Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Erasmo Carlos - Matéria Revista Karaokê 1987 1ª Parte

Em 1987, quando ainda vivíamos uma fase de efervescência do rock brasileiro, muitas revistas circulavam pelas bancas destacando esse ritmo. Algumas marcaram época, como a Bizz, outras também tiveram uma vida longa, e hoje servem como material de pesquisa de uma época, como a Roll, e muitas tiveram uma vida curta e efêmera, mas traziam boas matérias e entrevistas. Uma dessas foi a revista Karaokê, publicada pela editora Três. Em seu nº 3 (maio de 87) a revista traz uma boa matéria com Erasmo Carlos, que aqui transcrevo em duas partes. A matéria é assinada por Marcelo Uchiyama:
"Erasmo nasceu em 1941 no Rio de Janeiro. Sempre viveu na Tijuca, um dos primeiros redutos do rock no Brasil. Muitos talentos estouraram ali: Tim Maia, Jorge Ben e até o rei Roberto Carlos, que não era de lá, mas frequentava a roda.
A música sempre esteve na vida de Erasmo. Costumava escutar as big bands nas grandes emissoras de rádio, como a orquestra de Glenn Miller. Curtia também Cauby Peixoto, Angela Maria, Jackson do Pandeiro, Dalva de Oliveira, Luis Vieira e outros grandes astros da música daquela época. Erasmo colecionava fotos dos artistas, chegou até mesmo a montar álbuns, comprava discos. Era um verdadeiro fã da música.
Um dia, Erasmo andando por uma rua qualquer, ouviu um som diferente que vinha de uma festa. Era uma música pulsante, um ritmo forte que lhe tocou o coração. '... quando ouvi aquele som me arrepiei todo, nunca tinha escutado o contrabaixo marcando o buggy, aquela batida seca. Aí então eu vibrei.  Me apaixonei por aquilo...', declara o velho roqueiro. A tal música era simplesmente 'Rock Around The Clock', na voz de Bill Halley e seus Cometas. Uma energia nova e contundente que logo viria inundar o coração da juventude e provocar uma revolução no comportamento do mundo todo. Começava-se a ouvir aquela música nas rádios e uma das primeiras publicações que marcou o início dessa onda foi uma matéria que a revista 'O Cruzeiro' fez com Elvis Presley, já consagrado o 'Rei do Rock'n Roll'. Elvis mostrou uma imagem diferente e fascinante: blusão de couro, um penteado esquisito, um requebrado nunca antes visto, uma revolução que contagiou a garotada e os adolescentes. Erasmo não escapou dessa.
Erasmo Carlos explica: 'De repente entrei nessa, sem ter consciência. Eu tinha ouvido meu som  e visto a minha imagem. O que eu gostaria de ser e de fazer'. Ele queria de qualquer forma participar daquele tipo de música. Fosse como programador de rádio, vendedor de discos, jornalista especializado, cantor, compositor ou músico. '... de alguma maneira precisava viver aquilo', diz o Tremendão. A imagem de Elvis despertou-lhe uma paixão que em seguida James Dean veio reafirmar no cinema. Também Marlon Brando, no filme 'O Selvagem', colaborou para a descoberta dos caminhos de Erasmo. Assim ele bebeu da fonte inspiradora, formulou e criou sua personalidade.
Erasmo começa então a guardar letras de Elvis e Bill Halley, como também Chuck Berry, Little Richard, Gene Vincent, The Diamonds, enfim, de todos os nomes que surgiam dentro da constelação do rock'n roll. Na época, a rádio Metropolitana do Rio apresentava um programa, 'Hora da Broadway', comandado por Valdir Finotti, que era especializado em jazz. Nosso futuro ídolo ouvia ali as big bands e ficava sabendo das novidades musicais. Nessa emissora, aconteceram as primeiras execuções de rock. A programação reservava um dia por semana ao rock. Depois, a cota passou a ser dois dias e a audiência foi aumentando. Ao lado de Erasmo, curtindo a onda, estava a turma da Tijuca e praticamente toda uma geração. Eram os fãs do rock'n roll, que iam às festas e dançavam no embalo efervescente daquele ritmo louco. 'Dançávamos homem com homem, porque não tinha menina que soubesse dançar aqueles golpes todos. Eu acho uns golpes. Cai por cima daqui, joga por cima de lá, contorce dali...', conta Erasmo.
Com Tim Maia, o Tremendão aprendeu os primeiros acordes de violão e começou a interpretar alguns rocks que eram praticamente iguais, ou seja, tinham como base três acordes. 'Ao aprender os acordes Mi, Lá e Ré, descobri que poderia tocar uns trinta rocks, era tudo a mesma coisa'.
Aprendendo mais e mais com a música, ele forma um conjunto vocal chamado 'The Snakes' (Os Cobras), composto por Arleni, Trindade, China e ele. Começaram a se apresentar com Tim Maia, 'Mas Tim era o 'Little Richard brasileiro' e a gente fazia backing vocal, cantando músicas do próprio Richard. Conhecemos então Roberto Carlos, que era o 'Elvis Presley Brasileiro', declara nosso roqueiro. Faziam vocal para Roberto também. Elaboraram um show com os dois cantores. 'A gente entrava e fazia uns três ou quatro números. Entrava o Tim e o acompanhávamos em mais quatro músicas. Depois, saía Tim e vinha o Roberto. Continuávamos com ele até o fim do show', relembra o cantor. Por intermédio de Roberto Carlos, Erasmo conheceu Carlos Imperial, que apresentava um programa na extinta TV Tupi, 'O Clube do Rock', o qual começou a frequentar. Era  o único programa especializado. Isso foi em 1958, aproximadamente. A entrada do 'The Snakes' só veio acrescentar mais cor ao show, apresentado neste programa de TV. Tinha dançarinos, uma banda, Roberto, Tim e os backing vocais, executados por eles. Com esse show, eles todos saíram pelo Brasil mostrando essa nova forma de dançar e cantar. "

continua

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