Palavras Domesticadas

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terça-feira, 10 de abril de 2012

Joe Pass - Um Mestre da Guitarra Acústica


Um dos grandes nomes do jazz, quando se fala em guitarra acústica é sem dúvida, Joe Pass. Dono de um fraseado altamente técnico, Pass revestia com harmonias ricas e precisas as músicas que interpretava, o que lhe valeu o apelido de "O Virtuoso". Ouvir Joe Pass passa a impressão que é fácil tocar guitarra, uma coisa simples, sem segredos. Pass morreu em 94, aos 65 anos, deixando uma obra das mais respeitadas no jazz. Nos anos 80, quando aqui esteve, o crítico Mauro Dias escreveu uma matéria sobre um show que o mestre deu na antiga casa de shows Jazzmania:
"O jovem guitarrista Victor Biglione, talvez o mais criativo de sua geração, manifestava pra quem quisesse ouvir: 'Esse cara é o máximo. Tudo o que sei devo a ele, tudo que pretendo fazer é o que ele faz. É um momento de graça divina poder estar aqui assistindo ao show dele'. O ele , o esse cara era o jazzman Joe Pass, papa da guitarra moderna, em temporada de esfuziante criatividade no Jazzmania. Tocando para uma plateia atenta, conhecedora de jazz e de sua obra, Pass fez, na estreia, terça-feira, o que ele mesmo considerou um dos mais belos espetáculos de sua longa carreira.
Foam dois sets de uma hora de duração cada. Pass, virtuose que definiu a guitarra de jazz dos anos 50 em diante (os guitarristas que vieram depois dele, no campo, andaram pouco em relação ao que cristalizou), sozinho com sua guitarra, ar bonachão, descontraído apesar do terno sóbrio e da gravata (tirou o paletó na segunda intervenção), resgatou para o público o sentido básico do blues: a alegria de tocar, o prazer do improviso, o deslumbre pela própria arte, a satisfação de descobrir a cada interpretação uma nota nova, um acorde insuspeitado, uma variação ainda não explorada.

Passeando por clássicos de todos os tempos - de 'It's a Woderfull Word' a 'Wave', de Tom Jobim, de 'Blues In G' a uma preciosa recriação de 'Daquilo Que Eu Sei', de Ivan Lins ('essa música que toquei não sei direito o nome'), de Sattin'Doll', num medley em homenagem a Duke Ellington, a 'Nuage', de Django Reinhart, passando por 'Corcovado', 'Time To Time', 'Sophisticated Lady', 'Sumertime', 'It Aint Necessary So', 'Round Midnight' - mostrou toda a genialidade no domínio do instrumento que torna seu som inconfundível. E, na boa tradição dos músicos de jazz, usou os temas como pretexto para brincadeiras bem-humoradas desenvolvidas no improviso.
Pass conversou com a plateia durante todo o tempo, fez piadas, mexeu com os músicos de rock e com os guitarristas modernos que 'abusam da velocidade', citando a cidade de Boston sem falar na escola de Berklee - exatamente a que gera esses guitarristas adeptos da velocidade em pouca melodia - fez rir, fez chorar.
Nada de hermetismos. Vida musical e só isto. A 'graça divina' citada por Victor Biglione deve servir de orientação para jovens músicos, para o público amante da boa música e para os que desejam iniciar-se na compreensão do jazz: ouvir Joe Pass é essencial - como Joe Pass é fundamental para a história do jazz e de toda a guitarra moderna. Não há como citar melhores momentos, como se faz com os normais. Pass é gênio e cada momento seu é melhor. Não percam."

3 comentários:

  1. Olá, como vai? Teria as informações de datas dos shows? É porque lá estive mas não lembro sequer o ano, rs.

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  2. não tenho essas informações, popis extraí o texto de um recorte de jornal sem data. Abraço

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    1. Sei que foi em 86 ou 87, pois foi quando esbarrei - e tietei, é claro! - o Joe Ramirez, acompanhado por ninguem menos que Clay Regazzoni. Vou descobrir e te digo aqui, b'ração!

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