O disco que ficou conhecido como Álbum Branco, de 1968, é um álbum que apesar do bom resultado final, foi gravado num clima de grande discórdia pelos Beatles. Apesar de ser um álbum duplo, o que leva a entender que havia uma grande produção musical, e portanto, que os quatro integrantes estivessem numa fase de grande criação coletiva, a verdade é que a banda estava bastante dividida, e o clima de união não existiu no estúdio. O núcleo mais criativo do quarteto, a dupla Lennon/McCartney praticamente não trabalhava mais em dupla. Lennon estava cada vez mais envolvido com a heroína, e seu envolvimento cada vez mais próximo com Yoko, o levou a praticamente não se envolver com a gravação do álbum. A ausência do empresário Brian Epstein, morto no ano anterior, também ajudou a causar uma ruptura entre John e Paul, já que os dois não entraram em acordo com relação à gestão dos negócios da banda. Enfim, o clima estava péssimo.
Nos anos 80, a revista SomTrês lançou uma série de revistas-poster dos Beatles, cada uma contando a história de um álbum da banda. No edição sobre o Álbum Branco, esse foi o texto que acompanha o poster, que media 1,10 x 0,90:
"- Ali não há nada de música dos Beatles (...) É sempre John e a Banda, Paul e a Banda, George e a Banda... E eu gostei muito de trabalhar assim.
A declaração, referente ao chamado Álbum Branco, é de John Lennon. Foi durante uma entrevista, anos depois do lançamento do LP, primeiro álbum duplo dos Beatles. Era também o LP de estreia do selo Apple que, até então, só havia editado o compacto 'Hey Jude'/Revolution', cerca de três meses antes.
Tão controvertido quanto os trabalhos anteriores (Sargent Peppers, Magical Mistery Tour), o Álbum Branco, como ficou conhecido) foi gravado de maio a outubro de 1968. As gravações não foram muito tranquilas e já prenunciavam o fim: começavam as crises que levariam à ruptura de um dos maiores fenômenos da música contemporânea.
Poster que acompanha o disco |
Chegou a acontecer mesmo uma separação dos Beatles, pois Ringo deixou o grupo, aborrecido com as críticas de Paul a seu estilo de tocar. Alguns dias depois, porém, ele voltou, pois os três pediram, repetindo incessantemente que ele era o melhor baterista do mundo. Mas os problemas não acabavam aí. Desde a morte do empresário Brian Epstein, ocorrida no ano anterior, que o grupo estava meio órfão. Paul estava atuando como líder, mas isso não era suficiente e estavam todos baratinados. Sem Brian, também a parte financeira da Apple estava mal administrada. E o pior é que quatro parceiros musicais se viram na obrigação de atuarem também como sócios de uma empresa. E nisso, eles não eram bons. Mas mesmo sobre a contratação de um novo empresário para a firma houve divergências: Paul queria seu futuro sogro, Lee Eastman, e John, Allen Klein.
O fato é que na hora de gravar e editar o LP ninguém estava muito entusiasmado, mas havia um contrato a cumprir com a EMI. O resultado é bem diversificado, mas em termos de qualidade, é homogêneo. E apenas reforça o que já sabemos: só gênios podem conseguir que um trabalho desleixado resulte num produto do nível do Álbum Branco.
A diversidade das faixas também atesta a genialidade dos Beatles: conseguem passar do rock pesado ('Helter Skelter') às baladas ('Blackbird' e 'Mother Nature's Son'), via Hollywood ('Good Night') em contraste com a loucura de 'Revolution 9'.
John e Yoko |
Foram gravadas cerca de 40 faixas, a maioria das quais, composta durante a viagem à Índia, quando estiveram com Maharishi Mahesh Yogi ('homenageado' por Joh Lennon em 'Sex Sadie'). Algumas foram, então, eliminadas, entre as quais, 'What's the New Mary Jane', que seria lançada em compacto, mas continua inédita até hoje. Restaram 31: 4 de George, 1 de Ringo e 26 assinadas por John e Paul. Apenas assinadas, pois não compuseram juntos (com excessão de 'Birthday'). Em geral, o autor é aquele que faz os vocais principais. Na verdade, cada um fez o que quis nesse disco. E, como sempre, acertou.
A capa branca é uma compensação à parafernália dos últimos trabalhos e traz apenas o título do LP em relevo. Dentro, os títulos das faixas e uma foto preto e branco de cada um. Como encartes, as mesmas fotos em cores e um poster com uma colagem que já foi chamada de 'versão visual de Revolution 9'. Do outro lado do poster, as letras. É ver, ouvir e conferir mais uma vez. Beatles 4 ever. "
Bom saber.
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