Os Novos Baianos passaram pela gravadora Philips/PolyGram, cujo diretor artístico era Roberto Menescal. No livro Essa Tal de Bossa Nova, Menescal conta vários casos envolvendo artistas com os quais ele manteve relações pessoais e profissionais. Sobre os Novos Baianos ele deu o seguinte depoimento:
"Novos Baianos foi uma coisa muito nova no Brasil, tanto na música quanto no comportamento. Quando eles conheceram João Gilberto, tiveram uma grande influência dele e conseguiram misturar muito bem a proposta inicial com aquilo que eles tiraram do encontro com o João. E a partir dessa mistura eles começaram a fazer uma coisa mais puxada pro samba, meio 'Preta Pretinha'.
Eu estava acompanhando a carreira deles de longe, até que eles assinaram com a PolyGram para fazer um trabalho e me pediram para bater um papo com eles, fui visitá-los no apartamento onde moravam.
Quando eu cheguei, eles me receberam em uma sala completamente vazia e com as luzes apagadas. Alguém já chegou dizendo pra mim: 'Menesca, Menesquinha! Festinha, festinha!'.
Passamos pelos quartos, e em cada um deles havia três barracas de camping, e cada família morava em uma. Unindo uma barraca à outra, havia bandeiras de São João. O prédio onde eles moravam era simples, mas estavam em uma cobertura com um terraço grande. Eles me levaram para o terraço e nos sentamos em uma mesa grande com bancos, e em volta da gente tinha um montão de crianças brincando, filhos deles e dos amigos.
Batemos um papo, e em algum momento me ofereceram um café. Daqui a pouco um deles veio com um recipiente grande com o café e servia as canequinhas de plástico usando uma concha de sopa.
Naquele dia tinha gravação marcada na PolyGram, então lá pelas cinco horas da tarde eu tive que voltar para a gravadora. Saí de lá meio tonto, me sentindo um pouco mal, e achei que deveria ser por conta de tudo aquilo que eles estavam fumando.
Quando entrei no carro eu já estava completamente loucão. A sensação que eu tinha é que todos os carros estavam vindo na minha direção, então fui dirigindo por cima do canteiro ali do Aterro do Flamengo. Perto do Museu de Arte Moderna, tinha sempre segurança do exército, da marinha e da aeronáutica, e eu quase passei por cima dos caras com o carro. Loucura total!
Cheguei na PolyGram me sentindo muito louco. A gravação já havia começado e eu cheguei dizendo que não haveria gravação nenhuma e mandei todos pra casa. A essa altura, todo mundo já estava me estranhando. Fui para casa e não conseguia dormir. Passei num dia e meio me sentindo assim.
Passado um tempo, estava conversando com o maestro Waltel Branco, que havia acabado de fazer um arranjo incrível para os Baianos.
- Todo mundo aqui achou que você arrasou nesse arranjo!
- É interessante que o arranjo não tinha ficado muito bom, os Baianos não tinham gostado. Mas aí eu estava ali no apartamento deles, tomei um suco de laranja que eles me deram e acabei escrevendo ali mesmo esse arranjo. Eu até fiquei tão empolgado com o arranjo que fui pra casa, não conseguia dormir e passei a madrugada inteira cortando grama!
Depois eu fiquei sabendo que alguém ali havia botado ácido no meu café pra eu ficar mais 'alegrinho' e também no suco do Waltel. Eu fiquei tão bravo quando descobri! Mas era o auge do movimento hippie, uma época de muitas loucuras no mundo inteiro. Mas, depois que essa época passou, cada um foi se encontrando e fazendo as suas carreiras de uma forma muito bacana."
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