O Jornal quinzenal Canja nº 15, de outubro de 1980 trazia uma matéria com João Bosco, que estava lançando seu disco Bandalhismo. Na matéria Bosco reclamava da falta de empenho de sua gravadora RCA em divulgar seu disco, e soltava o verbo. A matéria, assinada por José Trajano tinha por título "João, a mágoa e o bandalhismo":
"João Bosco está magoado comigo. E eu não sabia.
A gente fala disso mais adiante, antes vamos encher o pote com uma estupidamente gelada e ouvir o homem que tá na maior bronca, invocado mesmo, com a sua gravadora, a RCA.
A coisa andava preta faz tempo. Mas agora em São Paulo, onde João veio lançar seu sexto LP, Bandalhismo, e fazer duas semanas no teatro Pixinguinha, o caldo engrossou. E ele não ficou quieto não, botou a boca no trombone.
- 'Agora chega. A gravadora só tem feito atrapalhar. Não promove os meus discos, cria um hiato enorme entre um trabalho e outro, atrapalha até a divulgação que eu mesmo banquei. Para os shows dão uma verba ridícula, que não cobre nem um terço dos gastos. E olha que o Bandalhismo foi todo produzido por mim: horas de estúdio, os músicos, até os impressos de divulgação que são distribuídos nas portas dos meus shows. Pena que tenho de fazer mais um disco sob contrato, porque minha vontade era dar no pé já.'
Oito anos João Bosco tem de RCA. No ínício, quando veio de Ouro Preto, achou que as coisas podiam acontecer ali. O Luis Eça, que arranjou seu primeiro LP, deu força, disse que um cast da pesada ia ser formado. Que nada. Nada aconteceu e João dançou. Hoje, ele abre os papos dando bronca nos homens. Não deixa por menos, diz que vai partir pra uma de disco independente.
- 'Mas um disco independente com coerência. Temos uma editora, a Saci, junto com o Aldir, Paulinho da Viola, Joyce, Sérgio Ricardo e Maurício Tapajós. Podemos pensar em trabalhos juntos ou mesmo sozinhos, mas de uma forma que funcione, nada de sacanagem.'
O caso está tão sério que, no dia do lançamento do disco em São Paulo, junto com a exposição de Elifas Andreato - que fez a capa de Bandalhismo - no Sesc, João nem olhou para os diretores da gravadora. Quis mostrar toda a sua indignação. E mostrou, sem dúvida.
Encontrei João no dia seguinte à estreia do show almoçando às 4 horas da tarde numa cantina do bairro da Consolação. Enquanto mandava ver uma lasanha verde, o papo foi indo. Do disco novo, o maior entusiasmo. Do show, mais ainda. Os músicos, também na mesa, davam a maior força.
- 'Fizemos o show lá no Cine-Show Madureira, pintamos aqui em São Paulo depois viajamos pelo Brasil afora. É um show cuidado, são dez pessoas envolvidas na coisa, entre músicos, técnicos de som, etc'.
E o trabalho com Aldir, já são quase 11 anos, tem também o Paulo Emílio, dá pra fazer um balanço da coisa?
Senti João na defensiva. Falou do trabalho da dupla e do trio (com Paulo Emílio) de uma maneira que eu não entendia bem. Perguntei, então, se havia alguma bronca, mágoa mesmo da imprensa ou de dentro do meio musical. Sei lá, alguma coisa estava incomodando.
João não hesitou e mandou ver. Disse que estava magoado com uma matéria que escrevi - faz tempos - na Isto É.
- 'Você se precipitou, me colocou numa posição de afastamento. Não deu tempo à coisa, criou uma situação' "
(continua)
De lá pra cá...
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