Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sexta-feira, 25 de março de 2016

Os Novos Baianos Lançam Infinito Circular - Revista Jam (1997) 1ª Parte

Os Novos Baianos sem dúvida alguma podem ser considerados um dos melhores e mais criativos grupos musicais já formados no Brasil em todos os tempos. A reunião de tantos talentos num mesmo projeto musical só poderia desaguar em trabalhos que se tornaram marcantes na MPB, não só como grupo, como também no trabalho solo de vários de seus integrantes. Volta e meia o nome dos Novos Baianos vem à tona, seja em documentários, livros, como os do letrista da banda Luiz Galvão e de Moraes Moreira (em versos), ou trabalhos musicais, como os shows de Moraes Moreira interpretando as músicas do disco Acabou Chorare, junto a seu filho Davi, seja no aclamado show reunindo Baby e Pepeu no último Rock In Rio, e agora se fala em mais uma reunião da banda para um projeto especial.
Em 1997 foi feita uma primeira reunião da banda após sua dissolução, e a gravação de um excelente CD ao vivo, Infinito Circular, e vários shows pelo país. Na ocasião a revista Jam nº 8 (setembro de 97) fez uma matéria sobre essa reunião, numa matéria assinada pela jornalista Adriana Grinover, que reproduzo abaixo:
"Quem tem seus 20 e tantos anos e gosta de MPB já deve ter ouvido falar, escutou alguma coisa ou possivelmente sabe de cor músicas como 'Preta Pretinha' e 'Brasil Pandeiro'. Quem tem seus 40 ou 50 anos, então, pôde viver de muito perto o sucesso destas canções e de várias outras que os Novos Baianos fizeram. Agora eles voltaram a se reunir e gravaram pela primeira vez um disco ao vivo, em dois shows na cidade de São Paulo, no mês de maio. Baby do Brasil (antes Consuelo), Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, todos parecem bem felizes com este reencontro: 'Em 1994 existiram algumas energias favoráveis, nós nos ligamos e a coisa começou a se concretizar. Este trabalho novo é para nós um mestre, um prazer enorme', conta Baby. O grupo se formou em 1969, na Bahia, com a parceria Maraes-Galvão; em seguida Paulinho Boca de Cantor, Pepeu e Baby juntaram-se a eles. O nome Novos Baianos é sugestivo. Novos porque significava mais baianos fazendo música, pois a primeira 'leva', na época, veio alguns anos antes para o eixo São Paulo-Rio de Janeiro com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Bethânia e Gal. Artistas que, quando os 'Novos' chegaram, já estavam se formando como sucesso.
Previsto para ser lançado em setembro, pela Globopolydor, o CD dos Novos Baianos conta com nove canções inéditas, 'Infinito Circular' (que dá nome ao disco), 'A Terra Que Não Treme', 'Stand By', 'Retrato Pensado', 'Flor de Mandacaru', 'Eu Sou Nua', entre outras. Mais oito antigas, a maioria do disco Acabou Chorare, além de 'Colégio de Aplicação' (do primeiro LP Ferro na Boneca) e 'Samba da Minha Terra' (do disco Novos Baianos FC), todas com arranjos originais. Quem acompanha a banda são os músicos que em algum momento estiveram tocando com os Novos Baianos: Dadi e Didi (baixo); Jorginho Gomes (bateria e bandolim); Charles Negrita e Bola Moraes (percussão); Zé Roberto. o Baixinho (percussão e bateria); e Gato Félix.
