Palavras Domesticadas

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Cabaret Voltaire - Dadaísmo Eletrônico


A banda Cabaret Voltaire trazia um tipo de som diferente do que se fazia nos anos 80, uma música com elementos eletrônicos, mas que fugia daquele bate-estaca característico desse gênero musical. Em 1º de maio de 1988, a coluna dominical Rio Fanzine, do jornal O Globo, trazia uma matéria sobre a banda, com o título Dadaísmo Eletrônico, assinado pelo editor da coluna Tom Leão. A foto que ilustra essa postagem, extraída da matéria, trazia a leganda: "O som do Cabaret Voltaire cria indecifráveis momentos de transe". Abaixo a transcrição da matéria:
"A luz estreboscópica pisca intermitentemente. A cabeça gira. A marcação eletrônica pesada ecoa dentro do estômago e bate forte como um soco. O som mântrico repete-se e repete-se... A cabeça gira. Esses são alguns dos efeitos provocados pela música do grupo inglês Cabaret Voltaire. São os sintomas dos blipverts musicais que jogam uma mensagem subliminar dentro dos cérebros, seja via fones de ouvido ou através das caixas de som.
Esse é o código "Sensoria" que dá acesso mas não decifra totalmente o Cabaret Voltaire. Formado em 1974, o grupo até hoje continua lançando trabalhos interessantes, resultados de uma pesquisa incessante de som e tecnologia. Sua música é extremamente difícil de se descrever, embora a dupla que o compõe, Stephen Mallinder e Richard H. Kirk, aprecie a denominação 'rumba eletrônica'. Who cares? São anos de experimentos e transgressões na escala musical. Nada faz sentido dentro de um trabalho muito disciplinado.
O nome reflete bem a proposta. Cabaret Voltaire. Quando Hugo Ball e seus amigos correram da opressão nazista, foi nessa casa instalada em Zurique, na Suíça - que existiu por um curto período - que loucuras foram cometidas para criticar as loucuras da guerra. E o que diziam ou faziam não precisava ter senso. Dadá. Nulo como o discurso de um bebê. Década e meia depois, o Cabaret Voltaire tem seu primeiro elepê editado no Brasil. 'Code', por estes dias nas lojas, via EMI-Odeon.
As faixas correm ininterruptas a partir de 'Don't argue', vozes e ruídos armazenados em samplers criando uma chuva contínua de frases vocais e musicais. Os samplers do Cab não são roubados de alheios, e sim criados por eles mesmos. O som contínuo vai emendando 'Sex money freaks' (sobre os falsos pastores eletrônicos, incluída na trilha do filme 'Salvation', inédito no Brasil), com 'Thank you America', até chegar em 'Here to go', único exemplar mais visivelmente orientado para para rádios. Mas o outro lado, que finda em 'Code', mantém a integridade musical do grupo.
Para primeira incursão no mercado fonográfico a nível mundial (o CV sempre gravou por selos independentes), a dupla Kirk-Mallinder até que está bem contida e não desapontará seus antigos admiradores."

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