Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De Carona com João Gilberto


João Gilberto é uma figura das mais folclóricas da música brasileira. As histórias que são contadas a seu respeito, envolvendo suas manias e esquisitices, são tão comentadas quanto sua genialidade como músico. Umas das histórias mais interessantes que li sobre ele foi relatada pelo letrista dos Novos Baianos, Luiz Galvão, conterrâneo do mestre, de Juazeiro na Bahia, em seu livro Anos 70 Novos e Baianos. Como a presença de João está muito ligada à história da banda, João é personagem em várias passagens do livro. O ouvido sensível de João Gilberto é usado não só em favor de sua musicalidade, como também em seu dia-a-dia. Em um trecho do livro Galvão relata: "Meu pai me contava que joão, aos oito anos de idade, chegou na igreja durante a missa e, virando-se para trás, gritou na direção do órgão: "Errou! Errou uma nota, professora Emilinha!", referindo-se à organista."
Mas a história mais interessante fala de um passeio de carro com João na direção:
"Numa madrugada, João me convidou para um passeio de carro e, ao passarmos pelo primeiro sinal que se encontrava fechado, ele, que estava ao volante, não cortou a conversa e continuou na velocidade que vinha, passando na maior. A consciência com que ele dirigia me transmitia tranquilidade, tanto é que não me surpreendi por não vir nenhum carro na transversal, o que ocasionaria inevitavelmente uma colisão. Vieram o segundo e o terceiro sinais, também fechados para nós. João, da mesma forma, não considerou a sinalização, mantendo a velocidade com que vinha desde o primeiro sinal. Durante o percurso, não encontramos vivalma, em razão do adiantado da hora. Ao chegarmos no quarto sinal, ele foi diminuindo a velocidade, metendo uma segunda, depois uma primeira e pisando no freio, com o carro parando à beira da faixa do pedestre, embora o sinal, dessa vez, estivesse aberto. Para surpresa nossa, um carro passou voando a aproximadamente duzentos por hora, avançando o sinal vermelho. O que seria de nós, pensei, não fosse o anjo da guarda de João? Cheio de curiosidade, perguntei: "Como é que você sabia que vinha um carro?" João sorrindo respondeu: "Pelo som. Estou dirigindo com o ouvido."

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