Em sua edição nº 29, em 1974, a revista Pop trazia uma entrevista com Raul Seixas, que estava no auge de seu sucesso. Na época Raul estava muito envolvido filosofia e Sociedade Alternativa, e já estava às voltas com as gravações do seu terceiro trabalho-solo, Novo Aeon, que segundo a entrevista teria primeiramente o título de Eu. A entrevista foi feita a Carlos Caramez:
"Pop - Você ainda não conseguiu se acertar com nenhum empresário. Como é que fica o seu esquema de trabalho?
Raul- Agora eu estou trabalhando comigo mesmo. Decidi ser meu próprio empresário. Abri meu boteco, que se chama R.S. Noveon Ltda., onde trabalham pessoas que não são empresários nem homens de negócios. São pessoas que sabem que a técnica já mudou, que os negócios hoje são uma guerra de inteligência, e não aquela coisa velha de guerra de capitais. Tudo é um grande jogo de xadrez. É assim que funciona o meu boteco: todo mundo é partidário de uma mesma concepção e todo mundo está a fim de uma mesma coisa. As pessoas são todas diferentes umas das outras, mas se equilibram dentro do mesmo valor. Porque é necessário haver o sim, para haver o não. Aquele velho equilíbrio cósmico das coisas.
Pop - Seu parceiro Paulo Coelho não trabalha mais com você. O que houve?
Raul - Nada. Acontece que minha linha agora é o egoísmo, ou Raulseixismo. Tenho meus próprios valores, sou meu próprio país. Não sou melhor e nem pior que ninguém porque sou único. Às vezes Paulo e eu começávamos a fazer uma letra, e as ideias se chocavam. Então saiu um cada um para um lado.
Pop - E a Sociedade Alternativa, em que pé está?
Raul - Ela existe, mas não é palpável. Ela está aí, no ar, dentro deste momento.
Pop - Mas ela pode crescer sem ter nada palpável, visível? Vivendo só dentro da cabeça de cada um?
Raul - Eu tenho recebido cartas que nem consigo responder. Gente que pergunta quanto deve pagar para fazer parte da Sociedade Alternativa. É o maior barato! Cartas de sociólogos, convites para palestras. Uma vez fui contratado por uma universidade pensando que ia fazer um show; cheguei lá, era uma palestra sobre sociologia para quinhentos estudantes - o tema era Sociedade Alternativa. Adorei.
Pop - Você viaja muito para os Estados Unidos. Quais são as suas perspectivas profissionais por lá?
Raul - Talvez eu grave na Warner Bros., com a ajuda de John Lennon, que está me ajudando muito. Ele é um cara fantástico, está dentro do mesmo esquema nosso, na base do 'não adianta lutar com guarda'. Mas nosso relacionamento é extra-musical. Ele é um egoísta incrível, um grande individualista. Mas um individualista alternativo, social, coletivo. Ele é muito lúcido e gostou da explanação das minhas ideias, das minhas letras. É um cara que sabe escutar, não fala muito e quer saber tudo o que está acontecendo no mundo.
Pop - Dá pra comparar a sua Sociedade Alternativa com as outras que estão espalhadas pelo mundo?
Raul - Não há comparação, porque o Brasil é outra cultura, todo um processo civilizatório diferente. Então, temos aqui uma Sociedade Alternativa brasileira, dentro do campo e do limite em que ela pode se estender. E quando ela pintar como realidade, obviamente o Brasil vai entrar nessa, porque não tem saída.
Pop - A música e os compositores são os principais responsáveis por muitas mudanças que ocorrem no mundo?
Raul - São. Antes, o maior valor era do intérprete. Mas a arte está morrendo e cedendo seu lugar à expressão. Quer dizer: a arte é o espelho social de uma época, de um momento. Então, não existe arte, e sim, a própria pessoa se expressando.
Pop - Assim, não há distinção de público para você. Todos os públicos são seu público...
Raul - Eu faço boleros, tangos, e canto para quem curte isso também. Minha música é para todo mundo. Não é hermética, porque não complico.
