"Egberto entende o Brasil através de uma frase de Teixeirinha, o cantor sertanejo: 'Ele tem uma frase ótima que define essa situação com clareza. Uma vez um repórter perguntou ao Teixeirinha porque ele não fazia um show no Anhembi ou no Maracanã. Ele respondeu que era porque ele trabalhava no resto. E o Brasil é isso aí. Tem Rio de Janeiro, São Paulo e o resto. Tanto a nível de cultura quanto de política. Achar que está difícil o Rio e São Paulo em peso, eles acham. Somou 20 milhões de pessoas. Para 120 milhões de pessoas isso é minoria. Em Cuiabá eu achei duas pessoas que concordaram com esse raciocínio. As outras não. João Pessoa, Natal e Belém, a mesma coisa. Lá as preocupações são outras.'
Egberto Gismonti é uma pessoa que acredita. Nos Estados Unidos, onde viveu durante um tempo da vida, filiou-se a uma seita denominada nanmyorroringuekuiô, mas que já não frequenta no Brasil: 'Lá, essa seita é muito conhecida, e me ajudou a aliviar a tensão, bem mais forte lá que aqui. Através das reuniões e desse som - nanmyorroringuekuiô - , e outros parecidos que têm num livro de umas 100 páginas, eles pretendem criar um novo som que estabeleça uma relação deles com o astral da natureza. E ajudou, porque lá você tem um rolo compressor muito mais pesado do que aqui. Os problemas são os dele, não os nossos. Você ouve falar em metalúrgico mas não sabe quem é o Lula, o que é o PT.'
A natureza está sempre próxima à vida de Gismonti. Da viagem ao Alto Xingu ele trouxe uma energia que lhe possibilita um equilíbrio nem sempre ao alcance de todos. 'Apesar do que me aflige muito, e aflige a todo mundo, essa instabilidade, a dependência dos humores, ninguém saber como será o jogo da economia amanhã, hoje a taxa de inflação é tal e de amanhã ninguém sabe, apesar disso tudo, eu tenho conseguido me equilibrar razoavelmente. Através dos meus amigos, da música, da pintura, da literatura, eu chego a um estado bastante saudável. Consigo me equilibrar razoavelmente entre o que eu chamo de natureza e cultura.'
'A partir de um certo momento, começou a entrar outra coisa na minha cabeça que veio desencadear uma brincadeira muito grande, mas que é sustentada não por otimismo e bom humor. O que sustenta é acreditar que ainda dá pé para o homem. E só posso levar isso com muito humor e uma solidariedade razoável. Sem esses dois componentes, não dá.'
'Deu pra sentir como é a tribo do Sapaim lá no Alto Xingu, perto do Posto Leonardo, no meio da Floresta Amazônica. Mas dá para transportar uma energia muito violenta através da cultura deles e conseguir mantê-la há três anos e pouco viva no Rio de Janeiro. Nessa cidade, andando na Avenida Rio Branco, dá pra sacar onde está o riacho, o capim, a saúva que morde porque você pisou na casa dela, o tatu que fez um buraco. Quer dizer, dá para sentie a natureza que eu vi de perto e me provocou uma energia que me permite suportar a vida nessa cidade e conseguir separar a impossibilidade de se viver dentro de uma cidade como essa, da relação afetiva que eu tenho com as pessoas.'
Egberto tem algumas certezas. Como a de que, com ele, avião não cai. 'Se cair, o problema é dele, eu continuo voando. E também aprendi isso com a solidão. A mesma solidão que me forçou a carregar minha casa dentro de mim. Onde eu me sento é a minha casa. Vou para lá, para cá, e minha casa vem junto. A cada lugar ela ganha um movelzinho, um adorno. Mas ela está dentro de mim'. Como a de que ainda há muito o que fazer: 'O que eu faço ainda não está feito. Faço música há muito pouco tempo. Ainda há muitas combinações a experimentar. E tenho certeza de que vou chegar a uma música que ainda será uma saída para a música instrumental do Brasil.' "
'A partir de um certo momento, começou a entrar outra coisa na minha cabeça que veio desencadear uma brincadeira muito grande, mas que é sustentada não por otimismo e bom humor. O que sustenta é acreditar que ainda dá pé para o homem. E só posso levar isso com muito humor e uma solidariedade razoável. Sem esses dois componentes, não dá.'
'Deu pra sentir como é a tribo do Sapaim lá no Alto Xingu, perto do Posto Leonardo, no meio da Floresta Amazônica. Mas dá para transportar uma energia muito violenta através da cultura deles e conseguir mantê-la há três anos e pouco viva no Rio de Janeiro. Nessa cidade, andando na Avenida Rio Branco, dá pra sacar onde está o riacho, o capim, a saúva que morde porque você pisou na casa dela, o tatu que fez um buraco. Quer dizer, dá para sentie a natureza que eu vi de perto e me provocou uma energia que me permite suportar a vida nessa cidade e conseguir separar a impossibilidade de se viver dentro de uma cidade como essa, da relação afetiva que eu tenho com as pessoas.'
Egberto e Naná Vasconcelos |
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