Em sua edição nº 26, de novembro de 1976, o Jornal de Música em sua coluna de resenha de shows, chamada Ao Vivo, trazia uma matéria sobre um show de Walter Franco, após um longo tempo fora dos palcos. O texto de chamada: "Sem maldição, sem escândalos, sem hermetismo e com muita simplicidade, a volta de Walter Franco", dava uma ideia do retorno de Walter aos palcos.
A matéria, assinada por Waldemir Marques é transcrita abaixo;
"Depois de um ano e quatro meses afastado dos palcos, Walter Franco apresentou-se nos dias 18 e 19 de outubro no Teatro Aquarius, em São Paulo, com seu espetáculo Revolver ( e não Revólver, pois no princípio era o verbo, como ele mesmo insiste em dizer), que reúne as composições de seus dois LPs: Walter Franco (aquele da mosca, lembram?, muito convenientemente relançado, agora, pela Continental) e Revolver.
A indiscutível qualidade musical da obra de Walter foi apresentada com o melhor nível possível num teatro (improvisado) como o Aquarius (que era um antigo cinema). Os sintetizadores e as câmaras de eco, utilizados de forma consciente, conseguiam transmitir o clima que o show exigia. Esse resultado sonoro de boa qualidade sem dúvida se deve também ao ótimo grupo que acompanhou Walter Franco, formado por Diógenes, na bateria; Maurício Nassif, na guitarra; Maurício Pedrosa, nos teclados; Édson, no baixo; e Roberto e Ivo, que realizaram um extraordinário trabalho na percussão (sem dúvida nenhuma o ponto alto na parte instrumental).
A finalidade principal do show foi desmistificar a grande comoção que Walter Franco causou desde que surgiu no FIC com Cabeça, que lhe vale até hoje o incômodo rótulo de 'maldito'. A significativa presença de público foi prova suficiente de que existe um imenso mercado aberto à nova linguagem que esse compositor tenta propor com seu trabalho, faltando somente um maior cuidado por parte de sua gravadora em não permitir que os discos de Walter se tornem raridades de colecionador, impossíveis de ser encontrados nas lojas de discos, como aconteceu com seu primeiro LP.
Músicas consagradas, como Muito Tudo, Cachorro Babucho, Feito Gente, Mamãe D'Água e Me Deixe Mudo, conseguiram causar espanto e admiração na plateia. Músicas dos Beatles, Macalé, Caetano e outros completaram o espetáculo, ao lado de algumas canções de Walter ainda não gravadas, como Respire Fundo, sua criação mais recente, com Diógenes.
Walter Franco continua a mesma figura serena de sempre, e nem se abala com o grande número de pessoas que vem assisti-lo. A proposital primariedade infantil de seu canto (Walter dedicou seu trabalho às crianças), aliada à força de gritos primais e à respiração cadenciada, conseguiu estabelecer um clima de respeitoso silêncio e transmitir uma atmosfera de tranquilidade e simplicidade, oposta ao suposto hermetismo de seu trabalho.
Lamentável, apenas, a impossibilidade de continuação desse show, devido à falta de teatros em São Paulo. Moracy do Val, produtor do espetáculo, desabafa: 'Produzir esse espetáculo foi um aglomerado de dificuldades e de obstáculos muito duro de vencer. Existe uma séria dificuldade em se trabalhar com artistas que são rotulados de malditos, porém essa resposta recebida com a afluência do público, e que surpreende até as gravadoras, é facilmente obtida desde que seja realizado um trabalho bem feito. É uma pena que não conseguimos sequência com esse show, mas ele continuará sendo apresentado em São Paulo, com a assiduidade que as circunstâncias permitirem, e depois irá para outros estados'
E você, Walter, o que tem a dizer? Algum grilo?
- A coisa é isso, revolver, apesar de tudo, muito leve..."
''Revolver'',o verbo e não o substantivo.
ResponderExcluir