Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Eduardo Araújo - Rock, a História e a Glória (1976)

Em 1976 Eduardo Araújo vivia a sua fase mais roqueira. Após lançar o emblemático disco Pelos Caminhos do Rock, Eduardo lançava o disco seguinte, Sou Filho Deste Chão. Na época, a revista Rock, a História e a Glória tinha uma seção fixa intitulada Rock e Eu, onde era entrevistada uma figura ligada ao rock, seja artistas, jornalistas, radialistas, etc. Em sua edição nº 20 a revista entrevistou Eduardo Araújo, em matéria assinada pelo jornalista Caíto Gomide.
Na introdução da matéria foi destacado o seguinte texto:
"Do Rei do Rock de Minas ao Filho Deste Chão, passando por cachaça com farinha, lambretas, giradoras. Os Bons, Elvis e as raízes: os caminhos do ex-Garoto do Rock. 'Toda essa vivência culmina neste último trabalho, brasileiro num contexto universal, como Airto.' "
Segue abaixo a transcrição da matéria:
"Na adaptação do rock no Brasil, em termos de música, sempre foi conciliar as influências estrangeiras; no caso, o rock com ritmos originais, com as raízes.
Eduardo Araújo sempre buscou esse caminho, que por vezes é árido demais, mas num momento onde a criação musical do mundo inteiro se volta para o Brasil, é importante que se tenha um trabalho em resposta a essa exportação de influências.
Isso é uma preocupação capilar no novo disco de Eduardo Araújo, que soa nas caixas de som de seu estúdio, comprado após uma ligeira decepção com a música depois de seu disco Pelos Caminhos do Rock.
Eduardo fala com entusiasmo deste novo trabalho: funky, jazz, rock mas, principalmente, com uma pulsação brasileira inconfundível de capoeira, baião etc.
Seus músicos: Pestana (sax), Valdeci (baixo), Luciano (guitarra), Peninha (bateria), mais Eduardo & Silvinha concordam tacitamente que este novo disco, Sou Filho Deste Chão - nome de uma das faixas - traduz literalmente o ambiente como ele foi criado.
Importante investigar as origens desse trabalho, as quais se tornam claras, quando olhamos para trás na história de Dudu: quem não se lembra de Maringá, De Papo pro Ar, talvez as primeiras tentativas de conciliação do rock com a música brasileira?
Dudu estudava num internato em Belo Horizonte numa época sintomática: o filme Juventude Transviada impulsionava a juventude para um novo ritmo de vida; sua turma, a primeira a usar os ostensivos blusões de couro à James Dean, foi a primeira a tocar e dançar rock naquela época em parques públicos enquanto a polícia não chegava, escoltada por uma legião de lambretas.
'Neste momento, Mônica, filha de Eduardo: - 'Era parecida com a pestana sobre as 'giradoras': garupas das lambretas'.
Eduardo: ´Era parecida com a moto que meu pai tinha..., a resposta acompanhada da decepção de Silvinha de nunca ter andado na garupa de uma lambreta e da recordação de Pestana sobre as 'giradoras': gatas malucas que andavam nas garupas das lambretas.'
Nessa época, Dudu já tinha composto alguns de seus rocks, instintivamente com andamento de baião, por exemplo: - 'Cachaça com Farinha', que em um dos versos dizia: '... e o padre caiu no rock e todo mundo só pedia cachaça com farinha...'
E a carreira começa com 'Rock Around the Clock', cantado e dançado no programa 'Volta ao Mundo' de Rosana Tapajós, que focalizava a música dos Estados Unidos, com Dudu tendo um acesso de tosse em plena transmissão, devido ao primeiro cigarro fumado em sua vida. O passo seguinte foi a eleição de Rei do Rock de Minas Gerais e a formação de um grupo com Silvinha & Nivaldo Ornelas no sax.
Vindo para o Rio após uma fuga de casa cantou no programa Hoje É Dia de Rock, de Taumaturgo, que ficou impressionado com o swing diferente na música Be Bop a Lula, de Gene Vincent, produzido por uns gritos criados pelo 'Rei do Rock de Minas Gerais'.
Com o sucesso da primeira apresentação, veio a gravação do primeiro compacto: 'O Garoto do Rock', datado de 1958, com Baden Powell, Os Cariocas, onde a faixa 'Deixa o Rock' tinha inconfundível sotaque mineiro entre as inflexões vocais 'elvisianas'. Na mesma época, participava dos programas de Carlos Imperial: 'Os Brotos Comandam', 'Festival da Juventude', junto com Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps...
Em 65 com o sucesso da Jovem Guarda, Eduardo volta de seu retiro, como administrador de fazendas, a conselho de Imperial para encontrar seus velhos amigos como 'reis do yê yê yê'.
Grava O Bom, indiscutivelmente seu maior sucesso, e ganha um programa de televisão no extinto Canal 9 de São Paulo, dividindo a apresentação com uma velha amiga sua: Silvinha, depois namorada e esposa.
Nessa época, o sucesso de Eduardo era o inverso de Roberto Carlos com seu disco tocado na Boite Cave de São Paulo, e sua música curtida por uma certa elite que apreciava sua performance mais violenta que as peripécias juvenis de Roberto Carlos e do elenco da Jovem Guarda. Dessa época também consta a formação da primeira banda de rock, com 12 membros e logo depois o conjunto 'Os Bons', por onde passaram os guitarristas Lanny e Cacho Valdez e o baixista Villy Verdaguer.
Eduardo e Silvinha
Com a vazante da onda da Jovem Guarda, tenta um outro disco, A Onda É Bugaloo, com backgrounds de Tim Maia, e a faixa Você, que depois se tornaria hit de Tim Maia. Este disco era uma tentativa de introduzir o funky no Brasil e ainda numa apresentação no 'Programa RC7', com sua banda formada no Hotel Danúbio, causando o maior alvoroço nos bastidores do programa.
Eduardo atravessou a época das vacas magras da música brasileira de 69 a 71 vindo a gravar um LP em 71 com músicas tradicionais como 'No Rancho Fundo' e 'Ave Maria do Morro', arranjadas em ritmo de rock, esse primeiro passo concreto no rumo do som de hoje.
Desse disco até hoje, Eduardo gravou mais três lps, entre eles: Pelos Caminhos do Rock tendo problemas de divulgação e aceitação num sistema musical que não permite a evolução musical de seus astros. Seu novo lp, Sou Filho Desse Chão, será lançado em julho pela Copacabana, desta vez contando com sua banda bem coesa, apesar dos handcaps diversificados de seus músicos como o flautista Pestana e o baixista Valdeci, emersos da cultura urbana e da influência jazzística e de Luciano, guitarrista, companheiro de Pepeu, com estilo característico dos melhores choristas brasileiros, e por fim Peninha, baterista acompanhante de Peri Ribeiro e Leni Andrade, aluno de Walter Smetak.
'A realização de toda essa vivência musical, culmina neste último trabalho, diz Eduardo, onde eu procuro catalisar todo o conhecimento musical com o qual eu e meus músicos tivemos contato, colocando este disco essencialmente brasileiro, dentro de um contexto musical universal, característico das obras vanguardistas de músicos como Airto Moreira, Milton Nascimento e outros.' "


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