Joyce é uma cantora e compositora que sempre apresentou um trabalho de grande qualidade, e lançou discos que revelavam todo o seu talento, desde os anos 60, quando não era muito comum mulheres se lançarem como compositoras. Ao longo dos anos o trabalho de Joyce só foi amadurecendo e seu nome ganhando cada vez mais prestígio. Em 1980, a cantora lançava o álbum, Feminina, e na ocasião a revista Música nº 43 trazia uma matéria com Joyce, falando de sua carreira e de seu novo disco. A matéria é assinada por Valéria Fontenele:
"Essa canção está no ouvido do Brasil. 'O Brasil não é surdo', mas durante quase 13 anos não o permitiram ouvir o canto de Joyce, que teve que se banir do país para sobreviver de sua arte. Ela resistiu. Várias foram as tentativas. E ela resistiu. E nesse momento é um festival que nos mostra sua voz melódica, seu violão, sua personalidade forte de mulher, de músico. Joyce agradou, e muito. O festival não. É apenas mais um programa da Rede Globo de Televisão, sem nenhuma verdade - longe da realidade dos festivais de outrora -, simulado, ou melhor, comprado pelas gravadoras para exibir seus contratados. Nenhuma emoção. Mas isso não vem ao caso. Joyce vem. E ela diz: 'só espero não receber nenhum prêmio'.
'Eu passei 13 anos sem gravar um disco individual. O trabalho vinha sendo recusado pelas gravadoras, eu ia sendo gravada por outros intérpretes, e do final de 78 pra cá, as gravações aconteceram sistematicamente.'. Joyce fez sucesso na voz de Milton Nascimento e Boca Livre, 'Mistérios'; Elis Regina, 'Essa Mulher'; Maria Bethânia, 'Da Cor Brasileira'; Joana, 'Coração de Criança'; Quarteto em Cy, 'Feminina'; Ney Matogrosso, 'Ardente'; Viva Voz, 'Revendo Amigos' e 'Lado Avesso'. ' Mas mesmo assim estava difícil. Eu já tinha reservado estúdio para gravar esse elepê 'Feminina', com o mesmo repertório e músicos, quando a EMI-Odeon me convidou para fazer o disco com seu selo. Naquele momento eu senti que se fizesse um disco pela gravadora não iria fazer uso dos músicos sem pagá-los e resolvi aceitar. O disco foi gravado em apenas duas semanas'.
'A voz e o violão foram gravados juntos. Eu sou um pouco aluna de João, pois para mim a voz e o violão são duas coisas que respiram juntas, fluem melodicamente, unissonamente'. Em 'Feminina' Joyce está por inteira, num trabalho de composição, instrumentação e interpretação. Dez faixas, todas assinadas por ela, que divide parceria com Ana Terra em 'Essa Mulher' e 'Da Cor Brasileira'; com Fernando Leporace, em 'Coração Criança', e com Maurício Maestro na canção 'Mistérios'. 'Toda parceria para mim é uma coisa esporádica. Meu lance é eventualmente uma parceria. No caso do Maurício é uma parceria bastante musical. Com Ana eu faço a música'.
'Feminina é um trabalho que no fundo tinha que ser feito desde o início, mas dificilmente se dá à mulher uma chance de dirigir seu trabalho num estúdio.' E conclui sobre a posição/exposição feminina na MPB: 'Eu vejo essa explosão como fruto da batalha silenciosa que a gente vem travando nesse tempo todo. E acho que nós devemos procurar nos cercar da alguma forma...'
Pertenço a duas classes exploradoras tradicionalmente, pois antes de tudo, sou mulher e sou músico. Ambos se soltaram à vontade nesse disco, e o trabalho fluiu livre e alegre, o músico e a mulher forças emergentes no mundo.
Houve momentos duros. Agradeço e dedico este trabalho às pessoas que nele acreditaram nos tempos difíceis.
Agradeço também aos que não acreditaram, pois graças a estes, pude exercitar três enormes virtudes: paciência, paciência, paciência' "
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