Belchior é sem dúvida um dos artistas mais representativos de sua geração, aquela que se destacou nos anos 70. Tendo alcançado um reconhecimento em 1971, quando saiu vencedor do Festival Universitário da TV Tupi, com Hora do Almoço (na época, estudava Medicina), Belchior veio conhecer o sucesso de verdade em 1976, quando Elis Regina gravou Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida, de sua autoria, e mais tarde, no mesmo ano, quando gravou seu segundo disco - Alucinação.
Em 1980, a revista Música nº 41 trazia uma boa matéria sobre Belchior, escrita por Luiz Sérgio de Viveiros, e que trazia um belo título, que refletia bem os temas mais usuais em suas letras: "Belchior: Um Grito da Juventude Sufocada";
"Um dos melhores letristas surgidos pós-tropicalismo foi Belchior, um cearense criado em Sobral, e que vindo desse interior sem parentes importantes e sem dinheiro no bolso, se tornou um sensível repórter dos conflitos da juventude brasileira e latina (da América do Sul).
Seu trabalho é coerente e contínuo dentro de um estilo poético caracterizado pela crueza dos fatos, pelo clima concreto e relativamente subjetivo que envolve sua música/poesia.
O primeiro disco solo foi gravado em 1974 na Chantecler, contendo a antológica e fundamental 'Na Hora do Almoço', música que situa a família num cotidiano, até irônico e passivo. Essa letra envolve símbolos do paternalismo - presente em nossa realidade social.
Nesse trabalho há outros momentos envolvendo (paralelamente à sua poética) a realidade, talvez mais nordestina que brasileira. E uma música muito forte: 'Senhor dono da casa', que encara frente a frente e 'exploracion'.
Em 1976, viria o Alucinação (Phonogram), um disco ótimo e fundamental para a música brasileira dos anos 70. Belchior rebuscou conflitos de uma geração ainda perdida; envolvida no 'sonho' dos anos sessenta e estática perante um futuro já presente. Remexeu os quadros das memórias...
The dream is over. Era preciso gritar.
Aliás, John Lennon é um compositor que influenciou (e influencia até hoje) o seu trabalho de maneira muito especial, já que sentimos uma 'força' herdada por Belchior na temática e no estilo musical discursivo e irreverente.
Em 1977 (na WEA), 'Coração Selvagem' e 'Paralelas' marcariam o romantismo desse compositor que já não é puramente nordestino e sim reflexo da urbanidade que o cercaria desde os tempos dos cabarés da Lapa e da São Paulo violenta.
'Todos os Sentidos', de 1978, seria uma ruptura do seu trabalho com um engajamento direto. Sua mensagem viria através de uma estranha discoteca a partir de re-escritos de textos bíblicos, além da criação da imagem de mito sexual/sensual, embrionária da capa do disco anterior.
Seu mais recente trabalho, 'Era Uma Vez um Homem e Seu Tempo', é de certa forma a continuidade de trabalhos anteriores. 'Medo de Avião' estaria ligado ao 'Pequeno Mapa do Tempo'. 'Conheço Meu Lugar' é mais uma mostra de sua poética irreverente; 'Pequeno Perfil de um Cidadão Comum' enfoca o típico indivíduo classe média urbano.
Belchior é um dos mais sérios artistas de nossa música, já que seu trabalho é baseado em temas que vão desde a rotulação e os compromissos sociais, à marginalização do 'Novo', às barras do jovem oprimido nesses anos todos, à latinidade dos jovens sul-americanos, à massificação, à robotização do homem, e à polêmica man/machine."
Sensacional este blogue, meu caro. Vida inteligente na web. Não desista!
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo elogio.
ResponderExcluirUm abraço
Morre o homem,fica a sua arte.
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