"Vitalidade. Esta talvez seja a palavra mágica que define a forma como cada um desses músicos chega aos 50 anos. No caso de Gilberto Gil, que aniversariou no dia 26 de junho, esta energia se traduz nos quase 150 shows que faz no Brasil e no exterior todos os anos e nos discos que grava a cada triênio. Parabolicamará, é prova de um talento que foi se apurando nesse meio século de vida. Ele mesmo é bem modesto ao falar sobre o seu trabalho. 'Atualmente, acho que estou fraco em melodia, médio em ritmo e muito sabido em harmonia', define-se Gil.
Seu disco contradiz tanta modéstia. Parabolicamará mistura Xuxa com Dorival Caymmi, canções antigas suas com outras semifolclóricas, num estilo que tem como constante a capacidade de Gil de surpreender. Seus 50 anos foram comemorados com um singelo jantar em família (seus sete filhos, dois netos, sua atual mulher, Flora, e as três ex, Belinha, Nana Caymmi e Sandra) em casa mesmo. Na época, Gil até criticou a lembrança de data tão redonda: 'A cronologia é uma forma de controle racial.' Mas reconheceu que o tempo o fez mais emotivo, chorão mesmo. Se houve mudança, foi para melhor.
Gil prefere não fazer um balanço da sua geração nem fazer das suas desistências marcas de um fracasso de geração. A política, ele admite que tenha mesmo sido um desses fiascos. 'Na conjuntura brasileira atual, ela é uma arte marcial, que se pauta pela guerra, pela eliminação dos adversários, e o meu temperamento é mais diplomático, mais inclinado à convivência com os contrários', observa. E conclui: 'Talvez a minha geração não seja guerreira, talvez tenha vindo exatamente para depor as armas, para fazer do fracasso uma vitória a longo prazo, anunciando que as verdadeiras mudanças não se fazem através dos partidos e da política, mas sim através das conquistas espirituais'.
Gil já encerrou as comemorações de seu aniversário. Quem está cuidando disso é Almir Chediak, que prepara para setembro o songbook do compositor, que terá 135 músicas divididas em dois livros, uma entrevista com o homenageado, textos de Caetano Veloso, Jorge Mautner, Antonio Rizério e Muniz Sodré, além de um CD com 30 músicas escolhidas do repertório de Gil e gravadas por quase toda a constelação da música popular brasileira. Vai ser um trabalho nos moldes de Noel', destaca Chediak.
Se Gil passou - e está passando - seu cinquentenário praticamente em branco e Caetano Veloso foge de tanta comemoração, o mesmo não parece ocorrer com o outro cinquentão, Milton Nascimento, que chega ao meio século no dia 26 de outubro cercado de mistério. Ativo ele está, como todos os outros, pois lançou um disco, O Planeta Blue na Estrada do Sol, no início do ano; concorreu ao Grammy com o disco anterior, Txai!; fez uma turnê pela Europa e ainda encontrou tempo para revisar sua Missa dos Quilombos e apresentá-la, reintitulada como Missa da América Negra, na Exposição Mundial de Sevilha e, no último fim de semana, em Belo Horizonte.
A timidez não impede que Milton seja festejado como um dos maiores músicos brasileiros em todo o mundo. Até o início deste ano, Milton era um dos principais contratados da Sony Music, que se encarregou de arremessá-lo definitivamente no mercado mundial. Uma tentativa que já vinha sendo feita desde a década de 70. 'A música brasileira pode conquistar o mercado internacional e tem caráter universal', diz. Ele, no entanto, não quer saber, tão cedo, de assumir um novo compromisso com a indústria fonográfica nacional. 'Eles só querem saber de trabalhos comerciais, não se preocupam com a qualidade. Eu coloco a vida no meu trabalho e, só por isso, já mereço respeito', desabafa.
