No fim de 1972, Walter Franco lançaria um dos discos mais
experimentalistas da música brasileira, "Ou Não", mais conhecido como "o
disco da mosca", por trazer uma foto do inseto na capa. Trata-se de um
disco de difícil entendimento, repleto de ousadias e experimentações até hoje consideradas vanguardistas. Até Caetano Veloso, ao lançar o também experimental "Araçá Azul", buscou inspiração no álbum de Walter, fato reconhecido por ele em entrevistas. A faixa "Cabeça" já criara um imenso alvoroço ao ser apresentada no VII FIC (Festival Internacional da Canção), da TV Globo, em 1972, uma anti-música, quase sem melodia e uma letra de poesia com influência concretista, e um canto sussurrado e incompreensível para os menos atentos. Essa composição alavancou o nome de Walter Franco entre críticas ferozes e elogios pela audácia e criatividade. Ao ser lançado seu primeiro disco, a crítica especializada deve ter ficado confusa em analisar um disco tão fora dos padrões, pois seguia a veia experimental desenvolvida em sua polêmica composição "Cabeça".
Em sua edição nº 4, de fevereiro de 1973, a revista Pop fala do disco de Walter, lançado pela gravadora Continental, na seção "Discos", em matéria por Tárik de Souza:
" Depois de receber vaias longas no VII FIC, como resposta a sua música de muitas perguntas, 'Cabeça' ('Que é que tem nessa cabeça, irmão?'), Walter Franco mostra o resto de seu corpo de trabalho. São dez faixas, ou não. A saber: há faixas e curtas interfaixas que funcionam como uma espécie de quebra da atmosfera do disco, partida em mil pedaços. Valendo-se de um texto de poucas palavras, sempre indócil ('nem tudo que se come/ se digere/ quem com ferro fere/ se consome'), e uma sólida teia instrumental, ele obtém resultados de contínuo suspense. Terminada a exaustiva 'Me Deixe Mudo' (cantada sob o ritmo da própria respiração do cantor), explode 'Xaxados e Perdidos', como o nome indica, algo diferente do que se espera de um xaxado comum. 'Doido de Fazer Dó' tem igual relação de independência com o que se entende por frevo, e, além disso é tão curto que impede o ouvinte de aderir a seu ritmo veloz. 'Mixturação', de certa forma, é uma espécie de chave do disco: sua montagem de evolução lenta dá a ideia da sugestão de imagens filmadas que comandou toda a gravação. Walter mudou sua discutida 'Cabeça', que reaparece no LP. Na nova versão ela perdeu o sintetizador eletrônico que fazia o fundo, para ganhar partes de outras músicas do próprio LP, mais informações acumuladas pelo compositor após a apresentação da concorrente (vitoriosa, na opinião do júri, destituído) no festival. Com o texto narrado, entoado ou engrolado em dezesseis canais, 'Cabeça' termina (e encera o disco) num diálogo outra vez surpreendente, agora pela provocadora naturalidade: 'Que horas são? Onze e vinte e seis'. "
Sonoridade estranha,estou ouvindo aqui e agora.
ResponderExcluirNãom é um disco dos mais absorvíveis,requer uma atenção especial, mas é um trabalho vanguardista e ousado
ResponderExcluirSim.
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