Palavras Domesticadas

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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Primeira vinda de Rod Stewart ao Brasil


Em janeiro de 1978, Rod Stewart, um dos grandes astros do rock, desembarcava no Brasil pela primeira vez, não para fazer shows, mas sim como turista. Na época, talvez o único órgão de imprensa que cobriu sua chegada em solo brasileiro, foi o Jornal de Música. A foto que ilustra essa postagem foi tirada em seu desembarque no Aeroporto Internacional do Galeão, pelo fotógrafo Maurício Valladares, segundo o jornal, o único fotógrafo que se encontrava na pista de desembarque. De acordo com a publicação, havia cerca de 300 fãs no aeroporto aguardando a chegada de Rod, o que até causa estranheza por só haver um único fotógrafo no aeroporto, já que pelo visto não havia tanto segredo em torno da chegada do grande astro internacional ao Brasil.
Revendo essa matéria, chego à conclusão que foi nessa passagem de Rod pelo Brasil, na ocasião, lançando seu disco "Footloose and Fancy Free", que ele ouviu e se encantou com a música Taj Mahal, de Jorge Ben, a ponto de plagiar o refrão da música em seu hit "Do Ya Think I'm Sexy?". Para quem não se lembra desse episódio, Jorge Ben entrou com uma ação contra Stewart, que foi ganha, embora ele não tenha recebido nenhuma indenização financeira por direitos autorais, já que Rod, espertamente, havia doado os direitos de sua música para a UNICEF, órgão da ONU que trata de questões ligadas às crianças carentes do mundo, e Jorge optou por não tirar o dinheiro dos cofres da instituição. Por uma coincidência ou ironia, o jornal que noticia a chegada de Rod ao Brasil, trazia na página anterior uma matéria com Jorge Ben, conforme foto abaixo. Eis a matéria, escrita por José Emílio Rondeau, intitulada "Histeria, gritos e loucura: Rod Chegou ao Rio":

"Às 16h01 min do dia 11 de janeiro, a energia que abastece o interior do Aeroporto Internacional do Galeão foi interrompida sem motivo aparente. A essa altura, a pequena multidão que cercava o portão de desembarque nº 5 começava a se inquietar, entoando gritinhos e 'úúúús' e abrindo as faixas que enfeitaram os três ônibus que os trouxeram da praia do Arpoador, cortesia da Rádio Cidade e da WEA. Quando algum provocador anuciava maliciosamente - 'É ele', a garotada (franca maioria) apertava mais forte sua cópia de 'You're in my Heart (gracias, WEA) e se espremia mais ainda no vidro que separava do setor de alfândega, na esperança de conseguir uma visão privilegiada do motivo de seu desassossego.
O terraço do aeroporto também estava apinhado, mesmo sendo nulas as chances de se avistar alguém de lá, pois Rod Stewart sairia direto do Concorde que o trouxe de Paris, onde comemorou seus 33 anos, para o saguão do aeroporto, pela 'lagartixa telescópica'. Para delírio geral, a 'salsicha' quebrou, e Rod, vestindo um conjunto marrom degradé, de argola dourada na orelha esquerda e, claro, de óculos escuros, teve que andar pela pista de aterrissagem. Eram 16h30 min. A multidão que antes era pequena virou turba incontrolável, atingindo, por cálculos arredondados, 300 pessoas. No momento exato em que Rod pisou em solo brasileiro, a luz voltou voltou a iluminar os corredores do Galeão.
Dentro da alfândega, aeromoças, funcionários e passageiros curiosos arremedavam os teenagers, enfileirando-se para ver Rod Stewart, que fatalmente desceria a escada rolante que dá para as esteiras de recolhimento de malas. Assim que se percebeu que a 'fuga' do astro inglês seria pelo portão nº 6, o tumulto estava formado. Todos correram em direção a Rod, que já estava a poucos metros do Galaxie que o levaria ao Copacabana Palace, para a suíte presidencial, onde ficou até o dia 23, tentando evitar os nervos breakdown que seu médico previu. Rod veio ao Rio para realmente descansar, chegando até a cancelar uma tournée pelos EUA, marcada para iníciar nas próximas semanas.
Os cinco policiais que isolavam Rod não conseguiam cumprir seu trabalho protetor. Com uma das expressões mais apavoradas que já vi em toda a minha vida, Rod era levado de um lado para o outro, de acordo com os avanços da multidão histérica que o acuava. No meio da confusão, os mais eufóricos trepavam nos táxis estacionados próximo ao Galaxie, procurando um ângulo melhor que revelasse algo mais além dos esguichos de cabelo louro de Rod. Quando, enfim, Rod conseguiu alcançar o carro, ainda houve um guri mais afoito que berrava dentro do ouvido do motorista - ROD! Stewart, ofegante e sem largar o seu 'Vogue', acenava um 'tudo bem' como o polegar levantado enquanto o Galaxie cispava para a segurança do Copa."

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