz bem às pampas... Quer queiram ou não queiram: estamos diante de um dos melhores guitarristas do Brasil.
PS - O grupo Apaluza abriu o show do Veludo. Apesar dos integrantes muito bons, o Apaluza ainda está verde."
Desconheço a banda.
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