Pop - Você está meio sozinho no panorama artístico brasileiro. Isso não pode prejudicar o seu trabalho? Quer dizer: você só se alimenta de você mesmo?
Raul - A verdade é prenúncio de um momento, o caos é prenúncio de um momento. Quando eu digo que sou a luz das estrelas, não estou falando de mim. O pedreiro lá da frente de casa, que está construindo um edifício, canta essa música como se fosse ele. Isso porque nós somos o verbo ser. É só isso, nós somos o verbo ser. Sendo o que você tem vontade de ser, não existe mais nada. Nós somos, está acabado. Tudo é. Então, o eu é fortíssimo. Você tem que ter primeiro a consciência do eu para poder respeitar terceiros e então fazer o que você quer, que é tudo da lei, da sua lei.
Pop - E sobre os novos shows ou um novo disco, o que é que há de novo?
Raul - Vamos fazer muitos shows por aí, e já estou gravando um novo LP para lançar em maio. O disco vai se chamar EU. De músicas novas, tem Noveon, Para Cada Buraco uma Rolha, Eu Sou Egoísta, Não Me Pergunte Porque... É um disco muito legal, estou apaixonado por ele.
Pop - Você viaja muito para os Estados Unidos. Quais são as suas perspectivas profissionais por lá?
Raul - Talvez eu grave na Warner Bros., com a ajuda de John Lennon, que está me ajudando muito. Ele é um cara fantástico, está dentro do mesmo esquema nosso, na base do 'não adianta lutar com guarda'. Mas nosso relacionamento é extra-musical. Ele é um egoísta incrível, um grande individualista. Mas um individualista alternativo, social, coletivo. Ele é muito lúcido e gostou da explanação das minhas ideias, das minhas letras. É um cara que sabe escutar, não fala muito e quer saber tudo o que está acontecendo no mundo.
Pop - Dá pra comparar a sua Sociedade Alternativa com as outras que estão espalhadas pelo mundo?
Raul - Não há comparação, porque o Brasil é outra cultura, todo um processo civilizatório diferente. Então, temos aqui uma Sociedade Alternativa brasileira, dentro do campo e do limite em que ela pode se estender. E quando ela pintar como realidade, obviamente o Brasil vai entrar nessa, porque não tem saída.
Pop - A música e os compositores são os principais responsáveis por muitas mudanças que ocorrem no mundo?
Raul - São. Antes, o maior valor era do intérprete. Mas a arte está morrendo e cedendo seu lugar à expressão. Quer dizer: a arte é o espelho social de uma época, de um momento. Então, não existe arte, e sim, a própria pessoa se expressando.
Pop - Assim, não há distinção de público para você. Todos os públicos são seu público...
Raul - Eu faço boleros, tangos, e canto para quem curte isso também. Minha música é para todo mundo. Não é hermética, porque não complico.
Pop - Você está meio sozinho no panorama artístico brasileiro. Isso não pode prejudicar o seu trabalho? Quer dizer: você só se alimenta de você mesmo?
Raul - A verdade é prenúncio de um momento, o caos é prenúncio de um momento. Quando eu digo que sou a luz das estrelas, não estou falando de mim. O pedreiro lá da frente de casa, que está construindo um edifício, canta essa música como se fosse ele. Isso porque nós somos o verbo ser. É só isso, nós somos o verbo ser. Sendo o que você tem vontade de ser, não existe mais nada. Nós somos, está acabado. Tudo é. Então, o eu é fortíssimo. Você tem que ter primeiro a consciência do eu para poder respeitar terceiros e então fazer o que você quer, que é tudo da lei, da sua lei.
Pop - E sobre os novos shows ou um novo disco, o que é que há de novo?
Raul - Vamos fazer muitos shows por aí, e já estou gravando um novo LP para lançar em maio. O disco vai se chamar EU. De músicas novas, tem Noveon, Para Cada Buraco uma Rolha, Eu Sou Egoísta, Não Me Pergunte Porque... É um disco muito legal, estou apaixonado por ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário