O nº 5 do jornal musical International Magazine trazia uma matéria sobre um dos maiores guitarristas da história do rock - Jeff Beck. A matéria é assinada por Geraldo Muanis, e dá uma geral na carreira do genial guitarrista:
"A capa do LP 'Jeff Beck's Guitar Shop', lançadop em 89 no Brasil, expressa de forma concisa a obsessão de um mito. Jeff Beck, um dos mais legítimos representantes da legião de 'guitar heroes' ajusta os controles de seu instrumento de guerra em uma oficina. Como um artesão, prepara e molda a velha companheira para seguir a longa jornada dentro do rock. Não poderia haver maior sutileza.
Jeff Beck já proporcionou à riquíssima história do rock momentos inesquecíveis, brilhando intensamente, com a pureza de um diamante. Deixou um rastro de genialidade em bandas como Yardbirds, Jeff Beck Group e Beck, Bogert & Appice. E discos importantes, obrigatórios na coleção de qualquer iniciante.
Temperamental e muitas vezes injustiçado, Beck sempre soube, entretanto, de seu valor, principalmente quando deixou de lado o rock and roll branco para trilhar os caminhos do jazz. Aos 46 anos, conserva a mesma energia herdada das guitarras de Muddy Waters, Bo Diddley e B.B. King. Na fúria selvagem ou na suavidade de um blues, o mestre acaricia e ela se entrega, rendendo-se mais uma vez à sua genialidade.
Mesmo antes de fazer seu nome, já carregava os pesados rótulos de antipático e egoísta. Tocou em vários grupos, quase sempre com vida muito curta. Passou a chamar a atenção quando, por recomendação de outro heroi da guitarra, Jimmy Page, assumiu a responsabilidade de substituir o 'Deus' Clapton no Yardbirds. A partir daí a banda passou a viver sua melhor e mais produtiva fase.
Quem diria! O autodidata, que começou a tocar guitarra com uma corda e, assim que se julgava capaz, pulava para outra, até obter o domínio completo do instrumento, transformou-se em estrela do rock londrino, revolucionando todas as formas de utilizar o potencial de seu instrumento de trabalho. Por falar em autodidata, a capa de 'Guitar Shop' é bem sugestiva.
O cineasta Michelangelo Antonioni teve a felicidade de eternizar uma apresentação ao vivo dos Yardbirds no filme 'Blow Up'. Uma imagem grandiosa e que virou saudade. No final de 66 Beck deu adeus para os coleguinhas e partiu para um novo projeto: o Jeff Beck Group, com Rod Stewart nos vocais, Ron Wood no baixo e Mick Waller na bateria.
Foram apenas dois discos, mas que porrada! 'Truth' e 'Beck Ola' são simplesmente antológicos. Principalmente o primeiro, que traz músicas como 'Let Me Love You', 'Rock My Plimpsoul', 'Blues De Luxe', 'Shape of Things', 'You Shock Me', 'I Ain't Supertitious' e a instrumental 'Beck's Bolero', de Page. John Paul Jones e Nick Hopkins têm participações especialíssimas. O brilho de Stewart não ofusca Beck, mas incomoda sua estrela. O fim está próximo.
Stewart e Wood formaram o Faces. Beck sofre um desastre a volta à estrada somente em 71, com uma versão mais negra de Jeff Beck Group. A união dura apenas dois discos: 'Rough and Ready' e 'Jeff Beck Group'. Embora a banda apresenta-se impecável, principalmente no segundo trabalho, Bob Tench (vocal), Clive Chaman (baixo), Max Moddleton (teclados) e Cozzy Powell (bateria) foram buscar outros caminhos sob a alegação de que as vendas estavam aquém do esperado.
No final de 72 uniu-se ao baixista Tim Bogert e ao baterista Carmine Appice, ex-Vanilla Fudge e Cactus. 'B. B. & A.' vendeu bem, mas não obteve o mesmo respaldo da crítica. Um segundo disco, que Beck terminou clandestinamente no interior da Inglaterra - havia racionamento de energia -, jamais foi lançado. Sem motivação, simplesmente abandonaram o barco sem dar maiores explicações.
Cotado para substituir Mick Taylor quando este deixou os Rolling Stones, Jeff Beck recusou-se ironizando que necessitava de mais energia, 'pois seria apenas um empregado para que eles continuassem mais um ano'. Beck disse que o chamaram até Rotterdam, onde durante três horas tocou somente três acordes. 'Acho os Stones uma boa banda, mas seu estilo de música é muito banal, se comparado com o que estou desejando realizar', disparou.
O lançamento de 'Blow By Blow', na primavera de 75, assinala a entrega total de Jeff Beck ao jazz contemporâneo, demonstrando claramente que sua disposição era fazer uma música aberta a todas as experiências. Sua carreira solo prosseguiu com os seguintes elepês: 'Wired' - 76, 'Jeff Beck with Jan Hammer Group Live - 77, 'There an Back' - 80, 'Flash' - 85 e 'Jeff Beck Guitar Shop' - 89."
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