Maciel - Eu não sabia desse lance. Houve até ameaça de prisão pra vocês cantarem?
Baby - Foi porque o pessoal do festival não tinha dinheiro pra pagar os artistas. Então, eles iam ser presos porque ninguém ia fazer e tinha milhões de pessoas na plateia esperando. A polícia queria prender os caras que estavam produzindo. Eles não pagaram a ninguém e iam sujar o nome de Guarapari que está aí, né? Negócio de turismo e tal...
Galvão - Outro negócio legal paca é que a gente dizendo que ia fazer o show sem grana, botou muita gente na parede. Muita gente que estava a fim de fazer o som com grana na frente, no outro dia queria fazer de qualquer maneira. Foi a maior loucura.
Baby - Aí começou a maior loucura mesmo, nego a querer fazer, hippie paca. A maior loucura.
Maciel - Apesar do grande aparato repressivo que cercou esse festival, depois eu encontrei com as pessoas e elas me dissertam que tinham gostado muito, que tinham curtido demais lá. Não parecia que ia ser bom um dia antes de começar o festival.
Baby - Mas foi bom justamente porque aconteceu o seguinte: sóm ia entrar todo mundo pagando. No fim, só uma minoria pagou e entraram milhões e milhões de hippies, que o prefeito mandava entrar, e o festival foi um sucesso por isso. Foi a maior festa mesmo, todo mundo dando a maior quebra, dançando, foi maravilhoso. As praias incríveis, gente como que na rua, muita moqueca. Deus me livre! Nunca vi.
Glauber - Paulinho, pro pessoal que está conhecendo vocês: podia explicar como é que vocês trabalham, quem faz as músicas, as letras?
Paulinho - Ah, isso aí é muito maneiro, é o seguinte: as letras Joãozinho é que faz, mas eu acredito que ele já recebe prontas, sacumé? Quando ele sai pra um lugar e olha pro céu, já chega tudo tinindo, trincando. Depois, ele parte pra cima de mim e diz: "olha, acabei de fazer um lance aqui e tal'. Depois, ele chega e diz: "Se lembra daquele papo que a gente bateu ontem de tarde? Eu vou botar botar esse pedaço aqui na letra também.' Então, fica sendo também minha a letra. Gato é que se invocava com isso: "pô, bicho, você bota uma vírgula na música e bota a parceria também com o cara?" Mas acontece o seguinte: tem uma música que se chama Antes de A e o que esse bicho faz é a minha cara, eu sei que é. A única palavra, por exemplo, que tinha na minha música e que não passou na censura foi a única palavra que eu botei na música, sacumé? Ele me perguntou dentro do ônibus, viajando pra Bahia: 'diga uma palavra assim parecida com debochado". Aí não passou, sacumé? Agora ficou; "deixe de estar me azucrinando só porque eu estou tão apaixonado". Agora, Moreira é o seguinte: eu gosto muito de batucar, inclusive toco paca tumbadora. Tem gente que só toca tumbadora, eu quase nunca toco, mas sei que eu toco paca, legal mesmo. Então, a gente faz muito swing junto, mas Moreira é uma pessoa pura, é um santo. O Samaritano pegou na mão dele e disse: "esse homem é santo".
Baby - Aí pegou na sua e disse: "é o Deus do amor".
Paulinho - É. E disse assim pra Joãozinho; "olha, você se cubra, não ande sozinho não, porque você bota muita gente pra derreter e nego lhe apaga". É um barato.
Maciel - Quer dizer que Joãozinho á barra mais pesada de vocês?
Paulinho - Eu acho o seguinte: Deus entra pelos sete buracos da nossa cabeça mesmo, sacumé? A gente saca as barras todas, porque senão não pode ficar junto. É aquele papo que a gente estava batendo lá fora. Se não tiver todo mundo ligado numa, como é que pode ficar junto? Se não tiver todo mundo sacando os lances, como é que pode ficar junto? Não é por causa da gente não, porque eu não tenho nada a ver com as pessoas, elas podem ficar junto de mim, mas é porque elas não aguentam ficar junto de mim. Eu sou doido mesmo, as pessoas não aguentam ficar junto de nós, tá sabendo? É isso.
Galvão - Esse negócio de ser a barra mais pesada, não é nada disso. Sabe o que é? Outro dia eu levei Paulinho e Baby pra passarem o carnaval em Juazeiro. A gente estava jantando num barzinho, um rapaz chegou e deu um beijo em Baby e nós rimos paca. O cara chegou e deu outro beijo em Baby. O cara tava meio bêbado. Aí, Baby chegou e disse: "que beijação é essa, você está doente de beijação?" O cara falou: "dei um, dei dois e dou quantos eu quiser". Eu falei: 'bicho, se pique daqui senão eu vou lhe quebrar todo". Aí eu dei um murro no cara. Ele ficou lá zangado e saiu. Quando eu fui embora, ele me chamou: "eu queria falar com você". Eu disse: "pois não". Ele puxou uma faca e quis me matar. Eu saí correndo, procurando uma pedra e não achava. Aí eu vi um buraco aberto, era uma porta. Aí, eu vi um pau e disse: "tou salvo". Mas um cara apareceu, botou, botou a mão no meu peito e disse: "aqui você não entra não". Aí eu me esqueci e falei: "tá legal, qual é a sua, rapaz?" Quando eu me toquei que tinha um cara correndo atrás de mim, eu olhei pra frente e vi um paralelepípedo. Só na hora que eu não preocupei é que eu achei. Aí eu voltei com o paralelepípedo. Mas o cara tinha e esquecido e estava atrás de Baby e Paulinho com a faca. No outro dia eu cheguei no clube e e me encontrei com o rapaz. O rapaz me disse; 'me desculpe e tal". Eu disse: "tá legal. Agora você está puro, pode me dar um tapa, não tem problema. Eu vou lhe mostrar que lutador toma murro e não se zanga. Pode me dar um murro que agora não é nada.". Aí, o cara falou: "não, nós somos amigos". E ficamos amigos. Agora, aquele cara que não deixou eu entrar na porta, não deixou que eu me salvasse, na hora em que eu ia morrendo, podia me salvar ou me matar, no entanto ele não tinha raiva de mim, nem me conhecia direito, aquele cara vai se campar. Vai se campar não porque eu deseje nada a ele, porque eu nem tou me lembrando dele, mas porque ele não tá legal. Qualquer hora dessas ele se campa com uma brincadeira que vai fazer. Eu disse isso de tarde. De noite esse cara levou uma garrafada no rosto e foi para o hospital.
(continua)
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