" O interesse da nova geração pelo folk americano faz ressurgir curiosas indagações sobre o panorama brasileiro, as possíveis correntes do nosso country-norte e centro-sul. A nordestina, mais popular e centro-sul. A nordestina, mais popular é caracterizada pelo trabalho de Luiz Gonzaga. Mas a desapercebida centro-sulina dos sons paulistas, paranaenses, mineiros, matogrossenses e riograndenses, basicamente não apresenta representantes. Um mosaico de Tonicos-Tinocos, cantadores do sul e sanfoneiros do norte retrata o nosso folclore.
'Esta situação do country brasileiro ainda está no estágio anterior ao dos Estados Unidos, que foi integrado na música pop americana, e que acabou sendo uma das grandes correntes do rock'n roll. Bob Dylan, Joan Baez e Carole King vêm do padrão interiorano para o grande consumo, integrado na grande criação pop. No Brasil, a parte nordestina chegou mais a partir de mim, de Raul Seixas, Alceu Valença, Belchior, Fagner, artistas que estão integrando o country nordestino na música brasileira. O centro-sul ainda não teve uma representação. Os Secos e Molhados, por exemplo, fizeram uma abordagem leve. Rita Lee faz de alguma forma. Mas, não há um Bob Dylan brasileiro para levar o paralelismo ao extremo, radicalizar o paralelismo'.
Uma visão, na realidade, em que são expostas as várias nacionalidades e culturas musicais do território brasileiro. A complexa mistura de carimbós, xaxados, baiões, sambas de roda, modas de viola e, acima de tudo, a universalidade do som no seu melhor exemplo, o rock.
'Esse negócio de rock brasileiro é uma necessidade de rotular comercialmente uma coisa que não necessita de rotulação nítida. Há rock no mundo inteiro e no Brasil também. Eu acho uma coisa um pouco mais política, de grupos interessados em radicalizar uma certa área da produção musical. São Paulo tem uma necessidade muito grande de especialização, consequência da sua industrialização. Esse clima cria o aspecto ideológico da produção industrial, mesmo na arte. O rock brasileiro está muito ligado a isso, algo vindo basicamente de São Paulo. Os grupos se reúnem, compram instrumentos e discos do Yes, Genesis e têm necessidade natural de reproduzir industrialmente o que ouvem. Em tudo isso destacam-se coisas importantíssimas, como Rita Lee.
Uma necessária análise, contudo, não dispensa a importância do trabalho com Caetano Veloso e o consequente posicionamento na música brasileira.
Embora o seu nome esteja inquestionavelmente ligado a Caetano, a produção musical de ambos surpreende pela exiguidade de composições. Praticamente, em dez anos de trabalho conjunto, apenas dez composições foram feitas. 'Acontece, porém, que o nosso trabalho é mais um diálogo do que uma produção. É muito mais uma vivência, pois nós somos irmãos, gêmeos artísticos. É uma identificação de sensibilidade, de visão, de abordagem crítica que a gente faz sob os mesmos parâmetros.
Eu não busco situações. Nesses dez, doze anos de trabalho, criei e desfiz estruturas, sempre em benefício de liberdade para novas coisas. Essa é a minha posição. Uma espécie de coringa, que fica por aí, vendo tudo. Eu não tenho linha, não sou um especialista. A música brasileira está bem, hoje em dia é a mais fértil do mundo. As várias nacionalidades enriquecem. O fato de existir o carnaval no Brasil é muito simbólico. É a manifestação da arte popular, a arte cênica, a arte plástica, a arte musical, todas elas reunidas num povo inteiro durante três dias. A música popular é isso. Hoje em dia, nos seus vários níveis de criação, ela é a reprodução desse arquétipo, o carnaval. Tem muita gente fazendo tudo, de várias formas e todas elas são interessantes. Milton Nascimento está brilhando e Chico Buarque está fazendo o trabalho dele. Os meninos novos estão aparecendo sempre.'
No princípio, entre os 10 e 14 anos, enquanto se dedicava ao acordeão, teve algumas noções de teoria musical, harmonia, ritmo, contraponto e solfejo, chegando mesmo a ler e escrever música. Sem muito interesse pela especialização nesse sentido.
Hoje, o estudo depende do tempo disponível. Mas já houve época em que era mais constante. 'Em 71, 72, eu estudava. Eu acordava e a primeira coisa que fazia, depois de tomar café, era pegar o violão pra fazer escalas. Mas isso durou pouco tempo.'
Gil atribui esse seu desinteresse aos limites de sua ambição criativa. Para o que se propõe, sua técnica lhe basta, considerando-a própria, desenvolvida pessoalmente e que o diferencia de outros instrumentistas. 'Se eu sentir necessidade, amanhã ou depois, de levar minha música a outras consequências, a um nível mais elaborado, mais apurado, mais matemático, talvez aí tenha de me impor uma disciplina que eu não me imponho hoje.'
O violão é seu instrumento básico. Tem três: um Di Giorgio Autor nº 3, um Ramirez, instrumento clássico, de concerto, adquirido na Espanha, e um Ovation, um violão mais moderno, criado há aproximadamente quatro anos, no qual as qualidades da guitarra elétrica e do violão acústico combinam-se numa dosagem equilibrada, sem que um dos dois prevaleça. É um violão clássico, básico, e ao mesmo tempo, eletrificado, com cordas de nylon, onde todos os recursos modernos de acoplamento de aparelhos de transformação de som, como distorcedores podem ser utilizados. 'Há poucos aqui no Brasil. O Jorge Ben tem um, eu tenho um e o Odair José outro.' Sua guitarra é uma Gibson 330, de aproximadamente 10 anos, intermediária entre a guitarra de jazz e a de música pop, ou entre as solid-state e as de caixa acústica. Uma guitarra de corpo, oca. Seu trabalho nela, mais intensamente desenvolvido a partir de Londres, é um tanto primitivo, ligado à linha de Chuck Berry e dos bluesmen norte-americanos. 'Eu uso a guitarra assim como um Chuck Berry usaria, ou usa, no sentido mais de inventar certas coisas próprias do meu gosto pessoal. É um meio de expressão pessoal.' "
(continua)
No princípio, entre os 10 e 14 anos, enquanto se dedicava ao acordeão, teve algumas noções de teoria musical, harmonia, ritmo, contraponto e solfejo, chegando mesmo a ler e escrever música. Sem muito interesse pela especialização nesse sentido.
Hoje, o estudo depende do tempo disponível. Mas já houve época em que era mais constante. 'Em 71, 72, eu estudava. Eu acordava e a primeira coisa que fazia, depois de tomar café, era pegar o violão pra fazer escalas. Mas isso durou pouco tempo.'
Gil atribui esse seu desinteresse aos limites de sua ambição criativa. Para o que se propõe, sua técnica lhe basta, considerando-a própria, desenvolvida pessoalmente e que o diferencia de outros instrumentistas. 'Se eu sentir necessidade, amanhã ou depois, de levar minha música a outras consequências, a um nível mais elaborado, mais apurado, mais matemático, talvez aí tenha de me impor uma disciplina que eu não me imponho hoje.'
O violão é seu instrumento básico. Tem três: um Di Giorgio Autor nº 3, um Ramirez, instrumento clássico, de concerto, adquirido na Espanha, e um Ovation, um violão mais moderno, criado há aproximadamente quatro anos, no qual as qualidades da guitarra elétrica e do violão acústico combinam-se numa dosagem equilibrada, sem que um dos dois prevaleça. É um violão clássico, básico, e ao mesmo tempo, eletrificado, com cordas de nylon, onde todos os recursos modernos de acoplamento de aparelhos de transformação de som, como distorcedores podem ser utilizados. 'Há poucos aqui no Brasil. O Jorge Ben tem um, eu tenho um e o Odair José outro.' Sua guitarra é uma Gibson 330, de aproximadamente 10 anos, intermediária entre a guitarra de jazz e a de música pop, ou entre as solid-state e as de caixa acústica. Uma guitarra de corpo, oca. Seu trabalho nela, mais intensamente desenvolvido a partir de Londres, é um tanto primitivo, ligado à linha de Chuck Berry e dos bluesmen norte-americanos. 'Eu uso a guitarra assim como um Chuck Berry usaria, ou usa, no sentido mais de inventar certas coisas próprias do meu gosto pessoal. É um meio de expressão pessoal.' "
(continua)
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