O teatro musical é um gênero que esteve muito em evidência nos anos 60. O texto teatral intercalado com músicas compostas especialmente para o espetáculo era uma forma muito utilizada para se expressar politicamente, numa época, anterior ao AI-5. A censura ainda mais branda, permitia que jovens atores, diretores, músicos e dramaturgos pudessem se expressar e se lançarem no meio artístico, numa época em que também despontavam os grandes festivais de música na TV. Falo sobre um período em que alguns artistas de fora do eixo Rio-São Paulo, começavam a migrar para os grandes centros culturais nacionais para desenvolverem suas carreiras ainda iniciantes.
Falo especificamente sobre um dos tantos musicais, que se destacaram no período - o espetáculo "Arena Canta Bahia", dirigido por Augusto Boal, em 1965, onde atuaram Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, que pouco depois criariam o movimento tropicalista. Em 2015, quando a peça fez 50 anos, aconteceu uma retrospectiva sobre o diretor Augusto Boal, um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro nos anos 60, e "Arena Canta Bahia" ganhou destaque na programação. Na foto acima Gal e Bethania aparecem entre atores do espetáculo. Na ocasião, o jornal O Globo fez uma matéria, que tem por título "Teatro de Resistência":
Em 1965, Maria Bethania, Gal Costa - que ainda assinava Maria da Graça-, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé participaram do espetáculo 'Arena Canta Bahia', em São Paulo, sob a direção de Augusto Boal (1931-2009). A peça tratava de temas como seca e pobreza, assuntos pouco discutidos à época.
Bethânia, numa das cenas da peça |
'Era início da ditadura e Boal já começava a fazer seu teatro de resistência', lembra Helio Eichbauer, curador da exposição 'Projeto Augusto Boal', que chega ao CCBB na terça-feira.
Essa e outras histórias serão contadas através de fotografias, slides, cartas e objetos pessoais do diretor, garimpados com a ajuda de sua viúva, Cecília Boal. Um dos ambientes da mostra, aliás, reproduz a sala de leitura da casa dela e de Boal nos anos 70, na Argentina.
'Vinícius de Moraes ia muito lá, assim como Chico Buarque e Martinho da Vila. Maria Bethânia frequentava muito a casa de Boal em São Paulo. Eles se gostavam demais', recorda Cecília. Ela tem lembranças tenebrosas da ditadura, principalmente dos dois meses e meio em que Boal ficou desaparecido. 'Só depois soubemos que ele havia sido denunciado e estava no Dops. Eu já imaginava, ele tinha se metido com grupos políticos de Cuba e da Europa', conta.
Trabalhos importantes de outras épocas, como 'Chapetuba Futebol Clube', escrito por Vianninha, e a emblemática montagem de 'Fedra' (1986), estrelada por Fernanda Montenegro, também serão lembrados na exposição.
São espetáculos antológicos. Também preparamos vídeos e uma sessão de slides muito bacana', conta Eichbauer. "
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