Este novo disco mostra, entre outras coisas, que a criatividade do grupo continua intacta. Todas as canções inéditas foram compostas num curto espaço de tempo. 'O Jorginho precisava viajar na época, e isso forçou uma organização do grupo. Nós fizemos oito músicas em 12 dias', explica Moraes Moreira. O processo de composição dos Novos Baianos não está muito diferente do de 20 anos atrás. A responsabilidade de fazer canções do mesmo nível de 'Preta Pretinha' é inevitável, mas há uma espontaneidade desenfreada que sempre fez muito bem ao grupo: 'Houve uma criação coletiva, que foi acontecendo, a gente foi se empolgando... Nós sabemos que vai haver uma cobrança quanto à qualidade do trabalho, que o público vai dizer: 'bom, vamos ver se esses caras estão legais mesmo ou se estão querendo fazer um disco saudosista para ganhar um trocado', diz Moraes.
Pepeu garante que durante a criação das músicas inéditas do novo disco houve um cuidado especial na parte harmônica, muito valorizada e uma das marcas registradas do grupo. Aliás, harmonia é uma parte trabalhada pelos Novos Baianos desde quando conheceram João  Gilberto no fim dos anos 60 e começo dos 70 e com ele aprenderam a dar importância e um solo ou um acorde na hora certa. João os ensinou, também, a colocar a voz e mesmo a respirar no tempo certo. Segundo Moraes, todos esses ensinamentos estão concretizados no disco Acabou Chorare: 'Ele conseguiu com toda a sutileza colocar na nossa cabeça coisas musicais e até de vida. A gente começou a ver o samba, resgatar Assis Valente. Formou-se um pensamento musical que se chama Novos Baianos, registrado no disco Acabou Chorare.
A questão é que podemos chamar de reação química. Quando esses baianos se encontram a energia é tanta que só pode acontecer mesmo uma produção louca de música. Energia que revitaliza os cinco, porque estar juntos significa trazer a tona e reviver com intensidade uma época que foi gloriosa para eles. O clima é de festa, de descontração, de amizade profunda. É curtição o tempo inteiro. No palco não é diferente. Baby do Brasil simplesmente arrasa. Ela brinca, conta histórias e sua voz está longe de ser considerada ultrapassada pelo tempo.
A espontaneidade estava presente, de um modo geral, na vida de todos eles. 'Nossas vidas eram mesmo muito espontâneas', conta Moraes. Não era preciso algum momento especial, de repente Luiz Galvão pensava numa letra e em seguida mostrava para Moraes, que alguns minutos depois já estava com a música para ela pronta. Em 'Acabou Chorare' foi assim. Uma abelha entrou pela janela do apartamento (importante: às 6 horas da manhã) e pousou na mão de Luiz. Neste mesmo dia, à noite, em outro apartamento, a abelhinha voltou e pousou no mesmo lugar. 'Vivíamos uma fase lisérgica muito associada com a mística e uma busca vertical da verdade, mesmo trilhando linhas tortuosas', assim escreveu Luiz Galvão em seu livro Anos 70: Novos e Baianos. Galvão telefonou a João Gilberto e contou que estava fazendo uma letra sobre o episódio da abelhinha, ele disse: Fenomenal!' João contribuiu mais ainda dizendo que sua filhinha Bebel, para esconder a dor de um tombo, quando criança, disse uma vez: 'Não, acabou chorare'. Do episódio, associado à fase lisérgica, resultou: Acabou Chorare/ficou tudo lindo/De manhã cedinho/ Tudo cá-cá-cá/Na fé-fé-fé/No bu-bu-li-li/No bu-bu-li-lindo/No bu-bu-bolindo/ Talvez pelo um buraquinho/Invadiu-me a casa/Me acordou na cama/tomou meu coração/E sentou na minha mão/Abelha, abelhinha/Acabou Chorare/...

(continua)

2 comentários:

  1. Ola bom dia eu sou o Gato felix integrante funda dor dos NOVOS BAHIANOS mande ai para meu email, tudo que vc tver dos novos eufrasiogatofelix@gmail.com desde ja agradeço para minha pesquiza 11 31202485 11 985155090

    ResponderExcluir
  2. Uma grande alegria receber esse seu comentário, Gato Félix. Tenho algumas matérias sobre os Novos Baianos, e dentro do possível irei enviando para seu e-mail.
    Abraço

    ResponderExcluir