Em 1973, Rita Lee fazia seu
primeiro show sem os Mutantes. Após ser dispensada pela banda, Rita refez sua
carreira ao lado de Lúcia Turnbull e uma nova banda. Na época, sua parceria com
Lúcia Turnbull ainda não havia sido batizada de “As Cilibrinas do Éden”, tão pouco
sua banda já se chamava Tutti-Frutti. Aliás, esse nome apareceria, mas como
título de seu show, que se chamava “Tutti-Frutti", e já trazia Lee Marcucci e Luiz Sérgio Carlini,
futuros membros de sua banda de apoio. O show tinha direção de Antonio Bivar e
direção musical de Zé Rodrix, e aconteceu no Teatro Ruth Escobar – São Paulo. A
revista Veja trouxe uma resenha do show, em agosto de 1973, assinada por Zé
Eduardo Mendonça. Como sua saída dos Mutantes era algo muito recente, seu nome
ainda era muito associado à sua antiga banda. Inclusive há uma declaração de
Rita, dizendo que sua saída dos Mutantes foi tranquila, e que ela própria havia
tomado a decisão, fato que a própria Rita desmentiria muitos anos depois,
quando afirmou que na realidade fora “expulsa da banda”, mas preferia na época
esconder que seu desligamento foi um fato traumático para ela. Segue abaixo a
matéria:
“Com um micromacacão azul-escuro,
recortado com estrelas vermelhas e botinhas pretas, a ex-Mutante Rita Lee Jones,
25 anos, entra no palco como uma baliza em desfile colegial. E faz em suas duas
horas de ‘Tutti-Frutti’, um límpido show de erotismo adolescente: ingênuo,
quase puro e recheado de romantismo. O que será ressaltado em algumas de suas
melhores músicas, como a bucólica e meio irônica ‘Festival Divino’. Ou nos
momentos de nostalgia, como a colagem ‘Serás, Quizás’, uma gostosa mistura de
sons e versos de um antigo bolero ‘Quizás, Quizás’ com um sucesso também antigo
de Doris Day ‘Que Será, Será’.
Lúcia Turnbull e Rita |
Separada ‘sem grilos’ dos
Mutantes – ‘Eu cheguei para eles e disse: Olha, gente, tenho que tocar com a Lúcia,
e todo mundo entendeu tudo.’ – Rita Lee pela primeira vez faz um show sem os
antigos acompanhantes. Além de Lúcia na guitarra elétrica e no violão, Lee
Marcucci (baixo), Emílio Colantório (percussão), e Luiz Sérgio Carlini
(guitarra elétrica) integram sua nova ‘tribo sonora’. O diretor musical Zé
Rodrix porém diz que não foi preciso fazer nenhum arranjo especial para o
grupo. Segundo Rita, Rodrix apenas ‘apertou os parafusos’.
Felizmente, muitas folgas foram
deixadas nas roscas, para todos se sentirem muito livres e espontâneos.
Igualmente distribuídas por todo o espetáculo, Rita e seu conjunto conseguem
transmitir essas virtudes ao público mesmo nos momentos ‘mais incrementados’ da
apresentação. A plateia é a tradicional seguidora dos Mutantes. Na noite de
estreia, por exemplo, quase quatrocentos adolescentes se acomodaram como
puderam nos dois lances da plateia na sala menor do Teatro Ruth Escobar. ‘Todos
muitos legais e participantes entusiastas dos momentos mais barulhentos: ‘Roll
Over Beethoven’, antigo sucesso dos Beatles, o rock ‘Tutti-Frutti’, que dá nome
ao espetáculo, ou ‘Gente Fina É Outra Coisa’, nova música de Rita.
Antonio Bivar, depois de dirigir
Maria Bethânia em ‘Drama’, veio do Rio especialmente para trabalhar com Rita
Lee. E acha maravilhosa a experiência: ‘Ela é uma pessoa sempre descobrindo
coisas, e seu trabalho tem muito a ver com teatro, na medida que Rita faz
musicas que podem ser interpretadas.’ Confirmando essas frases, sua direção
fica quase imperceptível. E deixa sentir no palco somente a presença da
cantora, de gestos juvenis, rosto de menininha com sardas e voz suave.
Em suas canções, Rita Lee
continua voando na rota iniciada com os Mutantes. Letras alegres, misturando
palavras alegres com nonsense e pretendendo criticar certos valores sociais
considerados ‘caretas’. Exemplo mais completo em ‘Tutti-Frutti’ é ‘Festival
Divino’, no qual há versos que falam em ‘anjos maus vestindo seus ternos,
cabelos curtos, pastinhas quadradas’. O som do show tem no equipamento seu peso
mais criativo. Mas Rita Lee também opta por soluções melodiosas e calmas como o
violão e umas rápidas passagens pela flauta. O resultado não apresenta
conflitos, pois ela passa de um a outro com a naturalidade de uma criança que
troca de brinquedos.”
A sempre talentosa Rita Lee.
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