Em 1976 os Mutantes vivia uma segunda fase em sua carreira, mais voltado ao som progressivo tão em voga naquele período. Apesar de ter gerado críticas por ter se afastado do som que fazia nos anos 60 e início dos 70, a banda vinha realizando um bom trabalho na nova vertente. Após lançar o ótimo disco Tudo Foi Feito Pelo Sol, em 75, a banda se preparava para lançar um disco ao vivo, gravado no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio, trazendo pequenas mudanças em sua formação. Na ocasião o jornal Hit Pop, que vinha encartado na revista Pop trazia uma matéria com os Mutantes, em texto assinado por Zildo Nunes Guimarães:
"De sunga vermelha e camisa amarela, tranquilo como um guru do Himalaia, Sérgio senta-se em posição de yoga, com as pernas cruzadas sobre o sofá, e abre um sorriso calmo. 'Os Mutantes são agora uma Escola de Mistérios'. O sol quente do verão carioca invade a pequena sala de um apartamento na Gávea e ilumina as paredes forradas de quadros e gravuras com temas místicos. Lá, entre livros e gravadores, Sérgio Dias aguarda o momento de viajar para São Paulo com os outros componentes do grupo. E enquanto espera, vai explicando: 'Estou transando a filosofia Rosacruz, gosto dos mistérios seculares da Grande Pirâmide, do faraó Akenaton, dos segredos e poderes interiores do homem. Gosto da paz de espírito que alcancei.'
Sem dúvida, um dos grupos de rock mais populares do Brasil. Muito importante na história do rock brasileiro, viveu a época sofrida dos primeiros tempos do movimento roqueiro.
'O rock brasileiro vai se cimentar numa mistura de sangue, suor e lágrimas; vai ser sólido e forte a partir do seu próprio sofrimento. O rock não está morrendo nem vai morrer. Porque é mais do que um ritmo, é todo um processo energético da juventude. desta e de todas as juventudes.'
Apesar dos milhares de aficcionados, garante que ainda é difícil fazer rock no Brasil.
'Sofremos os mais diversos tipos de pressões, desde a luta para se conseguir um teatro, a proibição dos pais que não deixam os filhos irem aos shows, até a proibição de se dançar durante os espetáculos.'
Sérgio irrita-se, abandona a tranquilidade. Não admite quando dizem que o rock está morrendo.
'O rock é o que de mais universal pintou até hoje, em termos de música, e está situado entre o clássico e o popular. O que se ouve de rock por aí, em timbres, harmonia e melodia, é pra Bach tirar o chapéu. O rock chegou pra ficar pra sempre. Pra mim é a linguagem universal da juventude, como música. E não há mentira nessa música, como não poderia deixar de ser. Se a gente não toca com o coração, o cara que está sentado à sua frente vai sacar no ato.'
Volta aos Mutantes, esquece os inimigos do rock, retorna à calma. Comenta a sabedoria dos antigos egípcios, relaciona com a nova fase assumida pelo grupo.
'Sabe, o som que fazemos hoje tem muito a ver com essa filosofia. Veja, por exemplo, o LP que gravamos pela Som Livre, ao vivo no MAM. Foi uma loucura! Conseguimos captar todo o astral liberado pelo público e produzimos um curto-circuito do primeiro ao último chakra.'
(Os chakras são os sete pontos de energia do homem, que vão do sexual ao intelectual, explica.)
'É esse o novo som dos Mutantes: nós partimos do sexual até chegar ao etéreo. O resultado é como se fosse uma relação amorosa - consciente e consentida.' "
Mutantes um marco no cenário musical. Atualíssimo, aliás, acho que sempre será. Adorei a matéria .
ResponderExcluirObrigado, Margô. Mutantes sempre será algo especial
ResponderExcluirMárcio, que achado essa matéria, que entrevista fantástica de um dos maiores guitarristas e músicos de nosso tempo. Eu acho esse álbum um dos mais subestimados da discografia brasileira. É um álbum tão maravilhoso com tanta criatividade de harmonias, letras e performances virtuosas incríveis. Acho que o brasileiro precisa redescobrir ou descobrir essa grande obra. Muito obrigado pela matéria.
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