O caçula dessa turma é Paulinho da Viola que, mesmo com a cabeça completamente grisalha, lembra aquele jovem tímido que compôs um dos hinos da Portela, 'Foi um Rio que Passou em Minha Vida', em 1970. Quando o assunto é o seu aniversário no dia 12 de novembro, e os seus 50 anos, ele faz rodeios: 'Não estou sentindo nada de especial, não tem significado para mim, não tem essa badalação. Na verdade, não sei falar sobre isso'. Para Paulinho, a idade não altera em nada sua vida, levada na maior tranquilidade em seu apartamento na Barra da Tijuca, ao lado de quatro de seus sete filhos, que já lhe deram duas netas. E, mesmo quando se pergunta se ele corresponde à imagem que fazia, há 30 anos, de um avô de 50 anos, o sambista abre um sorriso e responde; 'Nunca tive uma imagem fixa dessa ou daquela idade. Agora, se você me pergunta se eu me olho no espelho e vejo um velhinho que só brinca com os netos e não faz mais nada, eu te digo que não me vejo assim, não'.
Bastava ter assistido ao show que Paulinho fez no Rio de Janeiro, há 20 dias, no Circo Voador, lotado, para confirmar o que ele diz. Se os cabelos estão grisalhos, o rosto é luminoso e a timidez passa mais como uma elegância, um jeito cool de cantar seus sambas e cativar uma plateia jovem como a que costuma frequentar o espaço sob os arcos da Lapa. E quem o visse, nem perceberia a confessada preocupação ao entrar no palco. 'Por questões particulares', diz ele, 'eu passei seis meses sem me apresentar. Por isso, antes do show, eu fiquei meio apreensivo. Mas, no palco, tudo voltou ao que era antes.'
Paulinho não fala sequer de arrependimentos. Ele diz apenas que, ao ouvir algumas músicas que fez há mais tempo, pensa: 'Se eu soubesse certas coisas, não teria feito assim. Seria de outra forma.' E sua gentileza se estende ao falar da nova geração: 'Fica difícil comparar, porque são épocas diferentes. Tenho visto muita gente dizer que agora todo mundo é 'mauricinho', de falar com saudade de outros tempos, que tudo era melhor. Mas eu acho que o pessoal mais novo encontrou outra realidade, um país mais deteriorado e teve mais dificuldades. Assim, fica difícil avaliar, porque não houve um processo natural. O que a gente fazia era beber na fonte do passado para criar. Hoje, há todo um grupo voltado para fora do Brasil. O pessoal de hoje cria, mas de um jeito diferente da gente', diz.
Paulinho da Viola é o único que já tem data marcada para a festa. Na verdade, acontecerá dois dias antes, em 10 de novembro, quando ele vai receber o Prêmio Shell de Música. Uma homenagem que é prestada todos os anos a um compositor e já recebida pelos outros três cinquentões deste ano, além de Tom Jobim, Braguinha, Dorival Caymmi e Martinho da Vila. O sambista fará um show no Canecão, receberá U$ 10 mil e aproveitará a ocasião para lançar o disco que ficou devendo ano passado para a gravadora BMG-Ariola.
Se os 50 anos são recebidos de tão bom grado, Paulinho dá a receita citando seu pai, o violonista César Farias, que foi do conjunto Época de Ouro e até hoje o acompanha nos shows. 'Meu pai, que já é bisavô, joga bola na praia até hoje. Por isso, fazer 50 anos não me assusta', ensina. E não são apenas estes os pontos comuns entre os cinquentões. Nenhum deles se vê como celebridade, mas é Caetano Veloso quem sintetiza a melhor resposta: 'Eu posso ter sonhado ser célebre, ou achado que ia ser uma pessoa célebre quando era criança. Até me imaginava assim com uma barba grande feito um filósofo. Eu era pequeno e achava aquilo. Mas a verdade é que eu não sinto uma atração real por viver uma situação que não tenha a ver com a vivência cotidiana das pessoas que eu vejo hoje ou do período que a minha imaginação pode cobrir da humanidade. Não tenho vontade de descobrir nada que não possa ser compartilhado pelos outros. A impressão que eu tenho é de que todo mundo pode entender tudo.' "
O caçula dessa turma é Paulinho da Viola que, mesmo com a cabeça completamente grisalha, lembra aquele jovem tímido que compôs um dos hinos da Portela, 'Foi um Rio que Passou em Minha Vida', em 1970. Quando o assunto é o seu aniversário no dia 12 de novembro, e os seus 50 anos, ele faz rodeios: 'Não estou sentindo nada de especial, não tem significado para mim, não tem essa badalação. Na verdade, não sei falar sobre isso'. Para Paulinho, a idade não altera em nada sua vida, levada na maior tranquilidade em seu apartamento na Barra da Tijuca, ao lado de quatro de seus sete filhos, que já lhe deram duas netas. E, mesmo quando se pergunta se ele corresponde à imagem que fazia, há 30 anos, de um avô de 50 anos, o sambista abre um sorriso e responde; 'Nunca tive uma imagem fixa dessa ou daquela idade. Agora, se você me pergunta se eu me olho no espelho e vejo um velhinho que só brinca com os netos e não faz mais nada, eu te digo que não me vejo assim, não'.
