Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Erasmo Carlos - Entrevista Revista Casseta Popular (1992) - 2ª Parte


" Casseta - Vem cá, naquela época o trio de ouro lá era você, Roberto e Wanderléia. Ninguém namorou a Wandeléia? Vocês dois?
Erasmo - Não, bicho, não. Pela convivência, existia um carinho muito grande. Sabe porque? A gente não se dava realmente pra mulher nenhuma. Porque era uma namorada hoje, outra aqui, outra lá, outra na cidade tal. E com ela era era uma frequência constante, que a gente tava sempre junto. Negócio de todo domingo, e no programa e não sei o que. E ele tinha outros programas lá, a TV Record tinha um monte de programa lá. Então, bicho, criou-se uma amizade muito grande, virou irmã. Então, bicho, criou esse negócio. E mesmo porque na Jovem Guarda tinha uma coisa engraçada, que as mulheres da Jovem Guarda eram meio misses. Sabe? Então tinha mãe pra cacete, pai, tio. Então nenhuma delas andava sozinha.
Casseta - Nem a Rosemary, que era boa...
Erasmo - Não, a Rosemary tinha mãe, quando não era mãe, era a irmã. A irmã da Rosemary era a Terezinha. A Terezinha... foi por causa da irmã da Rosemary que o Chacrinha criou aquele 'Terezinha...', porque ela foi secretária do Chacrinha durante algum tempo, então e ele criou esse negócio. Então quando não era a mãe, era a irmã. A Wanderléia era o pai. O pai da Wanderléia (risos). Era maior que eu. A Vanusa...
Casseta - Então não rolava nada?... E a Martinha?
Erasmo - Martinha? (risos). Martinha, a mãe dela , bicho, era zagueiro do Corinthians (risos). Marcava em cima.
Casseta - Tinha que comer as duas então. Mas vem cá. E gíria naquela época, vocês difundiram uma porrada? Tinha 'uma brasa mora'. Que outras tinham assim para rememorar?
Erasmo - Olha, botaram muita gíria na nossa boca. Os redatores do programa puseram muita gíria. 'Bicho', por exemplo, a gente sempre falou. 'Cara', porra, cara, a gente não falava isso. Nem hoje a gente fala, continua sendo 'bicho'. Entende? 'É uma brasa, mora' nunca ninguém falou isso...
Casseta - Mas o Roberto falava...
Erasmo - Não, falava no programa, no texto. Mas nunca o cara chegava... O cara tá com uma namorada e vai dizer 'é uma brasa,mora' (risos). Nunca isso. Nunca aconteceu.
Casseta - E a parceria com o Roberto era só na música? As namoradas vocês nunca racharam?
Erasmo - Já.
Casseta - Já? (risos)
Erasmo - A Jovem Guarda tinha muitas porque as meninas, sabe... as meninas, por exemplo, é como hoje em dia, não muda nada. Tem menina que só gosta de guitarrista, sabe, um exemplo. Então fica namorando o guitarrista do grupo, daqui a pouco, seis meses depois, ela termina o namoro, mas não serve um baixista, um tecladista, tem que ser um outro guitarrista.
Casseta - Tem umas que só gostam de dupla: Tonico e Tinoco, Roberto e Erasmo, Miéle e Boscoli.
Erasmo - Tem uma história que diz, 'Você não sabe pra quem eu dei ontem?'.'Quem?' 'Dei pro Miéle e Boscoli' (risos).
Casseta - Então as festas daquele tempo eram de arromba mesmo?
Erasmo - Todo mundo era muito careta, sabe bicho? Festa da gente era nas boates.
Casseta -  Época de vocês eu sei. Na Tijuca, você, Tim Maia e o Roberto Carlos. Não tinha nada de...
Erasmo - Mas o Roberto não morava na Tijuca. Ele frequentava a Tijuca depois que me conheceu. Porque ele já conhecia o Tim antes, eles tinham um conjunto, Sputinicks. Isso já com 17 anos, que foi a época que eu conheci o Roberto. 17, 18 anos. Mas ele já tinha, começou com esse conjunto com o Tim. A gente tinha...
Casseta - Era cuba libre?
Erasmo - Cuba libre. A gente. A gente sempre foi geração birita mesmo, até hoje, sabe? Então não tem essas coisas. Minhas experiências com drogas foram bem adiante, entende? Mas na Jovem Guarda realmente não rolava. Uma vez eu fiquei puto da vida com um DJ de São Paulo que armou uma pra mim, me convidou para ir no programa dele, então ele armou de entrar nessa, que 'barra limpa' por exemplo, era uma gíria que a gente dizia quando não tinha polícia (risos). 'Barra limpa', sabe? Aí começou a inventar um monte de  coisas
Casseta - 'Uma brasa mora' era o baseado...
Erasmo - Então ele começou a inventar um monte e  coisas. Ele chegou e falou assim; 'inclusive vocês não sabem, ouvintes, a festa do Bolinha... Era a festa da Bolinha' (gargalhadas) Porra, bicho. Me subiu um negócio aqui em mim, bicho, quase que eu dei porrada, e no ar...
Casseta - Mas fora drogas, sexo, não tinha... naquela época de juventude transviada?
Erasmo - Tinha, claro.
Casseta - Correr de lambreta?
Erasmo - Não, ninguém tinha dinheiro pra ter lambreta. A gente era transviado a pé (gargalhadas). Transviado de rua.
Casseta - O Carlos Imperial me contou que ele vinha comer mulher na Barra da Tijuca, mas não tinha motel. Tinha um carro, que ele tinha uma lona atrás, aí um galão de água (gargalhada). Uma bacia.
Erasmo - O Imperial era rico. Era outro papo. E o Imperial morava na Zona Sul, porque a turma da Zona Sul era elitista, né? E a turma da Zona Sul era bossa-novista. Então ninguém gostava da gente. Então eu fui ser secretário do Imperial durante um período, eu acompanhava ele nas festas, nas festinhas da Zona Sul, mas onde é que eu ia dizer que cantava rock? Não podia, né? Nego me jogava lá de cima.
Casseta - E esse negócio de superstição do Roberto, você também tem esses baratos? 
Erasmo - Não tenho porra nenhuma.
Casseta - Você já entrou de marrom na casa dele?
Erasmo - Já. Às vezes pra sacanear, eu digo assim: 'estou de azul, mas a minha cueca é marrom' (risos).
Casseta - Mas ele fica grilado com esse negócio de marrom mesmo? Ou é folclore essa história?
Erasmo - Não, ele tem melhorado muito (gargalhadas). Não, antigamente era brabo. Depois também tem o folclore, bicho, a lenda vai, vai espalhando e tudo o mais, mas tem umas coisas aí da... uns negócios de 13, de hotel que não tem 13, mas o 14º fica sendo 13 pra ele, então tem sempre um negócio assim. A soma dos números do quarto não podem dar 13. Tem sempre essas coisas assim. Agora muitas ele já se libertou.
Casseta - Ele jamais faria um programa com a Alcione? (risos)
Erasmo - Com a Marrom? (risos) De jeito nenhum! (gargalhadas). "
(continua)

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