João Gilberto sempre teve muito cuidado em relação às novas edições de seus discos. Se não houver uma autorização dele para que os produtos cheguem ao mercado, normalmente coisas ligadas à um apuro técnico das edições, o artista logo entra na Justiça, buscando recolher do mercado o material lançado sem o seu aval. Recentemente ele entrou na Justiça para recolher um disco seu, que segundo ele, teria visto por acaso em uma visita a uma livraria no Rio, embora muita gente não consiga imaginar João, como um cidadão qualquer, frequentando uma livraria na cidade.
A matéria que segue abaixo, publicada Jornal do Brasil em sua edição de 12/07/98, assinada por Cláudio Cordovil, fala de um processo que João estaria movendo contra uma gravadora mexicana por lançar álbuns seus sem o seu consentimento. Nesse caso, trata-se do uso indevido de seu nome, sem que recebesse pelos direitos autorais. Segue a matéria:
"Muito se tem falado da pirataria praticada por delinquentes, mas pouco se menciona a pirataria institucional, cometida pelas próprias gravadoras, ao melhor estilo casa com telhado de vidro. O cantor João Gilberto, o papa da bossa nova está tendo dores de cabeça com a gravadora mexicana Orfeon Videovox que, sem autorização expressa dele, tem lançado CDs com faixas de João Gilberto, indiscriminadamente distribuídos nos Estados Unidos e Japão, pelo que se sabe no momento.
Tudo começou quando João Gilberto, então residente no México, assinou contrato com a gravadora mexicana, em abril de 1970, para a realização de um LP com 12 faixas, intitulado Ela é carioca. Sem consentimento do artista, a gravadora lançou posteriormente dois CDs, cada um com uma faixa do artista, aproveitada do material gravado para Ela é carioca, em uma espécie de coletânea da bossa nova e da MPB. Na capa, o nome de João Gilberto aparece em destaque, juntamente com a expressão 'Brazil Samba Jazz', como possível chamariz pra as vendas. O disco continua em catálogo e, até hoje, João Gilberto não viu a cor do dinheiro.
Os discos citados na matéria |
Solicitado pela advogada Gisele de Carvalho a apresentar o relatório de prestação de contas, a gravadora forneceu dados imprecisos, que dariam ao artista o direito de receber apenas US$ 1.632. Além disso, não foram apresentados dados de prestação de contas referentes a outros países para os quais o México exporta, como Estados Unidos, Japão e países da Europa e América do Sul. No Brasil, por exemplo, a gravadora PolyGram havia sido licenciada pela Orfeon Videovox para distribuição de Ela é carioca. As prestações de contas apresentadas, referentes a vários anos, também não foram corrigidas monetariamente. No Japão, Ela é carioca foi licenciada para a gravadora Bomba Records, um nome sugestivo, pela Orfeon Videovox.
Gisele Carvalho contratou, no México, os serviços do advogado Gabriel Larrea. Os advogados de João Gilberto querem que a Orfeon Vedeovox pare de licenciar e autorizar a reprodução de Ela é carioca e de Brazil Samba Jazz por outras gravadoras e que sejam pagos os direitos autorais devidos.
João Donato, Jorge Benjor, Ivan Lins, Chico Buarque, Roberto e Erasmo e Zé Kéti são alguns dos compositores que têm suas músicas gravadas em Brazil Samba Jazz. Resta saber se recebem direitos autorais.
Recentemente, João Gilberto moveu uma ação ordinária contra a EMI Music que culminou em um mandado de busca e apreensão de todos os CDs do artista fabricados pela gravadora desde 1988. Na ação, João Gilberto e seus advogados reivindicaram a suspensão da fabricação e distribuição de todos os CDs lançados pela EMI, no país e no exterior, sob a pena de multa diária. Além disso, a título de indenização por perdas e danos, a gravadora seria condenada, pela ação proposta, a reverter, em favor do artista, com juros e correção monetária, toda a receita gerada ilegalmente com a comercialização em CD de sua obra e lucros cessantes.
No final do ano passado, houve uma audiência de conciliação entre as partes e a gravadora EMI-Odeon ficou de apresentar uma proposta, fato que, até o momento, não ocorreu. Os advogados de João Gilberto entraram, então, com uma petição ao juiz. 'Pelo rito processual, ele deve determinar o saneamento do processo, convocar uma perícia e definir a sentença', explicou Gisele de Carvalho. Com a gravadora EMI Music proibida de usar as matrizes das gravações do artista, João Gilberto vai regravar até o fim do ano pela PolyGram sua trilogia inicial lançada originalmente entre 1959 e 1961. Ele receberá em torno de US$ 200 mil por disco, o mesmo valor do cachê de seus shows. João pretende gravar também um disco de duetos com convidados especiais. "
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