Bastava ter assistido ao show que Paulinho fez no Rio de Janeiro, há 20 dias, no Circo Voador, lotado, para confirmar o que ele diz. Se os cabelos estão grisalhos, o rosto é luminoso e a timidez passa mais como uma elegância, um jeito cool de cantar seus sambas e cativar uma plateia jovem como a que costuma frequentar o espaço sob os arcos da Lapa. E quem o visse, nem perceberia a confessada preocupação ao entrar no palco. 'Por questões particulares', diz ele, 'eu passei seis meses sem me apresentar. Por isso, antes do show, eu fiquei meio apreensivo. Mas, no palco, tudo voltou ao que era antes.'
Paulinho não fala sequer de arrependimentos. Ele diz apenas que, ao ouvir algumas músicas que fez há mais tempo, pensa: 'Se eu soubesse certas coisas, não teria feito assim. Seria de outra forma.' E sua gentileza se estende ao falar da nova geração: 'Fica difícil comparar, porque são épocas diferentes. Tenho visto muita gente dizer que agora todo mundo é 'mauricinho', de falar com saudade de outros tempos, que tudo era melhor. Mas eu acho que o pessoal mais novo encontrou outra realidade, um país mais deteriorado e teve mais dificuldades. Assim, fica difícil avaliar, porque não houve um processo natural. O que a gente fazia era beber na fonte do passado para criar. Hoje, há todo um grupo voltado para fora do Brasil. O pessoal de hoje cria, mas de um jeito diferente da gente', diz.
Paulinho da Viola é o único que já tem data marcada para a festa. Na verdade, acontecerá dois dias antes, em 10 de novembro, quando ele vai receber o Prêmio Shell de Música. Uma homenagem que é prestada todos os anos a um compositor e já recebida pelos outros três cinquentões deste ano, além de Tom Jobim, Braguinha, Dorival Caymmi e Martinho da Vila. O sambista fará um show no Canecão, receberá U$ 10 mil e aproveitará a ocasião para lançar o disco que ficou devendo ano passado para a gravadora BMG-Ariola.
Se os 50 anos são recebidos de tão bom grado, Paulinho dá a receita citando seu pai, o violonista César Farias, que foi do conjunto Época de Ouro e até hoje o acompanha nos shows. 'Meu pai, que já é bisavô, joga bola na praia até hoje. Por isso, fazer 50 anos não me assusta', ensina. E não são apenas estes os pontos comuns entre os cinquentões. Nenhum deles se vê como celebridade, mas é Caetano Veloso quem sintetiza a melhor resposta: 'Eu posso ter sonhado ser célebre, ou achado que ia ser uma pessoa célebre quando era criança. Até me imaginava assim com uma barba grande feito um filósofo. Eu era pequeno e achava aquilo. Mas a verdade é que eu não sinto uma atração real por viver uma situação que não tenha a ver com a vivência cotidiana das pessoas que eu vejo hoje ou do período que a minha imaginação pode cobrir da humanidade. Não tenho vontade de descobrir nada que não possa ser compartilhado pelos outros. A impressão que eu tenho é de que todo mundo pode entender tudo.' "
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