Cássia Eller (1962-2001) foi uma das grandes vozes surgidas na música brasileira nos últimos 30 anos. Seu timbre personalíssimo, sua interpretação visceral e sua presença de palco, fizeram dela um dos nomes mais respeitados e cultuados entre as cantoras brasileiras, em um país de tantas vozes marcantes. Apesar de sua grande timidez fora dos palcos, Cássia em cena era um furacão, uma força da natureza, com interpretações eletrizantes, entre o rock, o blues e a MPB, com a mesma desenvoltura. Sua morte precoce, aos 39 anos deixou uma grande lacuna na música brasileira.
Em 1991 Cássia ainda era uma iniciante, uma promessa já cumprida, que trazia uma nova luz ao cenário da música. A revista Bizz em sua edição de julho daquele ano, trazia uma matéria com Cássia, assinada por Luiz Henrique Romanholli, e intitulada "Quem é Eller":
" 'Eu sou uma pessoa que trabalha com música. Gosto de rock, de tango, de bolero, de tudo. Curto essa praia de estar cantando rock, embora não me considere roqueira. Mas não dá para saber uma coisa só. As informações vão ficando na cabeça. Neguinho não admite que gosta de Milton Nascimento, bossa nova, mas essas informações ficam gravadas.'
O leitor mais afoito deve estar olhando com desdém e pensando: 'Mais uma cantora de 'formação eclética' '? Calma, Brasil... A carioca Cássia Eller, 28 anos, escolhida pela crítica da Bizz como a revelação feminina na votação dos melhores de 90, tem motivos e moral para falar desse jeito. Primeiro, porque a sua vida itinerante (graças à carreira militar do pai) levou-a a para lugares díspares e distantes uns dos outros, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santarém, Brasília e São Paulo. 'Eu gosto de cantar de tudo. O cara não escuta só jazz. Duvido. Todo mundo ouve até Xitãozinho e Xororó. É bom se mudar, conhecer outras coisas. No Brasil é tudo muito diferente de um lugar para outro.'
Segundo, porque, como bem demonstra o bom disco de estreia da Cássia, lançado no ano passado pela PolyGram, ela consegue juntar óleo e água. Sob seus arranjos e vozeirão bluezy, convivem pacificamente Marcus Miller, Renato Russo, Lennon, Frejat, Itamar Assumpção e Jorge Salomão. Cássia carimba sua griffe em cada canção que interpreta. 'Eu não vou muito pelo compositor. Vou mais pela música. Tem compositor que eu costumo gostar de alguma coisa. E tem uns que eu adoro e que às vezes falo 'nossa, que cagada que o cara fez'. Eu vou pela letra, pelo ritmo, pela música, por alguma coisa, já que a mensagem não vem só da letra.'
Talvez esse desprendimento seja o fator diferencial que destaca Eller de um hipotético 'boom de cantoras'. Com seu jeito moleque, ao mesmo tempo tímido e travesso, ela não parece muito preocupada em passar uma imagem determinada e nem vive ávida por sucesso; 'Tá ótimo do jeito que tá'. Cássia Eller não é nenhuma iniciante. Violonista autodidata desde os 15 anos, ela resolveu começar a cantar para valer em 81, ano em que foi morar em Brasília. 'Eu tocava violão e gostava de música. E tinha muita coisa que eu ouvia e achava que podia fazer melhor. Aí comecei a fazer coro. Cheguei a participar de uma temporada grande em My Fair Lady. Eu queria ser cantora lírica, mas não era muito disciplinada. Fiz quatro meses de aula, mas não deu certo. Eu gosto de gritar, berrar, e os professores proíbem porque força a voz aqui e acolá. De qualquer jeito, essa experiência valeu pra burro. E do canto lírico eu fui direto para uma banda de rock.'
Uma temporada em São Paulo, a convite do poeta Tavinho Paes - que pretendia produzir um LP da cantora para o selo SBK - rendeu encontros com Arrigo Barnabé, Itamar Asumpção e Bocato, que já frequentavam seu repertório nos tempos de Brasília. Rendeu também a fita demo que a levou ao Rio e à PolyGram, para as gravações do disco.
Outro encontro importante para Cássia foi com o guitarrista Victor Biglione. Virtuose das seis cordas, músico de estúdio bastante requisitado e figura cultuada no meio da música instrumental, Biglione convidou a cantora para realizar a seu lado um projeto antigo: uma série de shows que mostrassem um pouco da história do blues, através de composições de Duke Ellington, Jimi Hendrix e Willie Dixon, dentre outros bluesmen clássicos. Nos seis shows que a dupla fez no Rio, acompanhados por uma banda de primeira, Cássia deixou a plateia entre surpresa e extasiada. Além de ter dado um empurrão na carreira da cantora, o projeto pode ainda render um disco.
Seu segundo LP, de qualquer modo, já está a caminho. Enquanto percorre o país divulgando o primeiro disco, Cássia já vai colhendo algumas músicas para o repertório que deverá gravar no início do próximo ano. Quais músicas? Por enquanto ela prefere fazer mistério."
Uma temporada em São Paulo, a convite do poeta Tavinho Paes - que pretendia produzir um LP da cantora para o selo SBK - rendeu encontros com Arrigo Barnabé, Itamar Asumpção e Bocato, que já frequentavam seu repertório nos tempos de Brasília. Rendeu também a fita demo que a levou ao Rio e à PolyGram, para as gravações do disco.
Outro encontro importante para Cássia foi com o guitarrista Victor Biglione. Virtuose das seis cordas, músico de estúdio bastante requisitado e figura cultuada no meio da música instrumental, Biglione convidou a cantora para realizar a seu lado um projeto antigo: uma série de shows que mostrassem um pouco da história do blues, através de composições de Duke Ellington, Jimi Hendrix e Willie Dixon, dentre outros bluesmen clássicos. Nos seis shows que a dupla fez no Rio, acompanhados por uma banda de primeira, Cássia deixou a plateia entre surpresa e extasiada. Além de ter dado um empurrão na carreira da cantora, o projeto pode ainda render um disco.
Seu segundo LP, de qualquer modo, já está a caminho. Enquanto percorre o país divulgando o primeiro disco, Cássia já vai colhendo algumas músicas para o repertório que deverá gravar no início do próximo ano. Quais músicas? Por enquanto ela prefere fazer mistério."
Os bons morrem cedo? Não sei,só sei que ela se foi.
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