O clarinetista Paulo Moura foi um dos músicos mais respeitados do Brasil. Sempre solicitado para participar de gravações de grandes músicos brasileiros, Paulo Moura sempre primou pelo apuro técnico e uma musicalidade nata de quem conhecia profundamente a música e suas nuances.
Em 1980 a revista Música nº 44 trouxe uma matéria, assinada pela jornalista Cleide Nascimento, intitulada "Paulo Moura sem qualquer apelo comercial', que transcrevo abaixo:
"Participar do show 'Diário de Bordo', na Sala Guiomar Novaes, foi para o clarinetista Paulo Moura uma oportunidade de deixar bem clara sua postura atual: simplesmente fazer música, sem nenhuma preocupação de que contenha qualquer apelo comercial, ou possa ser gravada como garantia de vendagem. Assim, ao abrir o espetáculo, no último 24, Paulo Moura apresentou composições praticamente desconhecidas do público, pois não entra num estúdio de gravação desde 1976, quando fez o elogiado 'Confusão Urbana, Suburbana e Rural'.
Ao lado da atriz Miriam Pérsia no espetáculo 'Diário de Bordo', Paulo Moura toca algumas de suas composições recentes, além de interpretar músicas de outros autores, como Pixinguinha, Chopin, Baden Powell e Heitor Villa-Lobos. Os eruditos Villa-Lobos e Chopin não devem ser considerados estranhos no repertório selecionado pelo saxofonista.
Foi ele o primeiro artista a gravar, num instrumento de sopro, em 1958, 'Moto Perpetuo', de Paganini. Também surpreendeu muitos críticos, em 1960, ao fazer um disco somente com composições de Radamés Gnatalli. Nem por isso, entretanto, deixou de ser olhado com estranheza pelos 'puristas'. Depois de vinte e cinco anos de carreira não foi compreendido como deveria.
'Não tenho preocupação de fazer sucesso. Talvez seja meu erro'. O gosto pela música Paulo Moura adquiriu em pequeno, observando seu pai, mestre da banda da cidade onde nasceu, São José do Rio Preto. Naquele tempo, ficava horas seguidas admirando o trabalho no coreto da praça principal.
Com dezesseis anos já possuía o controle do clarinete, o primeiro instrumento a colocar na boca. Nessa época, morava no Rio, cidade que nunca mais deixou de considerar a sua. Mesmo quando aos dezessete anos, foi para os Estados Unidos terminar seu curso de música e de lá seguiu viagem para a Europa, passando pela França, Grécia e União Soviética.
A viagem foi muito boa para Paulo Moura, que aproveitou e aprofundou seus estudos de jazz. não que admirasse somente a música negra americana, mas nesse tempo, no Brasil, para um músico se profissionalizar era necessário que dominasse a linguagem jazzística.
'É gozado, porque à proporção que você estuda jazz, vai achando a música popular brasileira cada vez mais quadrada. Um exemplo? o maxixe tocado por Pixinguinha.'
Mas Paulo Moura não queria saber apenas de jazz, vai achando a música popular brasileira cada vez mais quadrada. Sua formação terminava rompendo esses limites. Principalmente porque no Rio foi morar na Tijuca, perto do Morro do Salgueiro. E também frequentava habitualmente as 'bossas', espécie de festas populares, dos subúrbios cariocas, onde os músicos, geralmente negros, compareciam para tocar e comer. Essa troca de informação musical terminou dando uma outra visão ao artista. A de que a arte negra não é rebuscada, mas muito objetiva, simples e enxuta. Um aprendizado que passou a colocar em seus discos.
'Se a música negra costuma irradiar uma energia muito forte, espontânea, a música popular branca, do europeu, é justamente a tentativa de pegar esta energia e trabalhá-la sem nenhum esforço - claro que o resultado deixa a desejar.'
Paulo Moura diz estar preocupado cada vez mais com a busca de uma característica nacional para a música popular, 'que desenvolva a sensibilidade do povo'. A nacionalidade seria aplicada no modo de se interpretar os instrumentos, de composição e mesmo de canto.
Conhecedor do Brasil como é, Moura não se preocupa com o fato de não estar participando da atual efervescência pela qual passa a música popular brasileira.
Por se considerar, dentro deste quadro, um músico privilegiado, assumiu definitivamente a postura dos músicos de jazz, do início do século. Compões somente para mostrar suas músicas em espetáculos, onde as pessoas comparecem para realmente escutar um trabalho que não se preocupa em andar no moda: 'E minha música não dá pra ser dançada'."
Foi ele o primeiro artista a gravar, num instrumento de sopro, em 1958, 'Moto Perpetuo', de Paganini. Também surpreendeu muitos críticos, em 1960, ao fazer um disco somente com composições de Radamés Gnatalli. Nem por isso, entretanto, deixou de ser olhado com estranheza pelos 'puristas'. Depois de vinte e cinco anos de carreira não foi compreendido como deveria.
'Não tenho preocupação de fazer sucesso. Talvez seja meu erro'. O gosto pela música Paulo Moura adquiriu em pequeno, observando seu pai, mestre da banda da cidade onde nasceu, São José do Rio Preto. Naquele tempo, ficava horas seguidas admirando o trabalho no coreto da praça principal.
Com dezesseis anos já possuía o controle do clarinete, o primeiro instrumento a colocar na boca. Nessa época, morava no Rio, cidade que nunca mais deixou de considerar a sua. Mesmo quando aos dezessete anos, foi para os Estados Unidos terminar seu curso de música e de lá seguiu viagem para a Europa, passando pela França, Grécia e União Soviética.
A viagem foi muito boa para Paulo Moura, que aproveitou e aprofundou seus estudos de jazz. não que admirasse somente a música negra americana, mas nesse tempo, no Brasil, para um músico se profissionalizar era necessário que dominasse a linguagem jazzística.
'É gozado, porque à proporção que você estuda jazz, vai achando a música popular brasileira cada vez mais quadrada. Um exemplo? o maxixe tocado por Pixinguinha.'
Mas Paulo Moura não queria saber apenas de jazz, vai achando a música popular brasileira cada vez mais quadrada. Sua formação terminava rompendo esses limites. Principalmente porque no Rio foi morar na Tijuca, perto do Morro do Salgueiro. E também frequentava habitualmente as 'bossas', espécie de festas populares, dos subúrbios cariocas, onde os músicos, geralmente negros, compareciam para tocar e comer. Essa troca de informação musical terminou dando uma outra visão ao artista. A de que a arte negra não é rebuscada, mas muito objetiva, simples e enxuta. Um aprendizado que passou a colocar em seus discos.
'Se a música negra costuma irradiar uma energia muito forte, espontânea, a música popular branca, do europeu, é justamente a tentativa de pegar esta energia e trabalhá-la sem nenhum esforço - claro que o resultado deixa a desejar.'
Paulo Moura diz estar preocupado cada vez mais com a busca de uma característica nacional para a música popular, 'que desenvolva a sensibilidade do povo'. A nacionalidade seria aplicada no modo de se interpretar os instrumentos, de composição e mesmo de canto.
Conhecedor do Brasil como é, Moura não se preocupa com o fato de não estar participando da atual efervescência pela qual passa a música popular brasileira.
Por se considerar, dentro deste quadro, um músico privilegiado, assumiu definitivamente a postura dos músicos de jazz, do início do século. Compões somente para mostrar suas músicas em espetáculos, onde as pessoas comparecem para realmente escutar um trabalho que não se preocupa em andar no moda: 'E minha música não dá pra ser dançada'."
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