Itamar Assumpção é um dos principais nomes do movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulista. Seu disco "Beleléu Isca de Polícia" é um clássico do movimento, e considerado um dos grandes álbuns de música alternativa brasileira. Músico intuitivo e criativo, Itamar, apesar de sua morte precoce, deixou uma marca muito forte, e é sempre lembrado quando se fala em um músico que sempre navegou contra a maré, seguindo sua intuição musical e criatividade, sem fazer concessões ao mercado, apenas seguindo suas convicções musicais. Em 1983 a revista Mixtura Moderna, trazia uma matéria com Itamar, intitulada "Itamar às próprias custas S/A" (título do disco que ele estava lançando), assinada por Matias José Ribeiro. Segue abaixo:
"Itamar Assumpção não veio de Marte! Quem diz isso é o próprio Itamar Assumpção. Ele quer deixar claro que sua música não surgiu do nada, nem veio do espaço. Quer dizer que tem história - uma história que começou muito antes de 13 de dezembro de 1949, quando nasceu em Tietê, SP.
Itamar descende diretamente de angolanos, seus bisavós vieram em navio-negreiro da África-mãe. Seus avós, embora beneficiados pela Lei do Ventre-Livre, viveram ainda no meio escravo. E seu pai, em pleno século XX, precisou ainda lutar capoeira de rua, de matar, para sobrevivência mesmo. Mais, o pai de Itamar é pai-de-santo, desde cedo ele viveu num ambiente de misticismo negro, ouvindo batuques, absorvendo as coisas da tradição negra afro-brasileira. Mais tarde, já no Paraná, outras informações, mais lados para uma mesma moeda. Música caipira, iê-iê-iê, jovem guarda, os clássicos da MPB. E um cara fundamental: Jimi Hendrix.
'Eu ouvi muito Hendrix, muito mesmo. Eu já transava um pouco de música, tinha facilidade e quando eu conheci Hendrix fiquei preocupado... eu gostava. Não sabia porque, mas gostava e ouvia mais. Mas a música dele tinha muito ruído, eco... eu não entendia. O ouvido não estava acostumado...'
'Meu recurso, depois de ouvir muito, foi separar os instrumentos, no ouvido. Ouvir só a guitarra, depois só o contrabaixo, só a bateria. Aí é que fui ver que Hendrix era um troço muito louco... Hendrix, esse exercício foi o toque. Aí eu realmente comecei a me preocupar com ouvir música.'
Dessa louca mistura de coisas tantas e outras como o teatro, a dança, dentro de todo um processo de vida, é que surgiu o Itamar Assumpção que conhecemos. O compositor-intérprete original e inovador, que dá o passo adiante da evolução da música popular com sua música que é só ritmo, negra, vigorosa, complexa. O Itamar Assumpção dono de uma postura cênica, de um visual novo. Agressivo, misto de marginal e bom sujeito, 'Benedito João dos Santos Silva Beleléu, vulgo Nêgo Dito Cascavel'.
'Eu sou um compositor popular. Me considero popular porque vim do povo, sou pobre, de Tietê. Mas é só uma questão de origem, de formação de vida. Meu trabalho é popular mas não é folclore, tenho consciência de que estou dando um passo à frente em termos de invenção. Sei que minha linguagem é desenvolvida.'
'Por acaso eu tive contato com coisas bem primitivas da cultura negra. Isso numa época em que já existe vídeo-disco! Houve época em que essa mistura toda, batuque negro & Hendrix & jovem guarda me incomodava. Eu já cantava, sempre fui intérprete e ficava; 'será que eu vou compor?'. Aí fui vendo as minhas possibilidades, fazendo algumas coisas. Mas achava que não acontecia nada quando eu cantava minhas músicas. Depois me achei, vi que sou um compositor de ritmo, não de canções. Já o visual foi uma transação espontânea, que foi levada para o palco desse jeito desde a primeira vez. É uma coisa que nasceu comigo, lá em casa se dançava muito.'
