Eu possuo muito material sobre Jimi Hendrix, entre recortes, livros, revistas, etc, mas de todo esse material impresso, somente um é do tempo em que ele ainda vivia.Trata-se de uma matéria publicada no jornal O Pasquim, em 1969, na coluna Underground, escrita pelo jornalista Luiz Carlos Maciel. Em sua coluna Maciel falava de contracultura, rock, comportamento e coisas ligadas aos movimentos ligados a uma nova corrente de pensamento, ligada ao movimento hippie, flower power, etc. E Hendrix era um importante personagem de toda essa corrente musical e comportamental que era destacada na coluna Underground, que hoje faz parte da história da contracultura no Brasil. A matéria tem por título "Jimi Hendrix está na dele':
"Para quem quiser saber como vai ser a música do futuro, da próxima década dos setenta, não conheço dica melhor do que os discos de Jimi Hendrix. Três deles já foram editados no Brasil: Smash Hits, Eletric Ladyland e Axis: Bold as Love. E outros certamente virão. Os quadrados torcem o nariz diante deles. Mas a garotada prafentex identifica neles o som da nova Idade Elétrica na qual, segundo Marshall McLuhan, estamos inexoravelmente ingressando.
Hendrix é um crioulo americano de cara esquisita, cuja formação musical é claramente feita pelo rythm and blues que floresce no Harlem e em outros guetos negros dos Estados Unidos. Sem a sofisticação do jazz, que sempre foi uma manifestação musical superior, o R&B tem, porém, as suas inflexões negroides e força primitiva. Como o jazz, o R&B conheceu a sua variante branca, diluída e dirigida por interesses comerciais mais amplos. Chama-se rock and roll e, como se sabe, foi a origem da música dos Beatles e o canal adequado para que as guitarras elétricas manifestassem sua inédita sonoridade. Hendrix tocou guitarra com alguns conjuntos de R&B, viajou para a Inglaterra, sofreu a influência do trabalho dos Beatles e dos Rolling Stones e voltou aos Estados Unidos para formar o seu próprio conjunto: o hoje célebre Jimi Hendrix Experience.
O lendário Jimi Hendrix Experience |
Hendrix não usa muitos instrumentos: o Experience é um trio que conta, além de sua guitarra elétrica, com um baixo e uma bateria. Ao contrário do esquema tradicional da base rítmica (feita pelo baixo e pela bateria, por exemplo), Hendrix cria uma rica polifonia de três linhas melódicas, usando cada instrumento como solista e harmonizando-os como muita inventiva. Ele retomou a orientação experimentalista dos Beatles e tenta levá-la ao seu limite. Recolheu também a contribuição de música oriental, o que veio a ser um dos elementos característicos de seu novo som.
Em que reside, porém, a originalidade desse novo som? Ao contrário da maioria de seus companheiros de viagem, Hendrix concentra suas experiências sobre o aparato elétrico de seus instrumentos. Excelente instrumentista, na verdade um músico de qualidade superior por qualquer critério, ele explora todos os sons conhecidos e alguns desconhecidos da guitarra elétrica. Até mesmo a distorção deliberada do registro elétrico de suas gravações, é amplamente utilizada. Basta escutar Eletric Ladyland, principalmente na edição original, que consta de dois LPs, para verificar que Hendrix já transformou, hoje, a eletricidade no seu verdadeiro veículo de expressão musical. O que a música eletrônica aspirou a fazer, Hendrix realiza a nível da música popular.
A diferença está no fato de que a música eletrônica, apesar da audácia, continua ligada à tradição racionalista, letrada - como diria McLuhan - da arte ocidental, enquanto a de Hendrix corresponde ao que o mesmo McLuhan chama de tendência à retribalização da juventude contemporânea. Ela envolve para ser devidamente apreciada, uma nova sensibilidade musical que os Beatles apenas insinuaram nos seus ouvintes. Hendrix a assume, na sua integridade, e a exige em seus próprios ouvintes. É por isso que digo que a guitarra elétrica, em Jimi Hendrix, não é apenas um novo som; é uma nova experiência existencial que exige, para que se estabeleça uma comunicação efetiva, uma alteração profunda na própria maneira de viver do ouvinte, nos próprios valores que norteiam seu comportamento e no seu próprio sistema nervoso. Sim: a música de Jimi Hendrix exige uma readaptação certamente mais fácil aos jovens da nova sensibilidade. Esse é o segredo da sua força e de sua originalidade."
A diferença está no fato de que a música eletrônica, apesar da audácia, continua ligada à tradição racionalista, letrada - como diria McLuhan - da arte ocidental, enquanto a de Hendrix corresponde ao que o mesmo McLuhan chama de tendência à retribalização da juventude contemporânea. Ela envolve para ser devidamente apreciada, uma nova sensibilidade musical que os Beatles apenas insinuaram nos seus ouvintes. Hendrix a assume, na sua integridade, e a exige em seus próprios ouvintes. É por isso que digo que a guitarra elétrica, em Jimi Hendrix, não é apenas um novo som; é uma nova experiência existencial que exige, para que se estabeleça uma comunicação efetiva, uma alteração profunda na própria maneira de viver do ouvinte, nos próprios valores que norteiam seu comportamento e no seu próprio sistema nervoso. Sim: a música de Jimi Hendrix exige uma readaptação certamente mais fácil aos jovens da nova sensibilidade. Esse é o segredo da sua força e de sua originalidade."
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