Manacéa foi um grande compositor de belos sambas. Portelense, e componente da Velha Guarda de sua escola, Manacéa fazia parte de um trio de irmãos, ao lado de Mijinha e Aniceto, cujo talento para compor sambas antológicos mostra que muitas vezes a veia musical vem de família. No dia 10 de novembro de 1995 Manacéa, o último remanescente da família talentosa, nos deixou e o Jornal do Brasil publicou uma pequena homenagem ao grande compositor em uma matéria assinada pelo jornalista e crítico Tárik de Souza, intitulada "Corte na Raiz do Samba", em que ele fala um pouco da vida e trajetória desse grande compositor, que segundo o jornalista, "trabalhava com minúcia de ourives". Abaixo a matéria:
"Lá se foi Manacéa, o terceiro dos irmãos bambas da Portela. Mijinha e Aniceto cantaram pra subir antes e agora o trio está completo lá em cima. Sob a batuta de Paulo Benjamim de Oliveira, o Paulo da Portela, o embaixador das escolas de samba junto às autoridades do asfalto, deve estar rolando um pagode daqueles muitos a que assistiu no quintal da casa apinhada e generosa de Manacéa, em Madureira. D. Doca, D. Surica, o lendário Chico Sant'Ana (autor do emblemático Saco de Feijão), Casquinha ( o que levou o Recado, com Paulinho da viola), Argemiro, seu Alberto Lonato, o estilista Monarco com sua voz de barítono, quase baixo (parceiro póstumo de Paulo da Portela), o pessoal da Velha Guarda da escola, meia dúzia de instrumentos e vozes crestadas pela labuta.
Nascido em Pedra de Guaratiba, filho de um ferroviário que trabalhava na soca (bater os dormentes do trem), Manacé José de Andrade não compunha em série. Autor de sambas enredo campeões na Portela, em 1949 (A Descoberta do Brasil) e 1953 (Brasil de Ontem), ele não se empenhou em fazer carreira. Trabalhava com a minúcia de ourives sambas, duplamente, sem pressa para serem degustados no canto coletivo. Só ficou mais conhecido (e foi mais gravado) no revival do samba de raiz nos anos 70, depois que Paulinho da Viola, o Paulo da Portela dos tempos modernos, produziu um histórico disco com a Velha Guarda. Por fatalidade, Manacéa morreu na véspera da concessão, pela Assembleia Legislativa, da Medalha Tiradentes ao sócio número um da Portela, Claudio Bernardo da Costa, de 90 anos, na sexta-feira passada.
A Velha Guarda da Portela se transformou numa reserva sonora do samba de raiz. Sua participação de destaque mais recente foi na faixa Esta Melodia, que encerra como um épico Cor de Rosa e Carvão, de Marisa Monte. Beth Carvalho embarcou em seu Carro de Boi, Zezé Motta celebrou a Manhã Brasileira, Luis Carlos da Vila exaltou Natureza, três sambas belíssimos. Mas o estouro se deu na gravação de Cristina Buarque de Quantas Lágrimas (1975). Obra-prima que deve ser derramada à passagem deste nobre cultor do samba sob a forma de arte."
É,todos,querendo ou não,se vão.
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