Em 1995 João Bosco lançou o disco "Dá Licença Meu Senhor", um trabalho basicamente de intérprete, onde ele gravou vários clássicos da MPB, de diferentes autores. Em sua edição de 18 de junho daquele ano, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre o disco, que ainda nem havia sido gravado nem tinha um título, mas já havia sido elaborado. O texto é assinado por Antônio Carlos Miguel, e é intitulado "O caminho dos outros":
"João Bosco tem se mirado nos outros para encontrar seu caminho. Pode soar como conversa de analisado, mas esta é uma das chaves para a formação do cantor, compositor e violonista. E, também, o conceito do disco que gravará no mês que vem. Com exceção da quase inédita 'Pagodespel', que apenas tinha sido mostrada no programa de TV 'Chico & Caetano', o repertório trará clássicos da MPB, assinado pelos 'outros'.
- É um projeto de pais e filhos - conta Bosco que estuda como encaixar todas as peças no CD. - De Villa-Lobos, que é pai de Tom Jobim, que por sua vez é pai de todos nós, passando por Zequinha de Abreu, Jackson do Pandeiro, Milton Nascimento, Ary Barroso, Dorival Caymmi, Ismael Silva, Gilberto Gil, Severino Araújo.
Este trabalho, ainda sem título, atenderá uma necessidade íntima do cantor e também a pedidos do público:
- Algumas destas músicas costumo cantar em casa, também tenho mostrado ao vivo ou, mais recentemente, gravado nos songbooks - explica Bosco. - Muitas pessoas me procuravam depois dos shows perguntando quando iria lançá-las.
Segundo Bosco, o trabalho terá um papel similar ao disco 'Cabeça de Nego', quando mergulhou de corpo e alma nas raízes africanas da MPB:
Naquela época, subi a Serrinha (morro em Madureira onde nasceu a escola de samba Império Serrano) para ficar mais perto do jongo, do samba de roda - lembra. - Agora, quero recordar os compositores que fizeram a minha cabeça.A ideia é me esparramar e atuar antropofagicamente nisso tudo.
O instrumental se adequará a cada canção. Nas regravações de 'Vatapá' (Dorival Caymmi) e de 'Expresso 2222' (Gilberto Gil), ele vai chamar os músicos com quem vem tocando, Jamil Joanes (baixo) e Victor Biglione (guitarra). Em 'Floresta Amazônica' (Villa-Lobos), quatro ou cinco violões serão usados para dar a atmosfera das cordas. No choro 'Espinha de Bacalhau' (Severino Araújo), Bosco pretende dialogar com o clarinete de Paulo Moura.
- Botei letra nos trechos em que respondo ao clarinete. É um recurso muito pessoal, que só serve para esta versão - conta.
Vão sobrar músicas, mas Bosco já definiu a que abre - 'Pai Grande', de Milton Nascimento - e a que fecha, 'Pagodespel':
- É um neologismo de pagode e gospel - explica. - Quando fui convidado a participar do programa 'Chico & Caetano', em 1988, como bom mineiro, fui levando este presente. Juntei 'Escapulário', poema de Oswald de Andrade musicado por Caetano, a outro texto de Oswald, 'Relicário', e criei com Chico e Caetano mais alguns versos. "
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