A novidade visual de Itamar só conhece quem o viu no palco, raras vezes na televisão. Inclusive na Globo: ano passado ele apresentou sua 'Denúncia dos Santos Silva Beleléu' no MPB-Shell - assustou o júri global, que lhe deu o 'prêmio pesquisa', ironia do sistemão para para os verdadeiros inovadores. A novidade sonora do Assumpção, por sua vez, é mais acessível. Em 1980 ele lançou o LP Beleléu, independente ainda, sob o selo Lira Paulistana, só com composições suas. Agora acaba de aprontar o segundo LP, mais independente ainda. O título não poderia ser mais explicativo: Às Próprias Custas S/A.
No novo disco, Itamar Assumpção aprofunda temas sempre presentes em sua música: negritude, consciência negra, marginalidade social, liberdade, repressão, democracia, situação política - 'me coloco como um artista, refletindo os problemas de todos'. Simultaneamente, ao se assumir editor e produtor fonográfico de seu trabalho, Itamar procura se adaptar ao nosso tempo. Recusou 'propostas ridículas' de gravadoras e fugiu também dos esquemas alternativos, porque não aceita que seu trabalho de criação entre numa cooperativa.
'Minha arte não pode se submeter a esse tipo de coisa. Quero ter liberdade para criar. É uma reivindicação antiga, que sempre foi utópica mas que hoje está aí. Sou negro e pobre, de um estrato sempre pressionado socialmente; justamente por esse motivo pude perceber melhor que esse espaço existe - é ruço de se enxergar, mas tá aí.'
'Claro que essa liberdade não é fácil. Mas é viável. Não posso, por exemplo, querer sobreviver do disco; isso me obrigaria a ter uma burocracia de gravadora. Sobrevivo do nada, como eu sou. Esse sistema não me interessa, os meios é que têm que se submeter à arte. Mas só não caí na rede por estar bem escaldado, perdi a ingenuidade há muito tempo'. "
A novidade visual de Itamar só conhece quem o viu no palco, raras vezes na televisão. Inclusive na Globo: ano passado ele apresentou sua 'Denúncia dos Santos Silva Beleléu' no MPB-Shell - assustou o júri global, que lhe deu o 'prêmio pesquisa', ironia do sistemão para para os verdadeiros inovadores. A novidade sonora do Assumpção, por sua vez, é mais acessível. Em 1980 ele lançou o LP Beleléu, independente ainda, sob o selo Lira Paulistana, só com composições suas. Agora acaba de aprontar o segundo LP, mais independente ainda. O título não poderia ser mais explicativo: Às Próprias Custas S/A.
No novo disco, Itamar Assumpção aprofunda temas sempre presentes em sua música: negritude, consciência negra, marginalidade social, liberdade, repressão, democracia, situação política - 'me coloco como um artista, refletindo os problemas de todos'. Simultaneamente, ao se assumir editor e produtor fonográfico de seu trabalho, Itamar procura se adaptar ao nosso tempo. Recusou 'propostas ridículas' de gravadoras e fugiu também dos esquemas alternativos, porque não aceita que seu trabalho de criação entre numa cooperativa.
'Minha arte não pode se submeter a esse tipo de coisa. Quero ter liberdade para criar. É uma reivindicação antiga, que sempre foi utópica mas que hoje está aí. Sou negro e pobre, de um estrato sempre pressionado socialmente; justamente por esse motivo pude perceber melhor que esse espaço existe - é ruço de se enxergar, mas tá aí.'
'Claro que essa liberdade não é fácil. Mas é viável. Não posso, por exemplo, querer sobreviver do disco; isso me obrigaria a ter uma burocracia de gravadora. Sobrevivo do nada, como eu sou. Esse sistema não me interessa, os meios é que têm que se submeter à arte. Mas só não caí na rede por estar bem escaldado, perdi a ingenuidade há muito tempo'. "
É mais um que se foi.
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