"Outra saudável tendência que pintou desde o início do ano foi o aparecimento de novos grupos, injetando energias e vibrações originais na escorregadia estrada do rock brasileiro. Cheios de garra e disposição, grupos como Os Piratas, Apokalypsis, Veludo, Vímana, A Chave, Jazzco e Vaso Sanitário, entre muitos outros, ficam ainda confinados a uma certa marginalidade. Mas não se assustam com isso. Pelo contrário: extraem daí uma energia incrível e fazem dela sua verdadeira linguagem, despejando muito sentimento em seus shows. Fora do eixo Rio-São Paulo esta tendência pintou com o mesmo vigor. Só em Porto Alegre apareceram três novos grupos, formados por músicos do primeiro time que andavam meio aposentados: Bixo da Seda, Toque e Almôndegas. Em Belo Horizonte surgiu o Banquete 93 de Cogumelos e a Sopa de Minhocas. E em todas as outras cidades do Brasil os jovens passaram a se juntar para fazer som nas capitais e pelos toques precisos do consciente Gilberto Gil.
|
Odair Cabeça de Poeta e Grupo Capote |
É claro que as gravadoras não podiam ficar alheias a esse movimento todo. 'Depois dos Secos & Molhados, sentimos que o rock é a grande aspiração do jovem brasileiro', diz Geraldo Lowenberg, gerente do Departamento Industrial da Continental, gravadora que se encarregou de levar os grandes grupos novos para as prateleiras das lojas e daí para os toca-discos dos jovens de todo o país. Assim, Odair Cabeça de Poeta e o Grupo Capote, Som Nosso de Cada Dia, Grupo Raízes, Ave Sangria, Paulo Bagunça e a Tropa Maldita, Barca do Sol e o novíssimo Moto Perpétuo tiveram seus discos lançados. E já estão na fila Sé & Guarabyra (que saíram da Odeon), Piratas e outros.
|
Erasmo Carlos |
Antônio Vasco, do Departamento de Publicidade da Phonogram, acha que 'o grande problema para a abertura do mercado do rock no Brasil é a falta de crédito dos lojistas: eles simplesmente não acreditam no rock nacional. Se compram, são sempre poucos discos; e muita gente deixa de ser atraída para comprar um disco de rock nacional apenas porque não o vê nas vitrines'. Mesmo assim, a Phonogram investe muito nos artistas nacionais e procura dar toda a cobertura possível - até financia a compra de equipamentos. Assim, os discos de Rita Lee, Raul Seixas, Jorge Mautner, Erasmo Carlos e Gal Costa foram produzidos com muito cuidado.
|
Zé Rodrix |
A Odeon lançou um LP de Sá & Guarabyra, um de Zé Rodrix e um álbum com a gravação ao vivo do concerto de Milton Nascimento no Teatro Municipal de São Paulo. E além de relançar toda coleção dos Beatles, lançou os primeiros discos gravados pelo Pink Floyd. Sérgio Leopoldo Rodrigues, divulgador da gravadora, garante: 'Nós vamos dar o maior apoio ao rock nacional em 75. Como incentivo, abrimos as portas da Harvest, selo onde gravam Deep Purple, Ron Wood e outros cobras. E já está tudo certo para o lançamento do novo LP do Terço.
|
Raul Seixas |
Para que tudo isso pudesse acontecer, era preciso montar uma infra-estrutura capaz de enfrentar a concorrência dos produtos já consagrados do show-bizz. Por isso, o conjunto Made in Brazil recorreu aos serviços do veterano Mario Buonfiglio, o Moto Perpétuo aceitou a tutela de Moracy do Val, e foram criadas empresas dinâmicas para fazer qualquer tipo de assessoria aos conjuntos e concertos de rock.
Em São Paulo, nasceu a Rocka Rolla, de um grupo de técnicos de som liderados pelo competente Peninha Schmidt. E a Público, agência que fazia assessoria de imprensa para equipes automobilísticas, passou a dedicar-se ao rock, através do baterista Dinho (ex-Mutantes), um de seus diretores. Em Porto Alegre, foi criada a Arco-Iris Produções, que promoveu vários espetáculos de rock no sul e participou de um festival ao ar livre em Santa Catarina. No Rio de Janeiro, a Toca encarregou-se de dar um grande empurrão nos rockeiros da cidade.
Em outubro, a garotada de São Paulo foi de novo ao Ibirapuera, desta vez debaixo de chuva, e fez nova vigília de louvação ao rock. Quando o concerto terminou, o promotor e apresentador Magnólio, um cara inquieto e imprevisível, anunciou a criação da Tenda do Calvário, um teatro que trabalharia exclusivamente com rock, desde o mais marginal até o mais industrializado. Com sua equipe de trinta jovens e o cadastro de mais de trezentos colaboradores, Magnólio transformou um velho teatro de igreja em templo do rock. Teve problemas externos muito sérios para botar a Tenda em funcionamento, mas superou-os através do trabalho incansável e despojado de sua apaixonada equipe de rockeiros.
|
Made in Brazil |
Assim, nosso rock chegou, no fim do ano, aos últimos degraus da profissionalização definitiva, digerindo com paixão os grandes acontecimentos internacionais (excursão de Bob Dylan, volta de Eric Clapton, etc) e ouvindo frases otimistas como esta, do Oswaldo, baixista do Made in Brazil: 'O rock está se firmando cada vez mais. O apoio que faltava aconteceu em 74. Programas de TV, rádios e espaços que se abriram em jornais foram os responsáveis pelo grande sucesso do rock em 74'. Ou, como diz Guilherme Arantes, líder do Moto Perpétuo: '1975 será o ano da maturidade dos grupos de rock e da solidificação dos empresários. Será também o ano do alicerçamento completo do rock tupiniquim'.
Mas o mais importante de tudo é que, enquanto alguns de nossos músicos tentavam seguir os moldes ditados pelo rock internacional, Cat Stevens, Nick Taylor (dos Stones), Jim Capaldi e Chris Wood (do ex-Traffic) vieram a passeio e descobriram aqui a energia pura que já está faltando no rock industrializado dos EUA e Inglaterra. Capaldi chegou a ficar deslumbrado e fez uma profecia, que precisa vingar: 'Nas raízes da música brasileira está o sangue da música do futuro. Por isso, vocês não devem ficar só nos imitando' "
A Gal teve mesmo uma fase bem pop-rock,mas até o nome do Milton Nascimento apareceu associado ao gênero.
ResponderExcluirExiste uma série de artista vinculados à MPB e que também são associados ao rock. Gal teve a sua fase mais elétrica, na época do tropicalismo, e o Clube da Esquina faz parte do rock brasileiro
ResponderExcluir