Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

domingo, 3 de março de 2019

Meu Nome É Moacyr Luz - Revista Música Brasileira (1996)

A revista Música Brasileira, que circulou nos anos 90, em sua edição nº 1 (dezembro/1996) trazia um perfil de Moacyr Luz, escrito pelo próprio. Era uma seção chamada "Auto Perfil", em que uma personalidade da música falava de si próprio. Moacyr fala de si, de seu envolvimento com  a música, de sua vida, suas experiências, parceiros, etc. Segue abaixo o texto:
"Sou compositor, toco meu violão e, o melhor de tudo, sou carioca. Costumo brincar que faço o tipo 'Via-Jóquei'. Morei no Méier, Jacarepaguá, Copacabana, Bangu, Botafogo, Catumbi, Grajaú e Tijuca (antes de voar, eu conheci As Andorinhas).
Minha mãe me fez supersticioso. Conheci o violão no dia que o meu pai morreu. Achei que fosse um sinal. Fiquei muito próximo da família Delmiro (Carlos, o mestre, e Hélio, a alma). Dei sorte. O Hélio me ensinou a ouvir. Tinha 15 anos e acompanhava, do sofá, os ensaios com Victor Assis Brasil, Luiz Eça, um encontro com Sarah Vaughan, Elis Regina e Elizeth Cardoso.
Com 20 anos, dividido entre ser músico de jazz ou compositor, gravei minha primeira música com a belíssima Lana Bittencourt. Já sabia beber. Pois é, foi num botequim que eu apontei o norte de minha vida: conheci meu parceiro Aldir Blanc. Ele tem uma bolsa de corvim marrom, desde Amigo É Pra Essas Coisas.
O bar era do Jota Maranhão, meu parceiro em Retrós, (música gravada por Nana Caymmi), e já de manhã, no carro, descobrimos que éramos vizinhos de prédio (estava morando há pouco tempo com minha mãe, a verdadeira vizinha).
Pensei: minha mãe, eu supersticioso, e o mesmo prédio, achei que fosse um sinal.
Dei sorte. O Aldir me ensinou a falar. Tinha 26 anos e convivi com Paulo Emílio, Maurício Tapajós, Paulinho Pinheiro. E fomos fazendo canções. Com o fígado em dia, gravei em 88 um LP com músicas mais lentas. Juntos já tínhamos feito canções para Leila Pinheiro, Nana, Leny, Elba, Amelinha, entre outras maravilhosas cantoras.
O Brasil, com o nosso inesquecível Sarney, acordava com uma inflação de 50% ao mês quando fomos salvos por Coração do Agreste, tema de novela que Fafá de Belém transformou em Prêmio Sharp e música preferida dos calouros da TV. Uma delícia.  
com o parceiro Aldir Blanc
Depois, minha amiga, a diva do samba Beth Carvalho, propôs uma parceria nova. Juntamente com Paulinho Pinheiro, fizemos numa tarde Saudades da Guanabara, que fala da minha cidade com esperança, sem o rancor que nos cercava nessa época. Tenho muito orgulho deste samba. Gravamos com Gilberto Gil, Bethânia, Rosa Passos, Fátima Guedes, Amélia Rabello, divinas.
Hoje sou preto velho. Ouço samba logo que acordo ou quando estou cozinhando, minha grande fantasia. Gravei um CD, 'Vitória da Ilusão', tomo as minhas cervejas no Bar da Maria e me emociono com Aracy de Almeida.
Amo minha mulher, com quem estou casado há 12 anos, e deixei com Aldir dois sambas novos pra gente fazer um dias desses. Dei sorte."

Nenhum comentário:

Postar um comentário